Atuação de lobistas no Ministério do Trabalho teria consentimento de Lupi, diz jornal

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, permitiria a atuação de lobistas dentro do ministério para negociar a liberação do registro sindical, afirma o jornal O Estado de S. Paulo nesta segunda-feira. Segundo a reportagem, são ex-funcionários da pasta, alguns ligados ao próprio Lupi, que agem como intermediários, com livre acesso aos gabinetes, para acelerar processos, furar a fila, negociar pendências e garantir para um sindicato parte do bolo anual de R$ 2 bilhões arrecadados com o imposto sindical.

Quem aceita pagar o pedágio do lobby teria a promessa de jogo rápido, segundo sindicalistas ouvidos pelo jornal. De 2007 até hoje, período em que Carlos Lupi está no comando, cerca de 1.120 entidades sindicais conseguiram registro.

Na terça-feira passada, Lupi encontrou a lobista Martha Moreira de Freitas na reunião do Conselho Curador do FGTS, presidido pelo ministro. Ela é do Grupo de Apoio Permanente (GAP) do conselho e ainda recebe para cuidar dos interesses dos 400 sindicatos filiados à Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) nos processos de registro sindical no ministério.

Martha tem trânsito livre no gabinete da secretária de Relações do Trabalho, Zilmara David de Alencar, que recebe os pedidos de carta sindical. A relação próxima da secretária com a lobista é antiga.

A “consultora” Martha de Freitas, como ela se apresentou à reportagem, trabalhou na pasta até 2009. Confessou, inclusive, que ajudou a fazer a portaria 186, que estabeleceu em 2008 novas regras para o registro sindical. Hoje, ajuda sindicatos a consegui-lo. Procurada pelo jornal, ela disse:

– Não cite meu nome pelo amor de Deus. Você quer f… com meu trabalho.

A lobista admitiu que sua influência é o segredo do negócio.

– Se eu falar que não tenho contato, estou sendo hipócrita. Ajuda porque tenho conhecimento, não vou utilizar meu conhecimento? Eu ajudei a fazer a portaria – disse.

Ela não quis revelar quanto cobra para conseguir o registro:

– Não vou falar preço de nada. Tem sindicatos que podem pagar melhor, tem outros que tenho dó e faço de graça. Você quer complicar minha vida, a imprensa está desacreditada.

A contratação da intermediação abre caminho, segundo sindicalistas, para agilizar os processos e, inclusive, barganhar o “preço” do registro, algo que o ministério sempre negou acontecer apesar de denúncias recorrentes.

Procurada, a assessoria do ministério informou que “não dispõe de informações sobre a vida profissional de prestadores de serviços contratados por empresas interpostas”.