O aumento do número de eleitores de idosos em SC, que nas eleições 2020 vão representar 8% do eleitorado do Estado, acompanha uma mudança do padrão demográfica no país em curso nas últimas décadas, que envolve menores índices de natalidade e aumento da expectativa de vida. O professor do Departamento de Sociologia e Ciência Política da UFSC, Julian Borba, diz que esse envelhecimento da população causa impactos na política de três formas.
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A primeira é a busca de eleitores por mais candidatos com idade elevada, em busca de representatividade. O segundo aspecto é justamente o aumento de demandas por políticas públicas voltadas à terceira idade. A terceira alteração ocorre na representação por perspectiva, quando mesmo candidatos que não se enquadram no perfil de idosos encampam as pautas e demandas desse eleitorado.
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– Se em um padrão demográfico com muitos nascimentos as demandas são por escolas e creches, numa mudança desse padrão demográfico com muitas pessoas acima dos 60 anos, as demandas por políticas públicas passam a ser outras – aponta o professor, que destaca o surgimento de políticas nacionais e conselhos locais para pessoa idosa como espaços por onde essas novas demandas passaram a chegar ao Estado.
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Participação social de idosos é uma das prioridades

A maior participação de eleitores da terceira idade amplia a discussão sobre pautas voltadas aos idosos no debate eleitoral a ser travado nos municípios. Santa Catarina se destaca pelos altos índices de desenvolvimento humano e tem também a maior expectativa de vida do país. Segundo a última Tábua de Mortalidade do IBGE, catarinenses vivem em média 79,7 anos, três anos a mais do que a média nacional. Ainda segundo o IBGE, quem atinge os 65 anos em SC deve alcançar, na média, pelo menos os 85 anos de vida.
A psicóloga e especialista em Gerontologia Katia Simone Ploner, professora da Univali, reconhece que o Estado tem boas políticas de direitos para idosos, mas ressalta que ainda existe muito preconceito com a velhice e dificuldades enfrentadas.
Na avaliação dela, as ações do poder público voltadas à terceira idade deveriam se dividir em três eixos. Um deles seria direcionado para idosos saudáveis, com projetos para aumentar a autonomia e a participação social desse público. Aqui se encaixam aulas de dança, música ou reuniões de idosos que desenvolvem prática de esportes ou atividades culturais.
Esse trabalho está presente em ações como o programa Floripa Feliz Idade, que auxilia atividades de 135 grupos de idosos de Florianópolis com materiais e viagens, abrangendo cerca de 4 mil idosos. Em Blumenau, a Fundação Pró-Família é outra instituição que desenvolve atividades esportivas e culturais com quase 6 mil idosos.
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A vice-presidente do Conselho Municipal do Idoso de Florianópolis, Roselene Antunes, frisa que é preciso rever o olhar sobre a terceira idade, deixando de associar a pessoas sem energia e vendo-as como pessoas ativas e produtivas.
– Cada vez mais a sociedade e o município têm que estar preparados porque as pessoas cada vez vão estar mais ativas, vivendo mais e participando, seja no âmbito social, econômico, público ou de empresas.
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Atendimento domiciliar e acesso a serviços
Mas é nas ações para idosos vulneráveis ou dependentes que estão os maiores desafios para o poder público. Segundo a psicóloga e professora da Univali, uma das iniciativas importantes para esse atendimento seria a criação dos chamados “centros dia”, locais onde os idosos ficam durante o dia, com assistência de saúde e atividades, para que o familiar possa trabalhar, permitindo que à noite ele volte para casa com a família.
Esses espaços reduzem a demanda sobre as instituições de longa permanência para idosos, antigamente chamadas de asilos ou casas geriátricas. Florianópolis possui um “centro dia” e Blumenau discute a criação de um, em projeto interrompido pela pandemia.
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O terceiro e último ponto de atenção do poder público defendido pela psicóloga é a adesão de municípios ao programa governamental “Estratégia Brasil Amigo da Pessoa Idosa”. A proposta prevê que as cidades sejam voltadas para a integração entre as gerações, com mais autonomia e protagonismo do idoso saudável.
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– Atualmente é como se tivéssemos uma segregação etária e social. Temos lugares que jovens frequentam, lugares de casais, lugares para crianças e lugares para idosos. Precisamos pensar em lugares de convivência de pessoas, de lazer, de esporte, de educação em saúde, que sejam mais integrados e proporcionem a conscientização de que todos estamos envelhecendo e todos construímos uma sociedade e seus valores juntos – aponta a professora.
Foco no atendimento
A coordenadora do Conselho Municipal do Idoso de Blumenau, Maria Augusta Caldeira Koch Buttendorf, chama atenção para a inversão que ocorre na pirâmide etária da população, com aumento de pessoas idosas e diminuição de crianças e adolescentes. Segundo ela, isso exige uma inversão nas políticas públicas para fortalecer ações como atendimento domiciliar e acesso a medicação e projetos por parte dos idosos.
– Podemos ter idosos independentes até o fim da vida, mas há situações de idosos que precisam de cuidados e que não tiveram filhos, não têm preparação para essa fase final da vida. Então o foco deve ser o atendimento ao idoso, principalmente os frágeis ou vulneráveis – orienta.
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Projeto busca isentar eleitores com mais de 60 anos que não votarem
Um projeto de lei apresentado pelo deputado Pompeo de Mattos (PDT/RS) na Câmara Federal propõe isentar eleitores com mais de 60 anos que decidirem não votar nas eleições 2020 por causa do receio da pandemia do novo coronavírus.
Entre as sanções previstas para quem não votar e nem justificar a ausência no dia da votação, a mais comentada costuma ser a multa de R$ 3,50, mas a lei que instituiu o Código Eleitoral prevê a proibição de participação em concurso público e posse em cargo público e de obter passaporte ou carteira de identidade.
A proposta foi apresentada em julho, mês em que o país vivia o momento mais crítico da pandemia de covid-19, mas até agora aguarda um despacho da presidência para começar a tramitar na Câmara Federal. Internamente, ganha força a tese de que a proposta não deve ser votada antes da eleição deste ano para não desestimular a participação desses eleitores.
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