A arquibancada do estádio é um barranco onde cada torcedor acha o melhor espaço para acompanhar a partida em um banco de madeira trazido do salão ao lado, onde na mesma hora acontece um chá de bebê. Alguns trazem a própria cadeira de praia debaixo do braço, até com guarda-sol em alguns casos. Antes da bola rolar, papo vai e vem no boteco ao lado do campo, onde a cerveja é vendida sem restrições e o amendoim e o pastel aparentemente ainda não foram afetados pela inflação. Da casa e visitantes ficam na mesma área, sem nenhuma divisão, e brincam com os adversários. O ingresso custa R$ 10 e vem até gente de fora para assistir a primeira partida da final do Campeonato Municipal de Futebol Amador, em Blumenau, decidida no clássico entre Salto do Norte e Atlético Itoupava, times que rivalizam o torneio nos últimos quatro anos.

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Às 15h do sábado, quando a partida está prestes a começar, os times entram no campo do estádio Rainoldo Rinkus, casa do Salto do Norte, e alguém abre o porta-malas de um carro estacionado na beira do gramado. Das caixas de som do Gol (o carro, não a meta do campo) sai o Hino Nacional que antecede o jogo. Hora da bola rolar.

Em campo estão garotos que treinam em escolinhas dos bairros, atletas de fim de semana que passam por vários times de futebol amador da região e jogadores que já vestiram camisas de clubes profissionais e hoje vivem do amador. É o caso de Vando, camisa 10 do Salto do Norte que já passou pelo Metropolitano e pelo futebol alemão, mas há três anos entra em campo somente nos finais de semana.

– Não tem que treinar durante a semana, cada jogador se prepara sozinho e a gente só se encontra na hora de jogar no fim de semana. Faço umas duas partidas por fim de semana e hoje ganho mais do que na época de profissional. Durante a semana ainda trabalho e faço faculdade – conta o jogador de 33 anos.

Em campo o jogo é pegado, com muita lama no gramado castigado pela chuva forte do dia anterior. A cada bola isolada que passa das redes de proteção do estádio, um esforçado gandula corre buscar a gorduchinha no ribeirão que passa atrás do campo. Além do barranco dividido em três alturas que serve de arquibancada, os torcedores acompanham de perto a partida das janelas de um galpão em construção no clube.

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– Eu ajudei a plantar a grama desse campo aqui. Venho em todas as partidas. Futebol amador tem seu charme – diz o torcedor do Salto do Norte Vanderlei Fraga, de 49 anos.

Na torcida, que reuniu pelo menos 150 pessoas, tem espaço para famílias e pessoas de todas as idades. O pessoal da casa vibra quando Rodriguinho abre o placar para o Salto do Norte no segundo tempo, mas a tensão aumenta nos minutos finais quando o clássico pega fogo. No último lance da partida o árbitro marca pênalti para o Atlético Itoupava, que empata o duelo em cobrança de Rafael Carioca. Torcedores das duas equipes brincam e xingam os adversários, mas o clima de amizade continua assim que o apito final soa e todos seguem para o bar ao lado do gramado discutir o jogo.

Com o empate por 1 a 1 o Atlético Itoupava fica na vantagem para o segundo jogo da final, no próximo fim de semana, no estádio Guilherme Jensem. Com outro empate por até um gol o time da Itoupava Central sai vitorioso e coroa uma temporada invicta.