Menos discriminação e mais investimento no esporte. Foi o que pediram nesta sexta-feira os atletas paraolímpicos brasileiros ao desembarcar no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. A delegação do Brasil trouxe na bagagem 47 medalhas – entre elas, 16 de ouro – conquistadas na Paraolimpíada de Pequim.
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– Acho que a gente cansa de mostrar que somos um produto altamente vendável. A gente torce para que isso, no futuro, melhore. A gente busca isso e acredita nisso – disse o nadador André Brasil, que conquistou cinco medalhas em Pequim, entre elas, quatro de ouro.
André, Daniel Dias (nove medalhas na natação), Terezinha Guilhermina (três medalhas no atletismo) e Lucas Prado (três medalhas no atletismo) foram apelidados de os quatro fantásticos pelo Comitê Paraolímpico Brasileiro.
Para o secretário-geral do comitê, Andrew Parsons, ainda falta investimento privado para o Brasil se tornar uma grande potência paraolímpica.
– Hoje, o investimento no esporte paraolímpico ainda é feito por meio do Comitê Paraolímpico Brasileiro e acredito que falte maior envolvimento da iniciativa privada, principalmente no que diz respeito às federações e clubes. Ou seja, se a elite do esporte paraolímpico brasileiro tem uma estrutura razoável, ainda falta muito para a gente se equiparar às grandes potências – afirmou.
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A ausência de mais patrocinadores no esporte também foi criticada pelo atleta Lucas Prado, ganhador de três medalhas de ouro nos 100m, 200m e 400m.
– Estou com uma meta ambiciosa de correr abaixo dos 11 segundos. Para isso, o atleta tem que ter apoio e uma estrutura forte por trás dele porque senão não agüenta. São lesões, suplementações caras e isso é difícil para o atleta bancar sozinho – reclamou.
Prado também lamentou a ausência de centros de treinamento específicos no Brasil para a prática do esporte.
– Hoje, o Brasil não tem um centro de treinamento como outros países. O certo seria ter um em cada cidade, em cada estado. Mas isso é muito difícil, é um investimento muito caro. Mas quem sabe não apareçam grandes empresas que apóiem os movimentos olímpico e paraolímpico juntos?
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Logo após desembarcar em Guarulhos, Prado afirmou ainda existir muito preconceito no Brasil contra pessoas que são portadoras de algum tipo de deficiência:
– Muitas pessoas acham que, por alguém ser cego, podem pegar a doença dele. Isso eu já ouvi muitas vezes.
Segundo ele, os atletas estão conseguindo mudar essa situação e vencer, aos poucos, a discriminação.
– Muitas pessoas acham que deficiente é aquele coitadinho que não é capaz de correr. Mas estamos mudando isso de pouquinho em pouquinho e conseguindo nosso espaço – afirmou.
O nadador Daniel Dias acredita que a campanha brasileira nas Paraolimpíadas pode impulsionar a prática de esporte no país:
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– A gente espera que, com esses resultados, várias pessoas e deficientes que ficam escondidos em casa saíam para praticar esportes. Nós, deficientes, somos como qualquer outra pessoa. Temos nossas limitações, mas somos atletas.
Segundo Dias, a prática de esporte por pessoas portadoras de alguma deficiência também é um fator importante para aumentar a auto-estima:
– O esporte vai ajudar muito. Vai ajudar na auto-estima do deficiente. Antes de praticar eu pensava: ‘Por que fui nascer assim?’ Mas fui para minha primeira competição e olhei a minha deficiência e vi que não era nada perto de muitas. Realmente é fantástico estar nesse meio paraolímpico. Você vê a superação de muitas pessoas.