Salgada para o bolso dos usuários, mas insuficiente para salvar o transporte coletivo de Blumenau da crise. É assim que especialistas em mobilidade urbana e economistas definem a nova tarifa do serviço. Apesar do aumento de R$ 0,35 ser equivalente aos mesmos 10,6% do acumulado da inflação dos últimos 12 meses, o Seterb garante que no cálculo que fixou a passagem em R$ 3,65 foram levados em conta os dados de gastos com insumos fornecidos mensalmente por Rodovel, Verde Vale e Glória.
Continua depois da publicidade
?
Sem um centavo de aumento real no valor da passagem que passa a vigorar no dia 27, o mestre em sociologia política Eduardo Guerini, defende que, caso os custos das permissionárias fossem de fato levados em consideração, o giro da catraca na cidade poderia custar entre R$ 3,90 e R$ 4,25. Diferente de anos anteriores quando o Consórcio Siga informava qual seria o valor ideal da tarifa, desta vez nada foi divulgado, impossibilitando a comparação com valores especulados.
:: Acordo prevê pagamento parcelado a funcionários do transporte de Blumenau
Continua depois da publicidade
O presidente do consórcio, Valdeci Roza, não atendeu as ligações da reportagem, mas o presidente do Seterb, Carlos Lange, confirmou que apenas os dados com os custos foram repassados à autarquia. Anunciado na segunda-feira, o reajuste teria sido decretado em janeiro para, segundo a administração pública, colaborar com a situação dos trabalhadores do Siga, que estão com o salário de janeiro atrasado. Questionado sobre a rapidez com que se decretou o reajuste este ano, que costumeiramente passa a vigorar apenas em fevereiro, Lange ponderou:
– O que aconteceu é que antes a prefeitura já anunciava que estava trabalhando na adequação dos valores e este ano só anunciamos a nova tarifa.
Independente do mês em que a nova tarifa vai começar a ser cobrada, Guerini atenta para o atual modelo de gestão, que seria a justificativa para entender por que apenas o percentual referente ao índice inflacionário foi levado em conta.
Continua depois da publicidade
– Hoje o transporte não é condicionado a questões de gestão pública, mas sim, políticas. O governo não tem condições de ofertar um serviço de qualidade e também não tem como arcar com uma concessão de qualidade. O fato é que o reajuste vai impactar no poder aquisitivo do trabalhador, independente de estar acima ou abaixo da inflação – analisa.
Outra variável que costuma intrigar especialistas do setor é de que forma o cálculo é feito. Roger Cecchetto, coordenador da Comissão de Transporte e Mobilidade da OAB Blumenau, adianta que é inviável apontar um culpado nestas circunstâncias, mas que há duas alternativas para justificar a situação.
– Sabemos que a empresa apresenta uma planilha com custos e gastos de remuneração e que a primeira destas planilhas estava equilibrada. Se não estava, nenhum das empresas poderia ter vencido a licitação. Levando isso em consideração, ou a licitação está errada ou o plano de negócio que elas passaram não é seguido. O poder público é para ter dados em mãos agora, mas se a fórmula dos cálculos estiver equivocada, a gestão do serviço já estará comprometida – esclarece.
Sem acesso às planilhas, não há com avaliar impacto
Com base na atual situação do transporte, Cecchetto ainda avalia a possibilidade do cálculo da tarifa levar em conta apenas índices oficiais e uma média geral de outros fatores, como a mão de obra. Para ele, assim como para o economista Nazareno Schmoeller, aumentar ou reduzir a tarifa não irá solucionar a crise das empresas. Schmoeller explica que, como não se tem acesso às planilhas, não é possível saber quanto o aumento dos insumos, como combustível, representa na tarifa:
Continua depois da publicidade
– Não sabemos quais são os custos que ocorrem ou quais custos que mais subiram. Não sabemos quanto a folha de pagamento incide nesse número ou como a isenção de impostos ajuda as empresas. O que se pode falar é que, se ano passado as empresas já estavam operando com prejuizo, não é a reposição da inflação que vai resolver.(Colaborou Lucas Paraizo)
?