Elas estão invadindo os tatames para se sentirem seguras ao caminhar por ruas escuras, preparadas para lidar com possíveis situações de tensão ou confronto e autoconfiantes em relação ao próprio corpo. Assim também avançam na ocupação de lugares até então considerados masculinos. Em Santa Catarina, assim como no restante do país, as mulheres procuram cada vez mais os conhecimentos de defesa pessoal.
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As 13 escolas de Pa-Kua — conhecimento oriental que tem como objetivo a melhoria pessoal, física, mental e energética do praticante a partir de nove modalidades — no Estado já têm matrículas igualmente distribuídas entre os gêneros. Para a instrutora faixa preta segundo grau da Liga Internacional de Pa-Kua, Mayla Mendel de Sylos, a busca pela autodefesa feminina se deve a dois fatores que estão correlacionados: aumento dos casos de violência contra a mulher e empoderamento.
— Vejo que as mulheres estão se mobilizando para se sentirem mais seguras. Mesmo aquelas que não participam de coletivos feministas, porque elas também estão tendo acesso às informações.
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Caroline Vogt reflete a procura das mulheres por conhecimentos de artes marciais. Junto das duas filhas, ela participou em Florianópolis de um dos quatro aulões gratuitos oferecidos recentemente pela escola às mulheres interessadas em aprender como e se devem reagir em situação de violência. Geralmente, são nessas ocasiões que elas dão os primeiros golpes, com a expectativa dos instrutores de que continuem o aprendizado.
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— Vim porque apoio. Acho que temos que nos proteger de alguma forma. Tem que haver uma defesa numa situação de urgência. Também vou me sentir mais segura. São técnicas que não necessitam de força e sim de habilidade, de treino, e nos tiram de uma situação de risco.
No início deste mês, um grupo de mulheres de Florianópolis começou a reunir-se para realizar aulas gratuitas de defesa pessoal. A iniciativa surgiu a partir da necessidade de se proteger em trilhas e praias do Sul da Ilha. O primeiro encontro aconteceu em 4 de agosto e o próximo está marcado para o dia 13, sábado, às 10h. As interessadas podem entrar em contato por este grupo no Facebook.
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Há, ainda, outro tipo de defesa pessoal procurada por mulheres: a modalidade israelense Krav-Maga. Nas academias de ginástica onde há oferta de lutas, também é possível perceber o aumento da presença delas. Nesses casos, a atração se dá pela possibilidade de manter em dia a saúde, o corpo e a segurança.
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Técnicas ajudam a mulher a saber como e quando reagir
Adquirir conhecimentos de defesa pessoal não pressupõe uma reação em todo o contexto de violência. É sobre evitar passar por esses momentos a partir de coragem e autoestima, conforme endossa a instrutora Mayla.
— Mais do que ensinar técnicas, o trabalho de artes marciais ensina a saber medir o que elas vão fazer numa reação dessas. Objetivo não é deixar ataque instintivo, mas o cérebro rápido para ver melhor saída para aquilo. O treino contínuo é importante para deixar o movimento certo e usar no momento certo, também para ver se realmente precisa.
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A estudante Bianca Caroline Schweitzer espera não necessitar aplicar os golpes que aprende no tatame, mas participa das aulas para se conhecer melhor.
— Nunca planejo que tenha uma situação real que precise usar do conteúdo de arte marcial. É mais pela confiança, pela postura. Porque tudo o que você faz com o seu corpo ele reflete no seu comportamento em relação à vida.
Para o instrutor Ricardo Nakayama, a defesa pessoal auxilia a mulher tanto no aspecto físico, quanto no emocional.
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— Eleva a qualidade de vida com a prática de exercícios regulares, que melhoram as funções do corpo e aumentam a autoestima. Contribui para as habilidades físicas propiciando maior força, flexibilidade, coordenação motora, velocidade, agilidade e resistência nas situações de emergência. Melhora o aspecto emocional, proporcionando confiança, autodisciplina e determinação para alcançar objetivos.
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Prática antiga, discussão incipiente
Estima-se que os grupos de defesa para elas tenham surgido em 1970, paralelamente a outras respostas à violência contra a mulher: disque-denúncias, casas de abrigo e grupos de ajuda. Um dos mais conhecidos foi criado no Canadá quando um casal de praticantes de artes marciais soube do espancamento e do estupro de uma vizinha. Ela morreu na ocasião em decorrência da violência cometida pelo próprio marido.
Então, os dois decidiram fundar um programa de defesa pessoal feminina a partir de técnicas simples: o Wen-do Women’s Self Defence, cujas técnicas são praticadas até hoje por mulheres de todo o mundo, inclusive no Brasil. Wenlido, Actions e Instincts, Model Mugging, ambas no Canadá, e a Pink Sari Gang, na Índia, são exemplos de iniciativas semelhantes.
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Apesar de a defesa pessoal para elas não ser nova e ainda propiciar um espaço não só feminino, mas feminista, uma vez que proporciona a reflexão da violência de gênero, há poucos estudos na academia. Um deles, feito por duas pesquisadoras da Universidade Federal da Paraíba, justifica a baixa incidência a partir da margem que pode ser dada à culpabilização da vítima de violência.
— A necessidade de um combate direto ou o ato de evitar a violência por diversos mecanismos pessoais que não exteriores pode partir também de uma descrença do sistema institucional e judiciário. Assim como uma descrença nos movimentos de apoio, que por vezes pareciam muito teóricos e pouco práticos, para uma defesa efetiva contra a violência, como algo necessário em curto prazo — escrevem as estudiosas Lorena Monteiro e Loreley Garcia em artigo.
Princípios básicos da defesa pessoal
Simplicidade: com movimentos intuitivos, obedecendo à mecânica corporal, sendo as técnicas facilmente assimiladas, lembradas;
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Objetividade: significa não ter técnicas desnecessárias, que servem apenas para aumentar o currículo e enganar os praticantes;
Versatilidade: buscando uma formação completa, conhecendo os riscos, aplicando os procedimentos preventivos evitando ser escolhida como possível alvo pelos marginais; aprendendo sistemas variados de formas de combate e utilização de equalizadores, treinando física, mental e emocionalmente o praticante;
Efetividade: ser efetivo, significa neutralizar a ameaça, respondendo de forma proporcional a violência aplicada contra o praticante.
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Fonte: instrutor Ricardo Nakayama