Áudios obtidos com exclusividade pelo Fantástico e divulgados em uma reportagem exibida na noite deste domingo (24), na TV Globo, revelam a articulação de militares que planejavam aplicar um golpe após o resultado das Eleições presidenciais, em 2022. As falas circularam em um grupo de militares de alta patente que, de acordo com a investigação da Polícia Federal (PF), preparavam um plano que incluía até uma conspiração para matar o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
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Ainda segundo a PF, o general da reserva e ex-número 2 da Secretária-Geral da Presidência, Mário Fernandes, foi o responsável por articular a trama golpista. Durante as conversas, ele se mostrou exaltado em diferentes momentos, conforme revelam os áudios, e teria afirmado, sem provas, que houve fraude na eleição.
“Qualquer solução, caveira, tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, sem quebrar cristais”, consta em um áudio atribuído ao general.
“Tá na cara que houve fraude. Tá na cara. Não dá mais pra gente aguardar essa p…”, também alegou Mário Fernandes, em 4 de novembro.
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O Fantástico teve acesso a 55 áudios no total. No grupo, pessoas próximas a Mário Fernandes e oficiais do Exército também se manifestavam sobre o assunto:
“Eu tô pedindo a Deus pra que o presidente tome uma ação enérgica e vamos, sim, pro vale tudo. E eu tô pronto a morrer por isso”, afirma um participante não identificado.
“O presidente tem que fazer uma reunião com o petit comité. Esse pessoal acima da linha da ética não pode estar nessa reunião. Tem que ser a rataria. Tem que debater o que vai ser feito”, diz outro oficial do Exército.
“A defesa quer o clamor popular, como foi em 64”
Ainda conforme a investigação, os acampamentos em frente aos quarteis registrados no final de 2022 faziam parte de um movimento arquitetado pelos militares. Além disso, o próprio general Mário Fernandes era quem se comunicava com esses grupos, segundo a PF.
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Em um dos áudios, o general também chega a citar 1964 como referência àquilo que planejavam. O ano, vale lembrar, foi marcado pelo golpe militar e início da ditadura no Brasil, naquela época.
“Talvez seja isso que o alto comando, que a defesa quer. O clamor popular, como foi em 64. Nem que seja pra inflamar a massa. Para que ela se mantenha nas ruas.”, afirmou Fernandes em áudios que circulavam entre os golpistas.
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Em um outro áudio, Fernandes revela ter tido uma conversa com o então presidente Jair Bolsonaro a respeito da diplomação da chapa Lula e Alckimin, no TSE:
“Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição? Qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro. Tudo. Mas aí na hora: pô, presidente. A gente já perdeu tantas oportunidades”, mostra a gravação.
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Nesta mesma data, em 12 de dezembro de 2022, manifestantes tentaram invadir o prédio da PF, incendiando, também, carros e ônibus em Brasília.
“O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o c… Quatro linhas da constituição é o c… Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa”, afirmou ainda um oficial do Exército.
37 pessoas indiciadas
Wladimir Matos, agente da Polícia Federal, teria sido o responsável por repassar ao grupo que planejava o golpe de estado informações sobre a equipe de segurança e a localização de Lula, apontou também a investigação.
Nesta quinta-feira (21), após a conclusão da investigação pela PF, 37 pessoas pessoas foram indiciadas, entre elas o ex-presidente Jair Bolsonaro, o general Walter Braga Netto, candidato a vice na chapa de Bolsonaro; Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça; Valdemar Costa Neto, presidente do PL; e Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência.
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A reportagem do Fantástico chegou a procurar a defesa do general Mário Fernandes e do Policial Federal Wladimir Matos, presos nesta semana pela Polícia Federal, mas não foram localizadas.
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