A atriz e youtuber Gabie Fernandes, que tem mais de 3 milhões de seguidores no canal Depois das Onze, acaba de lançar um novo projeto, o livro “23 Motivos Para Não se Apaixonar”. Aos 25 anos, Gabie reuniu crônicas escritas desde os 14 anos para trazer reflexões e desmistificar o amor.
Continua depois da publicidade
> O Gambito da Rainha: família catarinense fala sobre participação na série da Netflix
Nascida em Florianópolis, Gabie construiu um público fiel no Youtube ao lado da também catarinense Thalita Meneghim. No Instagram são mais de um mihão de seguidores. O livro com ilustrações do artista plástico Nestor Jr, que se tornou o mais vendido da Amazon em apenas um dia de pré-venda, foi pensando para esse público que já a acompanha e que compartilha tristezas e desilusões com o amor, mas principalmente como uma forma de libertação de sentimentos da própria autora.
Em entrevista, a atriz conta um pouco mais sobre o livro, seu processo de autoconhecimento e seus planos para o futuro. Confira:
> “O Dilema das Redes”: documentário da Netflix é ponta do iceberg de problemas muito maiores
Continua depois da publicidade
Com apenas 25 anos você está compartilhando conhecimento sobre o amor e sobre relacionamentos. Esse livro traz experiências vividas por você?
O livro traz bastante experiência que eu vivi, bastante coisa que eu passei, mas também traz uma visão que eu construí sobre relacionamentos que me cercavam, mas não eram necessariamente meus… relacionamentos dos meus familiares, de amigos. Juntei as minhas vivências com as vivências de relacionamentos à minha volta para construir o livro.
Você acredita que as pessoas estão se interessando mais e mais cedo em aprender a lidar com os seus sentimentos?
Acredito que sim! Acho que quando surgiu a pandemia, e principalmente por causa dela, as pessoas se viram muito sozinhas e tendo que lidar e conviver com elas mesmas… o que nem sempre é fácil, né. Quando a gente está cheio de coisa para fazer, trabalhando, cumprindo a rotina, encontrando pessoas, meio que acabamos esquecendo do que se passa na nossa cabeça, temos pouco tempo para nos preocupar com o que sentimos, o que pensamos. E agora, com esse tempo que nos obrigou a ficar sozinhos, a gente começou a encarar os nossos medos, as nossas angústias, as nossas lutas internas… e aí as crises existenciais ganharam também um espaço para serem trabalhadas e entendidas. Até por conta disso, acho que cada vez mais as pessoas querem saber lidar com elas mesmas.
> Uma década de audiovisual e a participação feminina no setor em Santa Catarina
Você escreveu o livro pensando no público que já te acompanha em outros trabalhos?
Também! Eu também pensei na galera aqui que me segue e segue comigo, porque eu recebo muita mensagem das pessoas falando que estão decepcionadas com o amor, que estão tristes, sofrendo por isso… mas o livro em si é muito um desabafo pessoal, um sentimento que estava dentro de mim há muito tempo e eu precisava colocar para fora. Falar sobre amor de um jeito saudável, para mim, é uma necessidade, uma das minhas missões, e é um discurso que eu acredito e quero levar para minha vida. Então o livro foi feito, também, para as pessoas que me acompanham, mas é muito mais um trabalho para eu colocar para fora, dividir o que penso.
Continua depois da publicidade
Como foi o processo de escrita dos 23 capítulos do livro?
Eu sempre escrevi muito, desde muito nova, e sempre tive vários textos guardados, que nunca pensei que fossem virar alguma coisa ou que seriam lidos por outra pessoa. Até que enviei um desses textos para o Ricardo Coiro, um autor que admiro muito, e ele gostou e mostrou para o pessoal da Editora Planeta. Eles conversaram comigo e perguntaram sobre o que eu queria escrever, qual temática teria um livro escrito por mim… então eu fui visitar todos os meus textos antigos e percebi que muitos eram sobre amor, relacionamentos, e tive esse insight: é sobre isso! Junto com isso, também teve um acontecimento na minha vida em que eu percebi, de fato, que falar de amor era necessário. Eu comecei a reescrever alguns textos antigos meus, revisitei alguns – um dos capítulos do livro tem um que escrevi aos 14 anos -, e passei a escrever outros também, agora com outra cabeça, e com a postura de alguém que já passou por outros relacionamentos, que já terminou, já voltou, já amou, já sofreu…
A busca por amor próprio e autoconhecimento é algo que precisa ser constante. Como é esse processo para você?
Realmente é uma busca constante na minha vida. Esse processo não é linear, pelo menos para mim. Tenho altos e baixos, tem dias que eu estou muito bem comigo mesma, tem dias que eu estou mais triste, para baixo. Passando a me conhecer melhor, eu tento aproveitar muito os dias bons, porque eles que me dão forças para passar pelos dias ruins.
> La Casa de Papel: catarinense registra filmagens da última temporada da série da Netflix
Quando se trata de amor próprio, autoconhecimento, não adianta a opinião dos outros sobre você… não adianta você ouvir mil vezes que você é bonita, inteligente, engraçada… Você precisa acreditar em si, para que quando pessoas falarem contrário, você siga fortalecida para não se abalar, e rebater. Esse processo de fortalecimento acontece nos dias bons, e me ajuda a passar melhor pelos dias ruins.
Continua depois da publicidade
Como a Gabie de 10 anos atrás se imaginava e como você imagina seu futuro daqui 10 anos?
A Gabie de 10 anos atrás tinha zero autoestima, não gostava muito dela mesma, estava passando por várias crises… para o futuro, ela acreditava que teria uma profissão só, que trabalharia e que faria isso nesta vida. Hoje eu percebo que gosto de fazer muitas coisas diferentes, que sempre vou fazer muitas coisas diferentes, novas, que eu não vou me contentar com somente uma coisa. Também percebo que eu, hoje, me amo cada dia mais. Espero que daqui a 10 anos, eu me surpreenda positivamente comigo mesma, assim como eu me surpreendo agora ao ver o quão longe eu fui em tantos aspectos, comparada a quando tinha 14 anos. Espero que esteja fazendo que eu amo, independente do que for… se for escrever, atuar, dirigir ou sei lá… plantar árvores! Espero que eu seja muito feliz fazendo o que estiver fazendo, que eu consiga constituir minha família, ajudar as pessoas que eu amo, concretizar os meus sonhos. Espero que a Gabie daqui a 10 anos seja muito orgulhosa dela mesma.
Os EUA acabou de eleger a primeira vice presidente mulher, podemos dizer que as mulheres estão vivendo um momento de descoberta, assumindo um papel na sociedade que antes parecia impossível. Como youtuber você influencia milhares de jovens, como você encara a responsabilidade de construir um discurso que fortaleça esse caminho?
Eu acho que cada vez mais, as pessoas encontram na internet um lugar de conhecimento, tanto para o bem quanto para o mal. No meu caso, eu tento levar no meu discurso para as mulheres, aquilo que elas não receberam de alguma maneira.
No meu podcast, por exemplo, eu falo sobre autoestima, síndrome de impostora, felicidade… questões que às vezes a gente não ouve de quem a gente precisa, de quem está perto da gente. Eu sinto que as minhas vivências quando eu tive depressão e anorexia, poderiam ter sido amenizadas, mais gentis, se eu tivesse ouvido conselhos e conversado com alguém da minha idade, alguém que fala da mesma maneira que eu.
Eu tenho e aceito essa responsabilidade de construir na internet um lugar de mais carinho, de cuidado, para meninas e mulheres que me seguem. O caminho que eu escolhi seguir nesse espaço é falar para jovens mulheres aquilo que eu gostaria de ter escutado antes, até para nos fortalecermos entre nós.
Continua depois da publicidade
Na contramão desse caminho, temos cada vez mais casos de violência contra a mulher. Você acredita que a discussões sobre amor próprio e autoestima podem contribuir para que as mulheres não aceitem mais o lugar de inferioridade presente em relacionamentos abusivos, por exemplo?
É muito complicado falar que as mulheres aceitam o lugar de inferioridade.
Eu acho que, de alguma maneira, essas discussões sobre amor próprio e autoestima podem sim ajudar uma mulher em situações de relacionamento abusivo, mas muitas vezes não é uma questão de aceitação. Tem vários motivos mais complexos, e até mesmo a falta de autoestima, quando existe, é mais complexa nos casos em que uma mulher não consegue sair de um relacionamento abusivo.
Nesses casos, o que a gente tem que fazer não é só discutir e apresentar essas ideias, mas olhar para essas mulheres, dar voz e apoio quando elas estão enfraquecidas e não podem fazer isso por elas mesmas. Denunciar é muito importante, se meter tomando medidas legais que a vítima não tem condições de ir atrás, também. É necessário que além da discussão, façamos uma rede de apoio para que essas mulheres saibam que serão acolhidas, terão casa, carinho, voz, e quem brigue por justiça por elas…
Continua depois da publicidade
Acho que não se perde nada quando você tem autoestima e autoconhecimento, só se tem a ganhar, mas às vezes não é o suficiente, e fica complicado assumir que as mulheres nessa situação aceitam sem ser inferiores.