Foram meses de treino puxado, perda de peso, venda de rifas e vaquinha para conseguir dinheiro, tudo com um único objetivo: participar do Campeonato Brasileiro de Muay Thai, que acontece neste sábado (1º de dezembro) em São Paulo. Assim foi o ano de sete atletas do bairro Tapera, no sul da Ilha. Mas o que poderia ser recompensado se transformou em frustração. Os atletas não conseguiram participar da competição porque o voo marcado para as 7h40min deste sábado foi cancelado. Todos tiveram que voltar para casa derrotados e, o pior, sem terem lutado.

Continua depois da publicidade

Rhaquel Espíndola, de 20 anos, lutadora do Centro de Treinamento Gutierre Soares, conta que esta seria a primeira vez que os atletas Natalia Bessa, Bruno Silva e Antoni Mello, de 14 anos, Igor Pupila e Lucas Henrique, de 17, e Edson Buakaw, de 18 anos, iriam participar de uma competição nacional. Todos treinaram o ano inteiro, com férias apenas no final do ano, para se prepararem para o campeonato em busca de medalhas e do cinturão.

Além dos treinos, todos tiveram que unir forças e arregaçar as mangas para conseguir dinheiro para as despesas recorrentes da viagem. Passagens aéreas, reserva em hotel, translado, alimentação e inscrição da luta, tudo foi possível através de ajuda. Segundo Rhaquel, a garotada fez rifas, vaquinha e conseguiu alguns apoios com comércios locais.

— Só temos apoio da academia e de alguns comércios do bairro que nos ajudam quando temos competição, em troca da divulgação da marca nas nossas redes sociais, mas não temos apoio do governo, da prefeitura, é muito difícil — diz.

Depois de tanto esforço, o grande dia chegou. Os atletas foram para o aeroporto às 5h30min para aguardar o voo. Mas não conseguiram embarcar. Alguns voos foram cancelados ainda na noite de sexta-feira (30) por causa do mau tempo em São Paulo, o que impactou os voos ainda na manhã de sábado.

Continua depois da publicidade

— O valor perdido para eles não é nada, o pior de tudo foi o desespero que eles ficaram porque é um sonho que eles têm. Se preparam o ano todo pra isso, alguns tiveram que perder peso para se enquadrar na sua categoria, o Edson perdeu sete quilos, eu perdi 10 quilos em menos de um mês, então foi muito frustrante, choramos bastante, entramos em desespero e não conseguimos ajuda para embarcar — diz.

A companhia aérea GOL chegou a encaminhar os atletas para um voo de outra companhia, mas já não havia mais vaga. O único voo disponível era o das 16h, mas a competição começava às 10h. Todos tiveram que voltar para casa.

— Nós adultos até conseguimos entender, mas para uma criança que se prepara, que se dedica, que sai da escola e vai pra dentro da academia treinar, perder peso para poder participar de um evento, que não tem férias e treinam o dia inteiro, pra eles é muito triste — lamenta.

Segundo Rhaquel, os atletas vão pedir o reembolso das passagens aéreas e também devem entrar com uma ação judicial por danos morais, pelo transtorno causado.

Continua depois da publicidade

— O voo já estava cancelado desde sexta à noite e a GOL não nos avisou, se tivessem avisado poderíamos ter ido de ônibus e conseguiríamos chegar lá hoje de manhã.