A pediatria tem sido um dos principais problemas na saúde de Joinville, em 2022. Após dois anos com a força de trabalho voltada para a Covid-19, por causa da gravidade da pandemia, o município agora precisa enfrentar outros desafios, como os atrasos no atendimento das crianças e a falta de médicos.
Continua depois da publicidade
> Acesse para receber notícias de Joinville e região pelo WhatsApp
Uma reportagem do Jornal do Almoço, da NSC TV, mostrou alguns casos de pais que precisaram recorrer às unidades de saúde para atendimento médico para os filhos e encontraram dificuldades. A funcionária pública Daiane da Lapa levou na UPA Leste as duas filhas, de quatro e 10 anos, com tosse, dor de garganta e febre.
— Tive que vir de carro, do outro lado da cidade praticamente, e já faz três horas que estou aqui esperando. Nem passei pela triagem ainda — revelou à reportagem.
A família mora no bairro Itaum e procurou atendimento no PA Sul, mas foi informada de que a unidade não conta mais com pediatras. Por isso, precisou se deslocar até a Zona Leste para conseguir consultar com um médico.
Continua depois da publicidade
Outro caso foi da operadora de máquinas Maria Aparecida Pereira, que tentou atendimento no posto de saúde do bairro, mas não conseguiu uma consulta porque havia poucas vagas disponíveis.
— Tenho que ir pela manhã para conseguir pegar uma ficha, mas lá só estão entregando oito fichas. Então, a gente tem que se obrigar a vir no PA, por isso que está causando essas lotações — explicou.
> Hospital Infantil de Joinville tem tempo de espera para atendimento superior a 10 horas
Atualmente, o atendimento pediátrico de urgência e emergência acontece apenas na UPA Leste e no Hospital Infantil Doutor Jeser Amarante Faria. A unidade, de responsabilidade do Estado, também sofre sobrecarga desde o fim do ano passado.
Nos últimos meses, houve casos de pais que precisaram esperar mais de 10 horas por um atendimento. A costureira Rosa Noemia da Rosa aguardou quase quatro horas nesta semana para conseguir ver o médico para a filha.
Continua depois da publicidade
— Dá uma ansiedade muito grande. Não adianta fazer escândalo, mas a gente entra em um desespero — contou à NSC TV.

Inverno deve gerar mais demanda nos hospitais
Apenas em março, o Hospital Infantil atingiu recorde de atendimento, com quase 10 mil crianças. A previsão para abril é chegar próximo deste número, mas a preocupação é com os meses seguintes, com a aproximação do inverno, quando aumentam os casos de problemas de saúde nas crianças.
O médico e vereador Cassiano Ucker foi autor de uma moção na Câmara para sugerir à prefeitura a criação de um comitê de crise para discutir soluções para a pediatria em Joinville. Segundo ele, a cidade passa por um ponto fora da curva.
— Nós estamos com uma demanda de atendimento emergencial muito grande em uma época fora do previsto. Se agora a gente não está dando conta, imagina quando chegar o inverno, quando aumentam os casos respiratórios, bronquiolites, asmas e pneumonias — comentou em entrevista à CBN Joinville.
Continua depois da publicidade
Para o médico e diretor técnico do Hospital Infantil, Rafael Oku Fernandes, é quase inevitável ter um tempo de espera tão grande para atendimento com o aumento da demanda fora do planejado. Segundo ele, a percepção de momento é uma questão cultural da busca das pessoas pela porta do hospital.
— Eu gostaria muito que fosse diminuída essa demanda com outras portas de acesso, justamente nas demandas de baixa complexidade. Que o paciente pediátrico também pudesse ser atendido nas unidades de pronto-atendimento e nas unidades básicas de saúde — defende.

Problemas para contratação de médicos
Além do problema de aumento da demanda e a necessidade de absorção dos pacientes de toda a região em Joinville, o secretário municipal da Saúde, Jean Rodrigues da Silva, também inclui um desafio envolvendo a contratação de médicos para a rede pública.
De acordo com Jean, houve processos seletivos abertos pela prefeitura que tiveram a inscrição de apenas seis médicos. Porém, são necessários 24 profissionais para criar uma nova escala em um pronto-atendimento, por exemplo.
Continua depois da publicidade
> Joinville quer contratação de “nova” especialidade para atendimento na saúde
Em entrevista a NSC TV, o secretário apontou que a primeira estratégia para melhorar a urgência e emergência pediátrica na cidade é garantir que a escala médica da UPA Leste esteja em operação completa.
— Tivemos exonerações de profissionais que pediram para sair pela alta procura, pela sobrecarga de trabalho. Tivemos buracos nas escalas, por isso estamos contratando agora para termos na urgência e emergência, pelo menos, a UPA Leste e o Hospital Infantil — explicou.
Segundo ele, também estão sendo criadas estratégias para dar suporte aos médicos da família nas unidades básicas. A ideia é aumentar a possibilidade de resolver o problema dos pacientes no posto de saúde, sem precisar encaminhar novamente para o atendimento na UPA, onde já existem as filas.
Orientação é buscar as unidades básicas
O secretário da saúde também afirmou que uma das soluções encontradas pela prefeitura foi chamar os 86 médicos da família que realizaram o concurso do município. O objetivo é abrir as portas das unidades básicas para os atendimento primários, que não são de urgência e emergência.
Continua depois da publicidade
— Neste momento, a gente orienta a busca pelas unidades básicas de saúde, em horário comercial, para receber as orientações dos profissionais, fazer o tratamento e acompanhamento para sinais de gravidade — explica Jean.
Ele afirma que não adianta a população procurar o hospital todos os dias com o mesmo quadro de saúde. A orientação é buscar a urgência e emergência apenas quando houver agravamento, como febre alta constante, vômito ou qualquer outro sintoma fora do normal.
Leia também:
Câmara de Joinville aprova projeto sobre acesso de religiosos a hospitais
Joinville pretende oferecer 20 mil consultas mensais por telemedicina
Quase 140 mil pessoas em Joinville estão aptas a tomar a dose de reforço contra a Covid
SC aplicou apenas 160 multas por falta do uso de máscaras em um ano de obrigatoriedade