(Foto: Caio Cezar / Divulgação)

Há muito tempo conheci um menininho que ficava sentado em um canto da sala, girando um prato de plástico e agitando as mãozinhas, por horas e horas. Quase não falava e não gostava muito do contato com as outras pessoas. Parecia que vivia num mundo só dele. Os pais me contaram que era autista. Foi meu primeiro contato com alguém como ele. Acompanhei seu crescimento por quase uma década, e vibrava junto com a família a cada nova conquista. Aprendi com eles o que significa, na prática, a história de dar um passo de cada vez. O garoto hoje é um homem, lindo, feliz, que adquiriu várias habilidades, as quais se destacam muito mais do que suas eventuais limitações. E tudo isso graças à persistência da família, à força de vontade do garoto e aos inúmeros profissionais competentes que cruzaram seu caminho.

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Histórias como esta, de superação e de luta, estarão sendo divulgadas na mostra intitulada Autismo em Foco: Além do que os olhos podem ver, cuja inauguração será nesta terça-feira, a partir das 19h30min, no Shopping Iguatemi, em Florianópolis. Entre as atrações, destaque para a exposição fotográfica, em 20 grandes painéis, de crianças e jovens autistas participando de atividades artísticas e esportivas. As imagens, encantadoras e sensíveis, foram captadas por cinco fotógrafos reconhecidos em Santa Catarina: Fernando Willadino, Adriana Fuchter, Caio Cezar, Hermes Bezerra e Rodrigo Sambaqui. Eles passaram cerca de um mês clicando diferentes momentos de seus musos inspiradores, até chegarem às fotos escolhidas, que, mesmo sem qualquer legenda, traduzem à perfeição seus personagens.

Na abertura da mostra haverá ainda a exibição de um vídeo apresentando o making off dos ensaios fotográficos, além de um show com o cantor e compositor autista Milton Almeida. O escritor Rodrigo Tramonte, também autista, vai autografar seu livro Humor Azul: o lado engraçado do autismo¿. A exposição fotográfica prosseguirá no Shopping Iguatemi até o dia 12 de abril, e é imperdível.

A programação em homenagem ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo, (celebrada dia 2 de abril), vai ser longa por aqui. No domingo, dia 3, numa iniciativa inédita, acontecerá uma sessão de cinema especial para crianças autistas. O filme Zootopia será exibido às 11h, no Cinesystem do Iguatemi. O convite deve ser adquirido com antecedência na quinta e na sexta (dias 31 e 1°) no balcão de informações do piso térreo do shopping. E para encerrar as celebrações, no dia 6 de abril, às 19h, no Café Cultura do shopping haverá um talk-show com os cinco fotógrafos que assinam a exposição. Aberto ao público, o evento contará com a participação de crianças e jovens autistas, entidades que trabalham com o autismo, pais e familiares, estudantes da área do esporte e da saúde, além de profissionais da fotografia.

É muita informação, eu sei. Mas vale a pena guardar estas dicas, porque este projeto, feito de forma voluntária, é um grande passo no sentido de desmistificar o autismo. Coordenada pelo Polo Uniasselvi Florianópolis e pela Agência Larissa Linhares Comunicação, a Mostra, com todas as suas atrações, tem como objetivo sensibilizar a sociedade e provocar um olhar diferenciado sobre o autismo, além de valorizar terapias e experiências exitosas de inclusão, como explica Bernardo Knabben, diretor do Polo Florianópolis.

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Uma “palhinha” da mostra, só pra mostrar o quanto este trabalho é lindo:

(Foto: Rodrigo Sambaqui / Divulgação)
(Foto: Fernando Willadino / Divulgação)

ENTENDA MELHOR O AUTISMO

O autismo foi descrito pela primeira vez em 1943, nos Estados Unidos, pelo médico austríaco Leo Kanner. Em 1944, Hans Asperger, também médico e austríaco, descreveu na Áustria os sintomas de autismo de maneira muito semelhante à de Kanner, mesmo sem ter havido nenhum contato entre eles. Menos de 20 anos depois, em 1962, era fundada no Reino Unido a primeira associação de pais de crianças com autismo, já com as intenções de abrir uma escola para estas crianças especiais, uma residência para os adultos com autismo e, principalmente, criar um serviço de informação e apoio para outros pais. O símbolo desta associação foi um quebra- cabeças, porque era assim que eles enxergavam a síndrome.

Passaram-se mais de 50 anos. Os transtornos do espectro do autismo (TEA) são diagnosticados em número cada vez maior e mais cedo, no Brasil e no mundo. Pouco a pouco a barreira do diagnóstico vem sendo derrubada, mas com relação ao tratamento _ se é que esta é a palavra certa _ ainda são muitas as interrogações. As pessoas com transtornos do espectro do autismo, na sua maioria, dizem os especialistas, têm necessidades especiais durante toda a vida.

Assisti-las envolve cuidados intensivos, desde a intervenção precoce até a sua velhice. O ideal é que esta pessoa tenha acompanhamento interdisciplinar, para que desenvolva suas capacidades em todas as áreas: comunicação, funcionamento motor, comportamental, aprendizagem e funções sensoriais, o que exige vários trabalhos terapêuticos simultâneos. Nesta exposição fotográfica no Shopping Iguatemi, os ¿modelos¿ foram clicados em momentos de encantamento e alegria, praticando atividades esportivas ou, então, mostrando suas habilidades musicais.

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(Foto: Hermes Bezerra / Divulgação)
(Foto: Adriana Fuchter / Divulgação)