Senhoras e senhores, acabou. Com choro, inclusive. Muito choro. Choro na sexta, com Alison e Bruno no vôlei de praia, choro no sábado, com o ouro mais cobiçado da história da humanidade, choro no domingo, com um time questionado e, ao mesmo tempo, iluminado. Até São Pedro chorou. O final de semana inteiro, diga-se de passagem. Uma chuva constante que serviu para lavar a alma – piegas, né? – de um país inteiro. País esse alvo de críticas. Disseram que não seríamos capazes de organizar um evento desse porte. E nós soubemos. Mais do que isso. Colocamos o tempero mais singular e exclusivo que pode existir: a torcida brasileira. Uma torcida que vibrava incansavelmente em qualquer esporte onde houvesse a bandeira com as cores verde, amarelo, azul e branco. Sacudimos arenas antes “insacudíveis”. Nem a esgrima, tão de elite, escapou. Torcemos pelo boxe como se o amanhã não existisse, cantamos pelo polo aquático como se fosse tradicional por aqui.
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Transformamos o tiro esportivo, tão quieto, em festa com uma prata-quase-ouro. Ex-quieto. Conseguimos a proeza de incendiar a vela. Com Grael. Não Lars, ou Torben. Mas com Martine e sua companheira Kahena. As zebras que fizeram explodir a Marina da Glória. Glória. Explodir, aliás, é o verbo que resume o que vimos quando Renaud Lavillenie derrubou o sarrafo e foi superado por Thiago Braz, o que trouxe uma medalha de ouro tão inesperada. O francês até reclamou das vaias, bateu pernas, questionou, mas nada poderia manchar aquele momento. Bem-vindo à terra do Braz. Brasil. Aqui somos assim. Vestimos a camisa. Lotamos a Lagoa Rodrigo de Freitas como se fossem as riquíssimas regatas cariocas do início do século passado. Mas não era remo. Era Isaquias, da canoa, baiano pobre. Pobre na infância, hoje rico demais. Literalmente ou figurativamente. Tanto faz.
É relativo falarmos em redenção, mas inevitável ao mesmo tempo. Assistimos à Rafaela Silva metamorfosear a comemoração do judô e igualá-la a um gol. E que gol. Redenção com Hypólito, o Diego, e a medalha que fugia dele como o diabo foge da cruz. E o vôlei? Ah, o vôlei. Mostrou-nos que homens também choram. E como choram. Lágrimas que vieram à tona após serem enterradas junto com o sonho em Pequim e Londres. O campeão voltou. Aliás, no futebol, 2008 e 2012 também ficaram para trás. Ou melhor, 120 anos se tornaram passado em um Maracanã, palco do trauma de 1950, que teve um novo capítulo escrito em sua história. O tão, tão cobiçado ouro olímpico veio, dentro de casa, suficiente para nos despertar uma verde esperança.
Senhoras e senhores, acabou. Vamos esperar que apenas na teoria. Na prática, essa Olimpíada nos mostrou que o brasileiro gosta, e muito, de esporte. Não só do futebol. Precisamos apenas de um empurrãozinho, como a megaexposição dada nas últimas duas semanas, para apoiarmos aquilo que, teoricamente, é alternativo. Que sirva de lição, que nos desperte sensações, que novos talentos sejam descobertos. Falta muito para 2020?
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