Não há um levantamento oficial, mas a observação pelo Centro e pelos bairros de Joinville leva a um consenso geral de que o número de pessoas vivendo nas ruas da cidade teve um aumento considerável nos últimos anos. Essa impressão pode ser verificada pelo crescimento nos atendimentos do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop): em maio de 2017, o número total de pessoas recebidas pelo órgão público foi de 151, enquanto, no mesmo mês em 2019, foram 336 pessoas — destas, 124 estavam fazendo o cadastro no local pela primeira vez. Entre os dois anos, há um aumento de 122% nos atendimentos.

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— É uma percepção que se caracterizou na prática porque houve sim um aumento significativo nos atendimentos do Centro Pop. Mas Joinville tem outras entradas, não apenas pela Ottokar Doerffel, então é difícil acompanharmos de todas as formas. Acreditamos que Joinville tem aproximadamente 800 pessoas em situação de rua, mas esse número é flutuante — afirma o secretário de Assistência Social de Joinville, Vagner Ferreira de Oliveira.

O fato de não haver uma forma precisa de realizar a medição da população de rua, já que a principal característica deste grupo é a de não ter uma localização fixa como moradia, dificulta a noção exata do número real e, consequentemente, do crescimento. O único censo realizado para identificar a quantidade de pessoas em situação de rua no Brasil ocorreu entre 2007 e 2008, em 71 cidades brasileiras. Ele foi divulgado oficialmente em 2009.

Joinville estava entre elas e, na época, foram identificadas 274 pessoas vivendo nesta situação na cidade. No total, o país tinha uma população de rua estimada em 31.922 pessoas. Em um levantamento feito a partir de outra metodologia, com dados das Secretarias de Assistência Social de 1.924 cidades em 2015, o número no Brasil era de 101.854 pessoas em situação de rua — neste caso, não houve divulgação de estimativas por município.

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Na última semana, a Secretaria de Assistência Social de Joinville deu início a um grupo de trabalho que terá como foco a realização de um diagnóstico da população de rua da cidade. A meta é chegar ao fim de 2020 com um levantamento mais próximo da realidade e um perfil aprofundado de quem são as pessoas que têm calçadas, marquises, pontos de ônibus e imóveis desocupados como local de moradia. Segundo Vagner, a pesquisa contemplará não apenas nome, idade e origem, mas também o espaço do indivíduo na rua, os motivos de estar vivendo na rua e as expectativas de futuro.

Na última semana, a Secretaria de Assistência Social de Joinville deu início a um grupo de trabalho que terá como foco a realização de um diagnóstico da população de rua da cidade. O projeto está em fase de elaboração da metodologia e, depois, será realizada a capacitação de diferentes profissionais da Assistência Social para realização deste mapeamento em campo.

É uma consulta que já acontece no Centro Pop, mas que não contempla toda a população de rua porque a ida ao órgão público depende da vontade da pessoa. A ausência destes dados dificulta a efetividade de encaminhamentos mais específicos dentro das políticas públicas de Assistência Social, de acordo com o secretário da pasta em Joinville. O coordenador do Centro Pop, Sandro Mizzuno, concorda com a urgência desta pesquisa.

— O diagnóstico é determinante para qualquer intervenção. Na medicina, não há como pensar o tratamento se não fizer o diagnóstico do paciente. Da mesma forma, não há como pensar novas possibilidades de políticas públicas. Ficamos "apagando incêndios", tratando o usuário que aparece aqui hoje sem pensar em perspectivas mais amplas — analisa ele.

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Para Sandro, é momento também de rever as políticas públicas para a população de rua, e pensar novos métodos a partir das demandas percebidas a partir do aprofundamento nos diferentes perfis das pessoas que estão em situação de rua. Isso porque a população de rua, a exemplo de toda a população, tem características e necessidades diferentes entre cada grupo.

— Talvez esteja na hora de pensar em estratégias que não estejam nos manuais. Por exemplo, uma habitação social que não seja no formato de "Minha Casa, Minha Vida", mas de repúblicas — explica.

Com as temperaturas baixas que a região de Joinville tem registrado desde o início de julho e que deve permanecer nos primeiros dias da próxima semana, a Secretaria de Assistência Social de Joinville está analisando a possibilidade de abrir um abrigo temporário para pernoite. No entanto, ainda não havia decisão até este sábado, 6 de julho.