Você provavelmente já passou por ela no trajeto para o trabalho ou para levar os filhos na escola. Com um percurso de dar inveja a muito jovem marmanjo frequentador de academia, três vezes por semana Esmeralda Triay se desloca de sua casa, na Rua 2 de Setembro, até o Terminal do Garcia marchando. E volta, é claro. São 25 quilômetros que se transformaram em três medalhas de ouro no Campeonato Mundial de Atletismo Master em Perth, na Austrália. Tudo para valer a pena o fato de acordar às 4h30min – sem usar o recurso da soneca do celular, viu? – e se preparar para os desafios que vêm pela frente.

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Sempre bem-humorada e disposta, como conta o técnico dela, Ivo da Silva, a atleta encara os dois períodos diários de treinos como se fossem degraus a serem superados. Curiosamente ela só começou a marchar há seis anos, quando optou por deixar de lado a corrida de rua para se dedicar à modalidade, que deu as maiores conquistas de sua vida há pouco mais de uma semana. Tudo por conta da vontade – às vezes exagerada – de vencer.

– Queria que todos os atletas que treino tivessem essa motivação e dedicação que ela tem – destaca o treinador.

Paulistana de nascimento, baiana por alguns anos, Esmeralda optou por morar em Blumenau em 2006, logo depois de uma viagem de férias pelo Vale do Itajaí. Se apaixonou pela cidade e resolveu, ao lado do marido, se estabelecer por aqui. Conheceu o técnico, novos amigos e, principalmente, a marcha atlética, independentemente da idade avançada para uma atleta de alto rendimento.

– Não penso em quantos anos tenho, penso nos resultados que preciso conquistar. Estou na minha melhor fase – conta Esmeralda, orgulhosa, embaixo da garoa que caía na pista de atletismo da Furb e se misturava com a emoção estampada no seu rosto.

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Apoio do marido foi essencial para as conquistas

Enquanto as crianças querem ganhar brinquedos de presente de aniversário, adolescentes esperam roupas da moda e adultos preferem ser surpreendidos, Esmeralda ganhou algo um tanto diferente a alguns dias de completar 52 anos (a serem celebrados no próximo dia 26): a passagem para uma cidade na costa Oeste da Austrália onde ocorreria a competição mais importante de sua vida. Um mimo do marido Juan Bagur Triay tratado como um baita empurrão.

– Eu trouxe três presentes para ele – brinca a marchadora ao se referir às três medalhas de ouro que conquistou nas provas de 5 quilômetros, 10 quilômetros e 20 quilômetros.

Para 2017, Esmeralda tem dois grandes objetivos: um depende dela mesma e outro exige forças externas. Marchando, ela quer vencer a prova de 50 quilômetros (equivalente a ir do Estádio do Sesi até o acesso de Itajaí) na Copa Brasil de Atletismo em março do ano que vem. Fora das pistas, o desafio é buscar um parceiro da iniciativa privada. Sem receber para treinar e sempre tendo que tirar dinheiro do bolso para competir, encontrar um patrocinador é visto como um salto necessário:

– Até para me dar ainda mais motivação para continuar os treinamentos, né?

Essa é a Esmeralda, que não mede esforços para seguir brilhando na marcha atlética.