Como é possível que alguém grave um dos maiores discos do soul brasileiro e simplesmente suma do mapa? Mais fácil acreditar que Di Melo, autor do tal álbum homônimo lançado em 1975, tivesse morrido. Foi essa explicação que passou a rodar o mundo até o momento em que a notícia chegou aos ouvidos do finado… “Morri e esqueceram de me avisar”, respondeu o próprio.

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>> Em entrevista, Di Melo conta a história por trás de seu desaparecimento

Com a carreira ressuscitada pelos fãs, o cantor pernambucano Di Melo virá à Região Sul do país pela primeira vez, como uma das principais atrações do Festival Psicodália, na Fazenda Evaristo, em Rio Negrinho (SC), que começa nesta sexta. Ele sobe ao palco em 4 de março, às 13h30min.

Ouça Kilario, de Di Melo:

Nascido em Recife, Roberto de Melo Santos tinha apenas 25 anos quando gravou Di Melo (EMI/Odeon, 1975) com participações de monstros como Heraldo Dumonte (violas e violões), Hermeto Pascoal (flautas e teclados) e Cláudio Beltrame (contrabaixo). O disco é visto hoje como uma obra-prima da então incipiente black music brasileira, mas vai muito além. Tem tango, jazz, funk, bossa nova, samba e samba-rock misturados com levadas nordestinas numa complexidade que soa fácil aos ouvidos. Tudo isso pontuado por um estilo de cantar incisivo, com sotaque pernambucano.

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Embora as músicas tenham feito algum sucesso nas rádios, Di Melo já arrastava uma desilusão com a indústria fonográfica.

– Quando o Wando estourou com Moça, neste disco aí eu tinha uma música (Volta). Eu tinha músicas com o Jair Rodrigues, que também vendia muito. Quando fui receber a grana do trimestre: 11 cruzeiros. Aí eu digo: É sacanagem! – lembra. – Então fui para Recife para ficar oito dias, mas fiquei 10 meses. Eu tinha um contrato no Japão para ficar três meses, mas saía, carimbava o passaporte, voltava, ficava. Comecei a não levar mais a coisa a sério.

Nos anos 1980, um grave acidente de moto alimentou o boato de que teria morrido. Enquanto isso, as cópias do seu único disco rareavam e eram vendidas a centenas de euros na Europa. Na década de 1990, foi redescoberto por DJs estrangeiros, e a internet fez proliferar o álbum em blogs de aficionados por música. Em 2009, dois cineastas localizaram Di Melo para narrar sua história no que virou o documentário de curta-metragem Di Melo – O Imorrível (2011). Até mesmo Will.I.Am participou da volta do músico pernambucano ao convidá-lo para participar do clipe Don’t Stop the Party, do Black Eyed Peas.

Assista ao trailer de Di Melo – O Imorrível:

Nos últimos anos, Di Melo tem feito shows para dezenas de milhares de pessoas. Ao Psicodália, promete trazer músicas inéditas:

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– Todo mundo imagina que o Di Melo tem tão somente o disco da EMI/Odeon. Eu fui compilando músicas e consegui fazer um apanhado de cem gravadas em 10 discos novos – avisa Di Melo, que também tem planos de tirar do papel composições antigas. – Tenho 12 músicas inéditas com o Geraldo Vandré, uma com o Baden Powell, uma com o Wando, duas com o Jair Rodrigues. E recentemente fiz uma como Waldir da Fonseca e com o Emicida, chama-se Dioturno.

Um festival multicultural

> Em sua 17ª edição, o festival Psicodália mantém a alma hippie e alternativa, mas os números são de festival grande. O evento oferece, desta sexta até 5 de março, mais de 40 shows, além de peças de teatro, filmes, oficinas e atividades de lazer que tiram proveito da natureza da Fazenda Evaristo, em Rio Negrinho (SC).

> Entre os shows, destacam-se Tom Zé, Yamandú Costa, Almir Sater, Moraes Moreira, Módulo 1000, Made in Brazil, Di Melo e Wander Wildner. Uma das surpresas é a banda australiana Gong, formada em 1969 e cultuada por fãs de rock progressivo e psicodelia.

> Os passaportes custam R$ 300 (2º lote) e R$ 350 (3º lote), à venda pelo site psicodalia.mus.br/2014 (só até amanhã e com cobrança de taxas) e na bilheteria do festival, a partir de sexta, em dinheiro ou no cartão de crédito (com taxas).

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> Os visitantes são convidados a dormir em uma das cinco áreas de camping.

> Informações: (47) 3646-3117, direto da fazenda, a partir de sexta, das 8h à meia-noite.