Florianópolis pode ter territórios submersos até o fim deste século, devido ao aumento do nível do mar, fenômeno influenciado pelas mudanças climáticas. A projeção da ONU aponta a possibilidade de a capital catarinense ter territórios que abrigam 3,74% da população atingidos pela alta do nível do mar até 2100 e considera o pior cenário de aquecimento global.

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Se considerarmos metade desse tempo, ou seja, até 2050, Florianópolis pode ter afetada uma área em que residem quase 1,55% dos moradores — hoje pouco mais de 8 mil pessoas, segundo os dados atuais de habitantes do IBGE.

As conclusões fazem parte de um levantamento divulgado nesta semana pela plataforma Human Climate Horizons (HCH), parceria entre a ONU e o Laboratório de Impacto Climático (CIL, na sigla em inglês), organização sem fins lucrativos que acompanha o impacto das mudanças climáticas. O estudo foi divulgado às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28), que começou nesta quinta-feira (30), nos Emirados Árabes.

FOTOS: Chuva histórica de 177 mm deixa Florianópolis debaixo d’água

Em relação ao aumento do nível do oceano em Florianópolis, o estudo da ONU prevê que o mar deva subir 24 centímetros até 2050 e 65 centímetros até o fim do século, no ano de 2100. A projeção também considera o pior cenário de aquecimento no mundo. Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, cada centímetro a mais de elevação do nível do mar pode significar em média um metro a mais de avanço da água na horizontal, em direção às cidades.

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Ações devem focar na redução de emissões e adaptação

A professora de Oceanografia e Clima da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Regina Rodrigues, afirma que essas projeções são seguras e alerta que elas exigem dois tipos de atitudes: a mitigação e a adaptação.

A primeira delas depende também de acordos e mudanças globais, mas poderia ser feita num âmbito local com o corte de emissões de carbono, reduzindo o uso de combustíveis fósseis, por exemplo.

— Localmente, a maior parte das emissões de Florianópolis vem dos transportes, porque não há muitas indústrias nem atuação do agronegócio, dois dos principais emissores de gases do efeito estufa. Se a gente quiser também colaborar com a mitigação, tem que ter no planejamento local um transporte coletivo de qualidade, com ônibus ou monotrilhos — afirma.

No eixo da adaptação, a principal medida deve ser o planejamento capaz de combater construções em áreas que protegem contra o avanço do mar, ressacas e erosão.

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— O melhor protetor é a natureza, como os mangues, as dunas. Tem que preservar o que ainda tem e talvez restaurar. É preciso ter um planejamento municipal, que no caso seria o plano diretor, que incluísse isso. Preservar mais, restaurar alguns ambientes. E tem lugares no mundo, como o País de Gales, em que já estão retirando a população de algumas áreas em que acreditam que não vai haver outra solução — conta.

Regina chama a atenção para outros efeitos que podem impactar inclusive no abastecimento de água, por exemplo. Com o aumento do nível do mar, a Lagoa do Peri, onde é captada água para a população do Sul da Ilha, poderia sofrer intrusão de água salgada, o que inviabilizaria o uso desse local como manancial.

Sobre regiões da Ilha que podem ser atingidas, a professora cita a Baía Sul, área aterrada e que hoje já sofre com aumento das águas em função da maré, e região do Sul da Ilha, suscetíveis a ondulações mais fortes. Situações como a do Morro das Pedras, onde uma região com casas sofre há vários anos com a erosão, é citada por ela como um dos locais que sofre com a combinação do aumento do nível do mar com a geometria da praia, as ressacas e os ventos mais intensos.

Prefeitura diz elaborar plano para redução de emissões

A prefeitura de Florianópolis informou à reportagem da NSC que tem ações locais em curso para combate ao aquecimento global e às consequências dele no avanço dos mares. Entre as medidas estão a redução de poluentes com tecnologias empregadas no sistema de coleta e encaminhamento de resíduos e a preservação de áreas de mata nativa.

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Segundo a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, hoje essa vegetação nativa é conservada integralmente em 44% do território da cidade e é responsável pelo sequestro de mais de 1,8 milhão de toneladas de carbono por ano da atmosfera da Capital.

Além disso, a pasta de Meio Ambiente acrescentou em nota que “está estruturando um plano com eixos para aumento da redução das emissões de gases do efeito estufa e identificação de áreas sensíveis e vulneráveis, com o intuito de adotar medidas de adaptação, educação ambiental e trabalho sobre o tema com a população”.

Rio e Santos também devem ter áreas afetadas

Outras cidades do litoral brasileiro também devem sofrer com a alta do nível do mar. Segundo o levantamento, sem medidas de proteção na costa, Rio de Janeiro e Santos terão 5% ou mais das cidades submersas pelo avanço das águas.

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Outras cidades conhecidas como Barranquilla, na Colômbia, e Sydney, na Austrália, também estão nesta situação, segundo o estudo. Em todo o mundo, atualmente 14 milhões de pessoas vivem em áreas com probabilidade de 5% de inundações. Segundo o estudo, esse número poderia chegar a 73 milhões de pessoas. Isso significa que o impacto das mudanças climáticas sobre as regiões costeiras vai aumentar cinco vezes ao longo deste século.

No cenário mais crítico de emissão de gases do efeito estufa, a projeção é de que aproximadamente 160 mil quilômetros quadrados de terras costeiras seriam inundadas até 2100 — uma área maior que o território da Grécia, ou quase duas vezes o tamanho do território de Santa Catarina.

Outros estudos apontaram impacto em SC

Este não é o primeiro estudo que aponta possível inundação de regiões litorâneas de Santa Catarina em função das mudanças climáticas. Em 2019, uma pesquisa internacional apontou que bairros inteiros de cidades como Joinville, Tubarão e Tijucas poderiam ficar submersos ou sujeitos a inundações frequentes, a depender da influência da maré, ciclones e outros efeitos.

As conclusões faziam parte de estudo divulgado na revista científica Nature Communications com base na ferramenta de risco costeiro do Climate Central, uma ONG de pesquisadores e jornalistas do mundo inteiro que estudam as alterações no clima e meio ambiente.

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Na ocasião, os pesquisadores utilizaram inteligência artificial para atualizar informações de satélite e cruzá-las com novas projeções de aumento do nível dos oceanos. Aquele levantamento apontou que áreas onde vivem 300 milhões de pessoas estariam em áreas de risco de inundações frequentes. No Brasil, a condição afetaria 1 milhão de pessoas.

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