Ao menos 35 pessoas chegam em Florianópolis todos os dias em busca de uma vida melhor. Além do desafio de garantir saúde, moradia e infraestrutura aos novos moradores, o município esbarra em outro desafio: gerar oportunidades de emprego e renda, driblando a informalidade.
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Entre aqueles que escolheram a capital catarinense para viver está o venezuelano Jeremi Starlin dos Ramos Colmenarez. Em 2019, ele deixou o país de origem, a 4.248 quilômetros de Florianópolis, para um começar uma nova vida no município.
Logo que chegou, passou a espalhar currículos por toda a cidade até conseguir o emprego de garçom, que garantiu a renda para se manter e enviar dinheiro à família, além de realizar sonhos.
— Morar perto da praia essa é uma das coisas que consegui. Comprar minha TV, minha cama, minhas coisas para minha casa. Já comprei e o meu sonho é isso, é uma das coisas maiores que eu já comprei. Já consegui meu apartamento, estou só esperando entregar a chave para falar para minha mãe para o meu pai e aí [eles] vem para cá — conta.
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Atendimento na saúde e vagas na educação são desafios com crescimento de Florianópolis
Assim como a família de Jeremi, os imigrantes que chegam em Florianópolis obrigam que a cidade pense em estratégias para garantir oportunidades igualitárias de emprego e renda. Uma realidade que não se concentra apenas na Capital, como explica o coordenador-geral do Núcleo de Estudos de Economia Catarinense da Universidade Federal de Santa Catarina (NECAT-UFSC), Lauro Mattei.
— Particularmente na grande Florianópolis, que é essa enorme presença de imigrantes, tanto do interior do Estado quanto outras regiões, inclusive de outros países, o mercado do trabalho é onde esse aspecto mais se revela, porque as pessoas vêm para cá e têm que buscar alguma forma de sobreviver — pontua.
Os dados do NECAT apontam que 90% dos postos formais de trabalho se concentram no comércio e no setor de serviços. Porém, assim como em todo o país, a informalidade é um desafio. Em 2021, por exemplo, 21% ocupavam empregos informais, a menor taxa entre as capitais. Mas, em um ano, o percentual cresceu para 27%. Ou seja, em 2022, a cada 100 pessoas, 27 trabalhavam de forma informal na cidade.
— O problema da informalidade é que são empregos precários em que as pessoas não têm proteção social. Esse fato tem um problema, que nós percebemos ao longo do último ano, que os empregos que estão sendo gerados, tanto informais como formais, estão se concentrando numa faixa salarial de baixa renda baixa renda, o que significa de 0 a 2 salários mínimos — explica Mattei.
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Baixa qualidade dos empregos também traz impactos
A professora e coordenadora do laboratório de Sociologia do Trabalho da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Thaís de Souza Lapa, pontua que, a longo prazo, o mercado de trabalho da Capital também pode ser impactado pela baixa qualidade dos empregos.
— Eles não são igualmente ofertados em termos de qualidade. Se tem uma parte muito grande de funcionários públicos aqui, que tem uma renda mais elevada, tem uma parte da composição da população que tem salários muito baixos e com empregos desprotegidos ou que trabalham por conta própria. E mais ainda: não tem acesso aos direitos não só trabalhistas, mas previdenciários também — salienta.
Por conta disso, a gestão pública criou estratégias para diminuir a informalidade, como legalizar empresas e capacitar profissionais.
— Em 2017 a gente levava dias para abrir uma empresa aqui em Florianópolis. Atualmente, empresas de baixo risco são abertas em algumas horas. Então isso reduz muito a informalidade. Nós temos hoje 109 mil empresas ativas no município e mais de 59 mil são MEIs. Então houve um crescimento muito grande nos últimos tempos — conta a subsecretária de Inovação e Formação Tecnológica da Prefeitura Municipal de Florianópolis, Ana Paula Reusing Pacheco.
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“lha do Silício no Brasil”
Com o crescimento das empresas de tecnologia, Florianópolis ganhou o apelido de Ilha do Silício no Brasil. Para se ter uma ideia, só nos últimos dez anos, o crescimento foi de 700%.
— Eu acredito que daqui 10 anos vamos ter esse crescimento ainda maior. Acredito em 2000% no crescimento de empresas de tecnologia, que promovam emprego sustentabilidade e uma boa oportunidade de vida para o cidadão — salienta o vice-presidente de Marketing da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), Walmoli Gerber Jr.
Mas ele lembra que para isso será necessária a capacitação da população:
— O principal desafio para daqui a 10 anos é a formação de talentos. Hoje nós já temos um déficit de mão de obra no mercado. Nós precisamos inverter essa situação. Então, a formação de talentos é o principal pilar do setor de tecnologia. O segundo é a atração de investimentos. Uma redução da carga tributária é fundamental para que esse setor continua evoluindo.
Para suprir a demanda, a prefeitura criou o programa Floripa Mais Tech que, só no passado, teve dez mil inscritos. O objetivo é formar pessoas para atuar exclusivamente com tecnologia. Ele também conta com uma ferramenta online para o mercado de trabalho em geral, chamada de Floripa Mais Empregos.
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— É muito interessante porque nesse portal a gente disponibiliza cursos de capacitação e disponibiliza vagas de emprego. Tem um setor interessante do portal que é uma área voltada para ensinar as pessoas a desenvolverem o seu currículo e a inseri-lo no próprio portal — diz Ana Paula Reusing Pacheco, subsecretária de Inovação e Formação Tecnológica da Prefeitura Municipal de Florianópolis.
Quem fica, não quer mais sair
Os desafios para garantir emprego e renda continuam a cada nova pessoa que chega na cidade em busca de uma vida melhor. Porém, é unanimidade: quem escolhe a capital catarinense para morar, não quer mais sair, como o venezuelano Jeremi, que planeja criar raízes aqui.
— Pensa em ter um manezinho ou uma manezinha, que falam aqui em Florianópolis e que vocês chamam assim. Penso em ter alguma coisa própria aqui. Nós temos esses planos e isso ainda vai acontecer em algum momento. Cheguei aqui sem falar nada de português, mas o povo de Florianópolis tem sido muito humilde. São aquelas pessoas que te acolhem e te recebem — explica.
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