Ao lado da Igrejinha de Pedra no bairro Rio Tavares, em Florianópolis, fica a sala de ensaios da Traço Cia de Teatro. Sexta-feira passada os atores Débora de Matos e Egon Seidler ensaiavam, incansáveis, as gags de seus personagens-palhaços Esmeralda e Jubi com o cuidado de não assustar o povo palestino com tanta brasilidade. Exatamente agora, enquanto você lê essas palavras, eles estão numa área de guerra e conflito na Cisjordânia para tentar levar um pouco de riso a quem vive em constante tensão. Eles são os únicos brasileiros a participar do 2º Festiclown Palestina, festival de palhaços em campos de refugiados que começou ontem e segue até o dia 9 de outubro nas cidades de Belém, Jerusalém, Nablus, Ramalá e Vale do Jordão.
Continua depois da publicidade
LEIA TAMBÉM
Conheça Iván Prado, responsável pelo festival de palhaços do mundo árabe
Agenda Cultural para o fim de semana na Grande Florianópolis
Continua depois da publicidade
Há quatro anos a companhia catarinense fundada em 2001 realiza o projeto (A)Gentes do Riso junto aos pacientes do Hospital Infantil Joana de Gusmão, na Capital. Esse mesmo trabalho está sendo apresentado nos hospitais árabes. Mesmo sem saber o idioma, os atores confiam numa comunicação que é universal e inerente ao ser humano: o sorriso. Claro, tem truque de mágica, música e o jogo clássico de palhaços.
– Nos hospitais temos o apoio de outras formas de comunicação e já estamos acostumados com a questão da fala. Acreditamos que o palhaço trabalha com um princípio que é de todo ser humano, porque todo mundo pode ser estúpido e ridículo- diz o ator Egon Siedler.
O espetáculo levado para o Oriente Médio é uma extensão do (A)Gentes do Riso e está sendo apresentado também nas ruas, praças e teatros.
Continua depois da publicidade
Débora e Egon embarcaram no domingo à noite de Florianópolis e se juntaram a outros 13 artistas de diferentes países para a segunda edição do Festival. Por questões de segurança, apenas 15 pessoas tiveram autorização para participar.
– Ficamos com medo porque o evento estava marcado para ocorrer em janeiro passado no Líbano e o cancelaram porque as autoridades não podiam garantir a segurança – comenta Egon.
Riso contra a tensão
O evento é organizado pelo Pallasos em Rebeldia, organização espanhola dirigida por Iván Prado cujo propósito é levar a arte da palhaçaria para locais onde existem conflitos militares ou injustiças sociais. A primeira edição do Festiclown Palestina foi em 2011 e outras edições do evento foram realizadas em várias partes do mundo, inclusive em favelas cariocas e em aldeia indígena do Nordeste do Brasil. É de lá que a Traço Cia de Teatro conheceu o trabalho de Iván.
Continua depois da publicidade
– Conhecemos Iván Prado no Rio de Janeiro, no Festival Anjos do Picadeiro, há cerca de quatro anos. Depois ele veio para Florianópolis participar do festival RiCatarina e os laços se estreitaram – conta Débora.
Hoje a Traço é uma das parceiras no Brasil do Pallasos em Rebeldia.
A participação dos artistas catarinenses está sendo subsidiada pelo projeto Esmeralda e Jubi – Festiclown Palestina, por meio do Edital de Intercâmbio 2/2013 do Ministério da Cultura.