Em um mundo de suposições, imagine que em 2017 o Metropolitano chegue às quartas de final da Série D do Brasileiro. Serão os dois jogos mais importantes da história do clube, afinal de contas naquele momento se decidirá pelo sonhado acesso à terceira divisão. Mas tem um problema: pelo regulamento da competição, o Metrô não poderá jogar a partida em casa no Estádio do Sesi, o seu lar, por conta da capacidade mínima de público exigida pelo regulamento da competição. Todo o esforço e apoio do torcedor para chegar até a mais relevante das fases será colocado de lado porque Blumenau não tem um estádio que caiba pelo menos 5 mil pessoas.
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Para nós, aqui no Vale do Itajaí, essa é apenas uma situação hipotética, mas que pode ocorrer no ano que vem. Para o pessoal do Oeste, porém, esse é um detalhe que já faz parte da vida real após o anúncio da Chapecoense nesta sexta-feira de jogar a final da Copa Sul-Americana no Couto Pereira, em Curitiba. São 467 quilômetros de distância entre toda a história construída até agora na Copa Sul-Americana e a determinação de um documento da Conmebol que coloca a capacidade de público como fator para determinar o local de uma decisão – com o pretexto da segurança, conforto.
O torcedor da Chapecoense está em lua de mel há alguns meses com o time. A campanha na Série A aliada ao enredo da competição internacional, fizeram explodir o sentimento de amor pelo clube. Esse casamento, porém, terá de sofrer uma breve separação. A ida ao Paraná para os 90 minutos mais importantes da história de Chapecó se tornará um aperto no peito do torcedor, protagonista em tudo o que aconteceu com o Verdão do Oeste nos últimos seis anos e que foi coroado com uma decisão internacional.
É preciso repensar os critérios que fazem com que um estádio possa receber uma partida desse nível ou não. Será que a Arena Condá realmente não tem condições de sediar a decisão da Sul-Americana? Por que um local que foi palco de uma semifinal não pode ser também parte do contexto de uma final? Excetuando questões que envolvem o entorno e preparação de pessoal, por que um time como o Bournemouth, na Inglaterra, pode receber clubes como Manchester United, Manchester City, Arsenal, Chelsea no seu estádio com capacidade para 11,5 mil torcedores e a Chapecoense não pode jogar na sua casa um jogo decisivo contra o Atlético Nacional da Colômbia?
Por mais que o argumento “capacidade de público” esteja respaldado por fatores complementares como segurança e conforto, não é por não poder receber 40 mil pessoas que a Arena Condá deixa de ter esses fatores. Imaginando mais uma situação, em que seguranças estão preparados e em que há todo um planejamento estratégico para auxiliar na mobilidade urbana, será que Chapecó não poderia ser a capital do futebol das Américas pelo menos por um dia?
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Para a Conmebol, não. Lamento por aquela criança que vai para a escola com a camisa do clube, que joga bola com as cores da Chapecoense, que dorme vestido com seu manto sagrado e que tem o goleiro Danilo como herói supremo. Lamento porque, caso seus pais não queiram, ele não irá ser testemunha ocular do dia mais importante da história do universo em Chapecó.