Apesar de entusiasta do futebol, o cantor e compositor Edu Krieger optou por sair de cima do muro e poeticamente falar ao público o que pensa sobre a Copa do Mundo. “Delculpe, Neymar/ Mas nesta Copa eu não torço por vocês / Estou cansado de assistir ao nosso povo / Definhando pouco a pouco / Nos programas das TVs (…)” A canção foi publicada no YouTube no dia 14 de março e em menos de dez dias tinha mais de 30 mil visualizações – quase três meses depois já passam de 850 mil e alguma polêmica.

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Eu adoro futebol, mas acho que a maneira como a Copa foi organizada exclui o torcedor brasileiro. Mesmo que levantemos a taça, o Brasil já perdeu. Não é um triunfo – opina o músico, que se sentia incomodado com a apatia da classe artística sobre o evento.

Edu Krieger escreveu a música em três dias, só precisou organizar poeticamente as ideias que já estavam amadurecidas e gravar. A mensagem é bastante direta e toca em feridas sociais com as quais o Brasil convive há algum tempo. Apesar disso, não é exatamente um protesto. Com melodia que lembra uma serestinha, ou um samba-bossa, Desculpe, Neymar tem um balanço amigável que, caso nenhuma canção de samba, pagode ou axé pró-Copa emplaque, pode se tornar um hino, ou pelo menos um anti-hino, do evento no Brasil.

– A canção é suave e foi de propósito, porque sou a favor de manifestações pacíficas. Não quis que tivesse esse clima de agressividade, é possível se posicionar serenamente.

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Seresteiro como o avô

Edu Krieger representa a terceira geração de uma família musical com raízes arraigadas em Santa Catarina. Ele é neto de Aldo Krieger, o maestro seresteiro de Brusque, e filho de Edino Krieger, compositor e maestro respeitado em todo o Brasil, também nascido em Brusque. Edu, 40 anos, nasceu no Rio de Janeiro, mas mantém na essência a cultura do Vale do Itajaí.

Só que ao contrário do pai e do avô, seguiu a cartilha de seus grandes ídolos da Música Popular Brasileira para embasar sua própria obra musical, embora tenha começado sua trajetória artística com música erudita, como o pai.

– Meu avô Aldo, embora tenha estudado música clássica e tivesse forte a questão do academicismo, era um grande seresteiro, fazia choro e samba. Era um boêmio, amava a madrugada e se perder pelas noitadas musicais – diz.

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Edu já compôs para cantoras como Maria Rita, Roberta Sá, Maria Gadu e Ana Carolina, com quem está atualmente em turnê pelo Brasil com o show #AC. Nunca gravou nenhuma canção do avô em seus dois discos, lançados em 2006 e 2009, mas fez a letra para um samba que Aldo Krieger compôs nos anos 1920, chamada Só para quem pode.

:: Para cantar junto:

Desculpe, Neymar

Mas nesta Copa eu não torço por vocês

Estou cansado de assistir ao nosso povo

Definhando pouco a pouco

Nos programas das TVs

Enquanto a FIFA se preocupa com padrões

Somos guiados por ladrões

Que jogam sujo pra ganhar

Desculpe, Neymar

Eu não torço desta vez

Parreira, eu vi

Aquele tetra fez o povo tão feliz

Mas não seremos verdadeiros campeões

Gastando mais de 10 bilhões

Pra fazer Copa no país

Temos estádios lindos e monumentais

Enquanto escolas e hospitais

Estão à beira de ruir

Parreira, eu vi

Um abismo entre Brasis

Foi mal, Felipão

Quando Cafu ergueu a taça e exibiu

Suas raízes num momento tão solene

Revelou Jardim Irene

Um retrato do Brasil

A primavera prometida não chegou

A vida vale mais que um gol

E as melhorias onde estão

Foi mal, Felipão

Nossa pátria não floriu

Eu sei, torcedor