A dona de casa Regina Costa, 56, nunca vai se esquecer desta data: 8 de novembro de 2015. Em uma tarde nublada e abafada de domingo, no campus da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis, ela percorreu os primeiros metros em cima de uma bicicleta. Regina sentiu tal liberdade única, consequente dos movimentos circulares constantes dos pedais, graças à Escola Bike Anjo. O projeto, espalhado por 1,2 mil voluntários em 200 cidades brasileiras, transfere conhecimento acerca de pedaladas entre ciclistas experientes e quem quer encarar os pouco mais de 43 quilômetros de vias cíclicas existentes na Capital.
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– É difícil, viu? Mas é ótimo. Eu sempre quis pedalar, mas nunca tive uma bicicleta. Nem quando criança, que é quando a maioria aprende. Aí me inscrevi e finalmente vim aprender. Pretendo fazer pelo menos mais uma aula para melhorar meu equilíbrio – conta, suando e com as mãos ainda trêmulas por segurar o guidão com força em razão do medo.
Nas tardes de pedal do Bike Anjo, que acontecem geralmente no segundo domingo do mês em frente à reitoria da UFSC, voluntários tentam dissipar o nervosismo de quem deseja começar a pedalar. Os “anjos” acompanham iniciantes nos primeiros movimentos, ajudam a escolher rotas mais tranquilas para deslocamentos diários, passam conceitos de segurança e comportamento no trânsito e ensinam o básico da utilização da bicicleta. Há respeito pelos ritmos e limitações de cada aluno.
– Nós avaliamos as principais dificuldades de cada um e trabalhamos em cima disso. A maioria tem medo de cair, mas nós ensinamos exercícios específicos para isso não acontecer. E aí quando eles se sentem seguros, vão embora… Me sinto dando asas às pessoas. É muito bom ajudá-los a ultrapassar barreiras e, principalmente, saber que estamos mudando a vida dessas pessoas – diz, emocionado, o voluntário e um dos idealizadores do projeto Bike Anjo em Florianópolis, Júlio Fernandes.
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Regina nunca tinha andado de bicicleta. Foto: Diorgenes Pandini/Agência RBS
Mudança de hábitos
Os instrutores torcem para que os alunos nunca mais larguem a bike porque acreditam na transformação social proporcionada por este meio de locomoção.
– Com esse trânsito louco, a bicicleta surge cada vez mais como opção. Apesar do crescimento do uso, ainda é preciso avançar muito. Em ciclovias e educação no trânsito, tanto de motoristas, quanto de ciclistas, principalmente. Esperamos contribuir para essa mudança – complementa a ciclista Viviane Lenzi da Rocha que, quando se casou com Júlio, foi convencida a vender o carro.
O casal não parece ter se arrependido de trocar as pistas engarrafadas pelas ciclovias. E eles parecem ter motivo para isso.
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No Desafio Intermodal de Florianópolis, realizado no fim de outubro pela Associação dos Ciclousuários da Grande Florianópolis (ViaCiclo), bicicletas foram apontadas como os meios de locomoção mais eficientes e sustentáveis no horário de maior movimento das vias. O resultado foi obtido a partir da comparação de dados de distintos meios de transporte em relação ao tempo de deslocamento, velocidade média, emissão de poluentes, gasto energético e custo econômico. Conforto, praticidade e segurança também foram levados em consideração.
– É difícil se locomover no trânsito para quem tem experiência, imagina para quem está começando? Mas é possível e é isso que queremos mostrar – defende Júlio.
Projeto tem bikes próprias, mas também dá a opção para o aluno trazer a sua. Foto: Diorgenes Pandini/Agência RBS
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Brincadeira de criança
Foi Júlio quem deu segurança no guidão à pequena Kali Ferreira dos Santos, 9. A menina tem uma bicicleta há dois anos, mas não tinha espaço para aprender e praticar até a avó, Luciane Zickuhr, inscrevê-la na Escola Bike Anjo. Na segunda aula, Kali já se solta. E prova que crianças têm a mesma vontade, mas bem menos medo do que adultos em cima da bicicleta.
– Estou gostando muito. Aprendi a pegar impulso assim com o pé, que era o que eu não sabia fazer. Agora vou pedalar com a minha mãe – planeja a menina.
Os instrutores garantem que, agora, “é só andar”.
Serviço
O quê: Escola Bike Anjo, que oferece aulas gratuitas de bicicleta para iniciantes
Como: As aulas acontecem uma vez por mês a partir de inscrição prévia no bikeanjo.org
Quando: Segundo domingo do mês, geralmente, das 16h às 19h
Onde: Em frente à reitoria da UFSC
Quanto: Gratuito, mas quem quiser pode contribuir para manter as bicicletas utilizadas nas aulas
Fique atento!
Ciclistas experientes podem participar do projeto sendo um “anjo”. É possível ensinar alguém a andar de bicicleta, acompanhar um iniciante em alguma rota ou participar de oficinas e passeios. Mais informações em bikeanjo.org ou pelo Facebook.
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