Ele é tão popular no Brasil que tem até um site ‘.br’. O escritor americano James Hunter é daqueles conhecidos mais por sua obra – o livro O Monge e o Executivo, que vendeu 3,5 milhões de exemplares no mundo e frequenta a lista dos mais vendidos desde seu lançamento, em 2004. No caso, um livro que teve um título não traduzido, mas adaptado, com quase mais sucesso do que o original, The Servant. Tanto que Hunter prepara a publicação de uma continuação que deverá se chamar, em inglês, The Monk and The Manager.

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Um dos conceitos do livro é a liderança servidora, que recomenda inspirar e influenciar as equipes em vez de aplicar métodos de comando e controle, baseados na autoridade. Hunter faz palestra nesta quinta-feira na Convenção Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas, em Gramado. Confira trechos de entrevista por e-mail.

Zero Hora – O conceito de liderança servidora expresso em

O Monge e o Executivo (lançado em 1998 nos EUA) ainda tem espaço no ambiente corporativo em que líderes, muitas vezes, têm de tomar decisões que colocam o lucro em primeiro lugar?

James Hunter – Sim! As ideias expressas em meu livro têm sido válidas por milhares de anos e são mais necessárias agora do que nunca. As pessoas estão se revoltando contra más lideranças em países como Tunísia, Egito, Síria e até mesmo no Brasil. Hoje, as pessoas estão exigindo mais de seus líderes nos aspectos políticos e de negócios.

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ZH – Quais as maiores dificuldades que as grandes empresas enfrentam para desenvolver líderes?

Hunter – A maior dificuldade é a compreensão do fato de que liderança é conhecimento, uma habilidade adquirida, e como tal, precisa de tempo e esforço para ser aprendida. Quando as empresas aceitam essa realidade, podem alocar os recursos necessários para auxiliar as pessoas.

ZH – As empresas estão investindo o suficiente para preparar seus líderes? Essa preparação melhorou nos últimos anos?

Hunter – Não. Nos EUA, está melhorando bastante, mas ainda há muito a ser feito. Acredito que o Brasil avança nessa direção, o que é evidenciado pelo interesse por meus livros no país. Porém, é necessário aumentar esse ritmo para criar grandes líderes.

ZH – O estilo de liderança brasileiro é muito diferente do americano?

Hunter – A liderança no Brasil é mais do tipo “comando e controle” do que a liderança servidora exige. O mesmo ocorre nos EUA. A diferença é que lá a mudança já ocorre há quatro décadas, e o movimento em direção a uma liderança melhor está se dando mais rápido do que no Brasil. Tenho esperança que o Brasil aumentará a percepção para acelerar esse processo.

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ZH – Quando o seu novo livro será lançado?

Hunter – Estou com cerca de 75% do livro pronto e espero completá-lo até o final do ano. A história será sobre o retorno ao monastério e os personagens discutirão sobre mudanças ou a falta de mudanças em suas vidas. O monge irá ensiná-los mais sobre a liderança servidora, assim como a desenvolver uma cultura de equipe de alta performance em seus lares e ambientes de trabalho.

ZH – Apesar do sucesso de seu livro, ainda há muitos casos de empregados que querem pedir demissão de seus chefes e não necessariamente de seus empregos. Por que é tão difícil de aplicar na vida real os princípios abordados em seus livros?

Hunter – A resposta é simples: a liderança servidora requer esforço. Mandar nas pessoas e gritar com elas é fácil e requer pouco esforço, como qualquer criança de dois anos lhe dirá. Construir relações autênticas com empregados exige muito.

O grande líder servidor trabalha muito duro para chegar nesse nível. Líderes fracos são essencialmente líderes preguiçosos.

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ZH – É muito difícil usar a autoridade de líder sem acabar em abuso de poder?

Hunter – Se as pessoas têm poder, há uma oportunidade para abuso, e essa é a razão pela qual a humildade é uma qualidade importante para a liderança. Também é importante para os líderes receberem um feedback contínuo de seus subordinados para que não percam o equilíbrio e abusem de seu poder e posição.

ZH – O senhor pode mencionar uma empresa que aplica princípios e valores da liderança servidora?

Hunter – Poderia citar dúzias de empresas nos EUA, mas que não devem ser conhecidas no Brasil. As maiores multinacionais que a aplicam são Walmart, Marriot e Starbucks.