Embora a segurança pública tenha sido um dos quesitos de destaque para elevar Santa Catarina à segunda posição no ranking de competitividade dos Estados, divulgado no início da semana passada, as apreensões de armas feitas pelas polícias alertam para o poder de fogo que vem sendo conquistado pelas facções criminosas no Estado.

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A captura de armamento pesado aumentou consideravelmente no ano passado. A mais poderosa arma encontrada sob o domínio da criminalidade tem sido o fuzil. Em 2015, apenas três unidades e quatro submetralhadoras foram apreendidas em cidades catarinenses. Em 2016, pelo menos 19 fuzis, seis submetralhadoras e quatro metralhadoras foram recolhidas, crescimento de 314%. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública e da Polícia Rodoviária Federal.

– O fuzil é uma arma de guerra nas mãos de criminosos inconsequentes. É uma arma de potencial lesivo enorme. Estamos com o trabalho focado em não deixar a criminalidade crescer – diz o delegado Antônio Cláudio Joca, da Divisão de Repressão ao Crime Organizado (Draco).

Segundo o chefe do núcleo de comunicação da Polícia Rodoviária Federal, Adriano Fiamoncini, o fuzil é mais potente, preciso e tem maior alcance do que a metralhadora. As munições usadas por ele também são de calibres maiores.

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Já a potência do tiro disparado pela metralhadora depende do tamanho do calibre, ressalta o instrutor de tiro da Academia de Polícia Civil (Acadepol), Leonardo Cunha. Das armas apreendidas até hoje pela polícia, o fuzil foi o que apresentou o calibre mais potente. Juntos, os 19 fuzis seriam suficientes para armar um pelotão, que possui em torno de 20 soldados, avalia o instrutor.

Número de armas apreendidas em SC
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Até agosto deste ano, as polícias já apreenderam 11 fuzis, quatro metralhadoras e duas submetralhadoras em abordagens e operações. No início do mês, um policial militar foi morto a tiros na frente de uma agência bancária em Guabiruba, no Vale do Itajaí. Segundo o delegado que investiga o caso, Alex Bonfim Reis, há indícios de que os criminosos portavam, entre outras armas, um fuzil.

Em três grandes operações lideradas pela Draco no primeiro semestre deste ano, em Florianópolis, foram apreendidos quatro fuzis (sendo uma M4 de calibre 566 e uma AK-47 de calibre 7,62) uma submetralhadora, 17 pistolas, um revólver e uma espingarda. As ações ocorreram nas comunidades do Papaquara, Ponta das Canas e Morro do Mosquito, no Norte da Ilha, e na Chico Mendes, na região continental.

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Exame balístico confirmou que uma das pistolas apreendidas foi usada na chacina que deixou três mortos e três feridos após troca de tiros entre grupos rivais em abril na Costeira, no Sul da Ilha. Outra pistola foi identificada na tentativa de homicídio contra um PM no morro do Mocotó.

Armas importadas chegam pelo Paraná

Segundo o delegado Joca, há alguns anos a polícia não apreendia tantas armas pesadas e automáticas. Na maioria das apreensões, eram os revólveres que dominavam. O tráfico de armas importadas e de uso restrito às forças armadas ocorre pelas fronteiras, principalmente do Paraná.

– O grande financiador é o tráfico de drogas. Por causa de disputa territorial, os grupos acabam se armando. Em uma situação pontual, conseguimos impedir uma chacina. Um grupo estava preparado para invadir o território do grupo rival – revela Joca.

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Segundo o comandante da Polícia Militar de Santa Catarina, coronel Paulo Hemm, a falta de preparo dos criminosos em manusear esse tipo de armamento potencializa ainda mais o risco.

– Sem dúvida é preocupante. Nossos policiais também trabalham com fuzis, mas eles estão habilitados para isso. Já os criminosos não têm esse conhecimento e, num confronto, não estão nem aí para onde atiram. Estamos trabalhando com a inteligência para mapear e identificar a atuação criminosa no Estado – garante.

A Polícia Federal preferiu não se manifestar sobre o poder de fogo das organizações criminosas, pois não atua diretamente na apreensão de armas. O Exército Brasileiro disse que não é de sua competência o controle de armas, uma vez que recebe as unidades apreendidas pelas polícias apenas para destruição.

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O que diz o poder público

As secretarias de Segurança Pública e Assistência Social foram procuradas pela reportagem para explicar quais medidas estão sendo tomadas no sentido de prevenir a violência em comunidades vulneráveis. Confira as repostas:

Secretaria de Estado da Segurança Pública:Por meio de nota, a SSP disse que conhece o aumento da incidência criminal no Estado em ataques cometidos por facções criminosas no início do mês. Para combater a atuação do crime organizado, a pasta alega que “recentemente foi realizada uma força-tarefa que cumpriu inúmeros mandados de prisão, busca e apreensão”. A secretaria afirmou que tem programas de combate à violência, mas não detalhou quais são.

Secretaria de Estado da Assistência Social:Segundo a diretora de Direitos Humanos, Maria Elisa De Caro, a competência dos serviços é dos municípios.

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Secretaria de Assistência Social de Florianópolis:A pasta informou que oferece os serviços do Centro de Convivência e Fortalecimento de Vínculos de Crianças e Adolescentes (CCFV), sendo oito próprios e 17 conveniados, para realizar atividades recreativas no contraturno escolar com mais de 2 mil crianças e adolescentes de seis a 15 anos. O trabalho é voltado para fortalecer a “dignidade para que o indivíduo possa se desenvolver sem se corromper para a violência”.

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