Era 8 de janeiro quando o professor Robert Gessner Junior, 31 anos, acordou no hospital. Para ele, havia se passado apenas um dia desde que fora intubado para tratar a Covid-19, em 21 de dezembro. Mas o cuidado excessivo dos médicos o alertou para o que só descobriria mais tarde: a doença se agravou a tal ponto que seu pulmão fora “desligado” por 11 dias – o que levou a utilizar um pulmão artificial, como no caso do ator Paulo Gustavo.
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Assim como o Paulo Gustavo, 42 anos, Robert utilizou a ECMO (Membrana de Oxigenação Extracorpórea), espécie de pulmão artificial que oxigena o sangue fora do corpo, substituindo temporariamente o órgão comprometido de maneira severa.
— A primeira coisa que pensei quando acordei foi: passei Natal e Ano Novo longe de todos — contou o professor, que perdeu 32 quilos durante o tratamento.
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Obeso, pré-diabético e hipertenso, ele ainda guarda sequelas da doença, como dificuldades para caminhar, falta de movimento na mão esquerda e uma síndrome que provoca fraqueza muscular.
— Não reclamo de absolutamente nada, tenho esperanças de que consiga logo me recuperar para trabalhar — disse Robert, que atribui a cura à ajuda extra da ECMO.
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As diferentes cepas do novo coronavírus, algumas mais infecciosas e severas em pacientes jovens e sem comorbidades, têm levado ao aumento da procura pelo aparelho, que ainda continua praticamente inacessível à maioria dos doentes. O equipamento não é usado no tratamento da Covid-19, mas serve como suporte para que os pulmões “descansem” enquanto o organismo combate a infecção.
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— É como uma hemodiálise, mas nos pulmões — explicou o médico Jarbas da Silva Motta Junior, coordenador das UTIs do Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba, onde Robert foi tratado.
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Segundo Gustavo Calado, diretor da Elso (Organização para Suporte Vital Extracorpóreo), instituição que regulamenta o uso e as diretrizes para a ECMO no mundo, antes da pandemia, eram de 150 a 200 implantes por ano no Brasil, grande parte por problemas cardíacos. Agora, a demanda já passa de 800, sendo que 85% dos procedimentos estão relacionados à Covid-19.
Calado conta que a tecnologia existe há mais de 40 anos, mas só se difundiu no auxílio ao tratamento de problemas respiratórios a partir da pandemia de H1N1, entre 2009 e 2010. Também foi utilizada em vítimas do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em 2013.
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Ressalta, no entanto, que o doente deve atender a uma série de pré-requisitos para utilizar a máquina. O primeiro é esgotar todas as alternativas para recuperar os pulmões, como uso de ventilação mecânica e da manobra de prona, em que a pessoa é colocada de bruços.
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— Em idosos com comorbidades, por exemplo, não há indicação, pois só aumenta o sofrimento — explicou.
Outro fator que restringe o acesso é o número de centros aptos a operar o equipamento. No Brasil, são apenas 28 credenciados. Antes da pandemia, o Marcelino Champagnat, uma das unidades de referência, instalava no máximo dois aparelhos por ano. Já entre 2020 e 2021, foram 11.
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A demanda também cresceu entre as fabricantes. Em março, a Braile Biomédica se tornou a única empresa do hemisfério Sul a obter a certificação da Anvisa para fornecer ECMOs de tempo prolongado a hospitais do país.
— Existe uma demanda maior do que a oferta de produtos até porque os demais fabricantes são multinacionais que acabam focando no mercado interno, como Japão e Estados Unidos — contou o CEO da empresa, Rafael Braile. Desde março, a fabricante já instalou 23 equipamentos.
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As especificidades da ECMO levaram a Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias) a barrar a cobertura da tecnologia no SUS, em 2015. O comitê se baseou em um estudo que leva em conta o valor de implantação do recurso e o retorno efetivo ao paciente.
Apesar disso, o equipamento pode ser acessado por pacientes internados nos poucos centros de referência credenciados para atender o setor público, como no Incor de São Paulo. Braile lembra que o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, defendeu o uso da ECMO pelo SUS enquanto presidia a Sociedade Brasileira de Cardiologia. Atualmente, há novas discussões para ressubmissão dos estudos de economia e saúde junto à Conitec. Já os planos de saúde têm decisões discrepantes sobre a cobertura do uso da ECMO.
Segundo a Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde), a ECMO “é ainda muito restrita e não consta no rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar [ANS]”. Já a ANS afirmou que, quando realizada pela via torácica e com objetivo de prestar assistência mecânica circulatória prolongada, deve haver, sim, pagamento pelos planos.
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Diferentemente de Robert, que conseguiu liberação do seguro para usar a máquina, o fisiculturista e empresário curitibano Kaique Barbanti, 28, teve que arcar com os custos do tratamento, que, só com o equipamento, giraram em torno de R$ 150 mil.
Kaique ficou 62 dias internado, sendo 23 deles ligado à ECMO (a média é de sete a dez dias). Ele já estava curado da Covid-19, mas teve que deixar o pulmão “descansando” para curar uma trombose causada pela doença.
— Se a ECMO não me salvou, me deu sobrevida para o corpo reagir e me proporcionou uma recuperação acima da média — afirmou Barbanti.
Motta, um dos responsáveis pelo atendimento aos dois pacientes, exaltou a função da máquina.
— Há possibilidade muito grande de não terem sobrevivido [sem a ECMO] e, se tivessem, teriam bem mais sequelas pulmonares.
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Como explica o médico, além de facilitar o tratamento de casos graves da Covid-19, a ECMO permite melhor resposta a intervenções invasivas às vezes necessárias.
É o que ocorreu com Paulo Gustavo, que passou por procedimentos para corrigir problemas de coagulação e na passagem de ar entre os brônquios e a membrana que reveste os pulmões. Em último boletim médico divulgado pela assessoria do ator, na quinta-feira (15), o estado de saúde dele ainda foi considerado crítico.
A Folha consultou cinco das maiores operadoras de planos de saúde do Brasil, mas todas se recusaram a oferecer dados de pedidos de liberação do uso da tecnologia em pacientes. A ANS informou não possuir essas informações e o Ministério da Saúde não retornou o contato.
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