Poucos dias antes de subir ao palco do Warren Stannis Festival em Guaramirim, no Norte catarinense, a reportagem do A Notícia conversou com o cantor e compositor pernambucano Alceu Valença, que se apresentará no evento de música na tarde deste domingo (18).

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Numa conversa por telefone de pouco mais de 40 minutos, entre uma resposta e outra, Alceu falou sobre o período de pandemia, cantou “Andar, andar” enquanto remetia aos tempos que antecederam a fama, e até leu uma das crônicas que escreveu para o livro que está por lançar.

Autêntico e cheio de espontaneidade, Alceu diz que prepara apresentações diferenciadas para cada formato de show. Em Guaramirim, garante que trará os grandes clássicos, incluindo La Belle de Jour, que chegou à marca de 220 milhões de visualizações no YouTube na quarta-feira (15).

— Eu tenho uma coisa, vários tipos de show. Para show de festival é uma coisa, no teatro é outra, assim como no Carnaval. Será um show especial de festivais — diz.

A “clausura” da pandemia

Antes de voltar para a estrada, o artista viveu um longo período de “clausura”, como descreve os dias que passou em isolamento social. De dentro de casa, acompanhava o movimento das ruas e o barulho que já se iniciava nas primeiras horas da manhã.

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Quando tudo se aquietava, aproveitava o silêncio da noite para dedilhar seu violão. Mas ficar mais de um ano sem subir aos palcos não foi uma fase nada agradável para Alceu.

— Foi cruel demais — define.

Foi nesta proximidade com o instrumento, no entanto, que nasceu o primeiro disco dos quatro lançados no decorrer de 2021, no formato voz e violão. O projeto, composto pelos álbuns Sem Pensar no Amanhã, Saudade, Senhora Estrada e Alceu Valença e Paulo Rafael, conta com músicas inéditas e releituras de canções de sucesso da vasta obra do compositor.

Ele diz que, antes da pandemia, era praticamente impossível tirar tempo para tocar violão e quase nunca o levava em suas viagens para shows, mas isso mudou durante o isolamento.

— Em casa, naquela clausura, não saía pra lado nenhum e ficava tocando. Minha mulher adorou — conta, aos risos.

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Fenômeno da internet e fama

Alceu acredita estar acontecendo um “fenômeno” na música nacional, sobretudo do MPB, que tem ganhado cada vez mais espaço fora do território nacional por meio de festivais de forró e de outros gêneros genuinamente brasileiros.

Para ele, o que explica esta projeção de artistas locais para o mundo é a internet, principalmente o Youtube, que tem democratizado o ambiente musical e rompido as barreiras.

— Se não fosse a internet, jamais o tal do Alceu poderia estar com esses números aí. Antes da internet, quem era que mandava? A gravadora! Ela dizia o que era pra tocar — afirma.

Mesmo sabendo o que explica o número de acessos a suas músicas e de outros artistas, para o cantor ainda é um mistério a questão do que pode se tornar viral. Em uma de suas caminhadas pelas ruas do Rio de Janeiro, próximo de casa, ele notou que artistas de rua tocavam “Tropicana” e se aproximou para cantar junto.

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Pessoas que estavam no local filmaram a situação e, em poucos minutos, o vídeo já estava na internet e, conforme Alceu, viralizou. Em outra ocasião, ele, na companhia de sua banda, gravaram uma de suas músicas num local público de Portugal e também colocaram na internet, mas a resposta não foi a esperada.

— E o que aconteceu? Absolutamente nada. É uma coisa inexplicável.

Cantarolando “Andar, andar”, Alceu Valença diz ser um “caminhador” e anda, religiosamente, 10 mil passos por dia — meta que controla por um aplicativo instalado no celular.

— É para serotonina, hormônio da alegria — explica-se.

Antes da fama, conta que saía tranquilamente na rua e até brincava o Carnaval. Agora, sai discretamente para não ser reconhecido. Para ele, a internet, principalmente os celulares, tiraram a privacidade das pessoas.

— Na década de 80, houve um “boom” na minha carreira, fui um dos maiores vendedores de discos. Aí, na época, não tinha celular, eu ia pra Olinda, eu brincava Carnaval, nos blocos… e eu tinha uma namoradinha, e de repente ela sai comigo e uma moça pede autógrafo num LP. Depois disso, a menina passou o Carnaval todo sem falar comigo. Na Quarta-feira de Cinzas eu perguntei o que tinha acontecido. Era por causa da mulher do LP — ri, ao destacar o episódio.

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“Surtos criativos”, crônicas e projetos

Além da música, Alceu Valença já deixou claro em outras entrevistas seu gosto pela literatura. Mais que um leitor assíduo, o artista começou a escrever poemas já na juventude e alguns deles foram até publicados no Jornal do Commercio e no Diário de Pernambuco. Em 2015, chegou a lançar o livro “Poeta da madrugada”, onde reuniu algumas dessas poesias que haviam sido publicadas nos jornais.

Durante os “surtos criativos”, forma como a esposa de Alceu define seus momentos de inspiração, o cantor compõe música, escreve poesias e, ultimamente, tem feito crônicas. Ele aproveitou as noites de insônia, a pandemia e as longas viagens de avião quando ia para shows para ocupar o bloco de notas do celular com seus escritos.

Inclusive, durante a ligação, fez a leitura de um dos textos, intitulado “o cronista”, ainda inédito, que pode estar no livro que está por lançar. Ele diz que está tudo pronto, mas quando questionado quando irá publicar, a resposta é simples: “não sei”.

“Adoro digitar notas no meu celular, é muito bom pra relaxar o tempo e ocupar a mente […] Escrever é santo remédio, que nos afasta do medo e do tédio”, cita um trecho da crônica lida por Alceu.

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Sem data prevista para o lançamento de seu livro de crônicas, Alceu Valença se limitou a falar de projetos futuros. Ele conta que, antigamente, por conta do contrato com as gravadoras, era comum que, em seis meses do lançamento de um trabalho, “começava a surgir músicas novas na cabeça”. Coisas do inconsciente, diz ele.

Mas atualmente, a história é outra. Desligado dos números – quem cuida deste departamento é a esposa -, Alceu segue tudo no seu tempo e evita planejamentos, já que sua arte não é programada, ela simplesmente acontece.

— Eu faço o que eu quero, do meu jeito. E dessa maneira a coisa vai acontecendo, vai indo desde o início, da minha maneira — enfatiza.

O festival

O festival de música em Guaramirim vai reunir grandes nomes nacionais nos dias 18 e 19 de junho no Condomínio Aeronáutico Aeropark Vale Europeu, na estrada Poço Grande. Entre as atrações confirmadas, além de Alceu Valença, estão nomes como Djonga, Duda Beat, Marina Sena, Raimundos e Titãs.

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Segundo a organização do evento, o line-up terá mais de 14 bandas e atrações extras em uma estrutura com dois palcos. O evento inclui atrações de diferentes gêneros musicais, como rap, rock, reggae, forró e pop.

Também haverá opções de comidas e bebidas para o público, além de outras apresentações artísticas, como a dupla de artistas visuais Bicicleta Sem Freio.

O evento é restrito para maiores de 18 anos e pessoas de 5 a 17 anos precisam estar acompanhado dos pais ou responsáveis.