A chegada da pílula anticoncepcional e as mudanças sociais contribuíram com uma maior liberdade e a chamada revolução sexual a partir da década de 1960. Nos anos 1980, época da escalada da Aids, a preocupação com o uso de preservativo teve um peso maior na gangorra entre prazer e prevenção. Com o avanço nos tratamentos contra o vírus HIV e a qualidade de vida capaz de ser oferecida hoje aos portadores da síndrome, muita gente voltou a abrir mão do uso da camisinha. Um comportamento que aumenta a exposição a outras DSTs também graves, como HPV e as hepatites.
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Um desses casos é o da sífilis. O número de pacientes com a doença vem registrando aumento ano a ano. Somente em 2016 foram 9.921 testes feitos e 1.038 casos confirmados em Blumenau – 26% a mais do que em 2015. Nos primeiros meses deste ano os números também preocupam: já são 1.951 testes e 231 resultados positivos diagnosticados.
O infectologista do Centro Especializado em Diagnóstico, Assistência e Prevenção (Cedap), Ivan Leal de Moura Júnior, afirma que não há um grupo de risco – homens são ligeiramente maioria entre os infectados, mas o alerta envolve todos – e conta que o maior problema, além da falta de uso do preservativo, é a demora na realização do teste da doença.
– Muitos só procuram o médico quando estão doentes. Pedimos aos pacientes fazerem os exames para que a gente surpreenda as doenças e não seja surpreendido por eles. Além disso, as pessoas também têm que se responsabilizar e ter o preservativo sempre à mão – alerta.
O problema de desabastecimento de penicilina, antibiótico usado no tratamento que esteve em falta na rede pública ano passado, segundo o médico já foi solucionado. A sífilis congênita, quando o bebê é infectado durante a gestação, também é uma preocupação, embora sejam feitos três exames durante o pré-natal para identificar possíveis infecções. Em Blumenau o teste rápido, com resultado em até 20 minutos, pode ser feito gratuitamente no Cedap (Rua Paraíba, 380, Centro) e os exames de laboratório, cujos resultados demoram mais, até 15 dias, são viabilizados nos postos de saúde.
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Estágios da doença
A sífilis consiste em uma infecção bacteriana transmitida na maior parte das vezes pelo ato sexual. É tratada com o antibiótico penicilina benzatina, também conhecido pelo nome comercial de Benzetacil. O urologista Sérgio Augusto Skrobot explica que a doença é dividida em estágios. No primeiro, que pode se manifestar de 10 a 90 dias depois da relação sexual sem proteção, os principais sinais costumam ser feridas ulceradas na área genital e ínguas na região da virilha. Em mulheres, os sintomas costumam aparecer no colo do útero e reto, no caso de relação anal, o que dificulta a identificação inicial e reforça a importância dos exames preventivos.
Como as feridas são indolores e somem após algumas semanas, às vezes os primeiros sinais passam despercebidos pelos pacientes. Uma ameaça silenciosa que pode levar a doença ao segundo estágio, marcado por febre, dor muscular e dor de garganta – traços que até podem lembrar um resfriado.
Os indícios mais clássicos, porém, costumam ser manchas nos pés e mãos e novamente as ínguas. Se ainda assim não for tratada, a doença pode evoluir para o terceiro estágio, capaz de trazer graves complicações ao sistema nervoso e ao coração.
Skrobot confirma que o grau de eficácia do tratamento é muito alto, mas alerta que hoje muitos pacientes não usam regularmente o preservativo.
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– É importante fazer uso de preservativo em todas as relações e procurar o médico aos primeiros sinais para fazer o tratamento no estágio inicial – defende o urologista.