Os giros, os saltos, os mortais vão continuar na vida do ginasta do Grêmio Náutico União (GNU) Michel Conceição, mas a partir da semana que vem o cenário das acrobacias mudará radicalmente. Após 18 anos na ginástica – 10 deles com passagens pela seleção brasileira e sete no clube de Porto Alegre -, Michel vai trabalhar na companhia Cirque du Soleil.
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O novo cenário para as acrobacias de Michel será o de luzes e cores de Saltimbanco, espetáculo que a companhia mostrou aos brasileiros no ano passado, no Rio e em São Paulo. Para a temporada deste ano, o show será remodelado. Embora fã, o ginasta da União não pôde estar na platéia.
– Mas já assisti várias vezes em DVD, sempre gostei – anima-se ele.
A rigor, Michel nem deve mais ser chamado de ginasta do União. Sua saída do clube foi oficializada no final de janeiro. A viagem que marca a virada na vida do atleta de 24 anos, no entanto, está marcada para este domingo – dia de seu aniversário. Ele voará para Montreal, no Canadá. Seu destino é o alojamento da companhia (sua nova casa pelos quatro meses seguintes), onde encontrará muitos ex-atletas (é sabida a preferência do grupo circense por eles). Foi o amigo Rodrigo Oliveira – que também treinou no União e hoje trabalha no Cirque – quem deu informações sobre a companhia, para a qual Michel enviou fita com imagens suas ainda em 2005.
– Quando mandei a fita, estava descontente com a ginástica e a confederação. Só que precisava passar na audição, que não teve. Então, continuei na ginástica, não me arrependo, o ano passado (2006) foi bom – explica Michel, referindo-se à conquista do campeonato brasileiro no ano passado, um título que o levou de volta à seleção brasileira para competir o Mundial, em outubro.
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Ainda que a vida no Cirque du Soleil seja por si só atraente – tanto como projeto de vida quanto financeiramente -, a decisão de se aposentar tem a ver com um certo desestímulo.
– Quando precisou de mim, a seleção me ajudou muito. Ano passado, fui superbem tratado. Quando não precisa, não trata bem. Foi o que ocorreu em 2005. Não tenho por que ficar vivendo assim. Não preciso mais provar que sou importante para a seleção – desabafa.
No Mundial, na Dinamarca, o ginasta encontrou profissionais do casting do Cirque du Soleil, que lhe informaram sobre a audição. No dia 29 de novembro, lá estava ele, em uma academia de ginástica de São Paulo. Dos 60 participantes, apenas sete foram aprovados – Michel e outra ginasta da seleção brasileira: Camila Comin.
– A gente pára na frente deles e dizem: “Muito obrigada, mas você não serve”. É bem assim. Para entrar, tem de se encaixar num perfil específico que eles estão procurando para um espetáculo – relembra.
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Michel já conhece o primeiro desafio do contrato que vai até 31 de dezembro de 2008. No espetáculo Saltimbanco (que percorrerá EUA e Canadá), saltará de um balanço, de banco único, em movimento. Lançado a uma altura de cinco a seis metros, ele executará piruetas e mortais até cair em uma cama elástica. A estréia será em 31 de julho.
– Serão sete horas de treinos. Na ginástica, a gente gasta isso só na parte física. No circo, vai incluir tudo. Fisicamente, vou cansar menos, mas mentalmente, acho que não. Tem a parte de teatro e dança. Não é só ginástica, é ser artista. Sei que eles são bem exigentes – completa.
O Cirque du Soleil é uma das companhias circenses mais famosas da atualidade. Foi criada em 1984, no Canadá, por isso o nome em francês, que quer dizer “Circo do Sol”. Hoje, são mais de 3 mil funcionários, 600 deles artistas, de diferentes países. Essas companhias são o destino de ex-ginastas, e a preferência pelos atletas é assumida. Olheiros do Cirque costumam estar na platéia de mundiais de ginástica, e a companhia chega a montar estandes na área das competições.
Ex-integrante da seleção brasileira de ginástica artística, Camila Comin também foi selecionada pelo Cirque na mesma audição da qual participou Michel. Ela viajaria no dia 2 de fevereiro para Montreal, no Canadá, onde substituirá uma integrante do espetáculo itinerante Corteo.
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Loraine Luz