A discussão sobre cotas raciais teve mais um capítulo nesta terça-feira, após a publicação do texto “Eu sou racista“, da colunista Cíntia Moscovich. Instigada por um vídeo em que um grupo de ativistas do movimento negro que defende a ampliação das cotas raciais para entrada na USP discute com alunos da faculdade durante uma aula, a colunista escreveu que “nunca palavras foram tão injustas na boca de quem reclama“. Acabou causando revolta entre muitos, principalmente nos comentários no site de ZH e no Facebook.
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Entre os 55 comentários na coluna, os mais votados pelos leitores são críticos. Laura Assis diz que “além de absurdo, o texto é desonesto” e “raso e até meio burro”, já que “esquece de mencionar que o caos se instala quando o cara que está filmando diz algo como ‘quer entrar na USP? Estuda, é só estudar'”. Nas respostas, Giovanna Dealtry concorda: diz que o texto “empatiza com alunos brancos, mas não com negros ‘mal-comportados'”.
Cleiton de Freitas, delegado de polícia licenciado e vereador pelo PDT, autor do projeto de lei que transforma o Dia da Consciência Negra em feriado, concorda:
– Eu vejo na universidade um laboratório para discutir ideias. Só que a discussão não é essa da coluna. Tem que lembrar que esse grupo que busca cotas nunca teve oportunidade. O medo que se tem é que os negros ocupem espaços que as pessoas pegaram para si como se fossem só delas. As condições dadas são completamente diferentes para brancos e negros. Ou então os negros são inferiores, porque não tem negro na melhor universidade, nos melhores empregos – diz Cleiton.
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Cíntia diz que a maioria das críticas veio de pessoas que não leram o texto – e que provavelmente se basearam no título, irônico. Além disso, ela acredita que pessoas com mais visibilidade também geram mais ódio, escrevam o que escreverem:
– Eu acho que as pessoas não leem. Dão uma lida na diagonal, não procuram ter conhecimento de causa, dos fatos, da história e já têm uma opinião instantaneamente formada. Além do mais, estão sempre alinhadas com o politicamente correto e têm ojeriza a quem tem algum destaque em qualquer coisa.
Apesar das críticas, a autora diz ser “simpática à causa dos negros”, mas que “questiona as cotas”. Além disso, garante que respeita as opiniões contrárias, desde que venham com a intenção de agregar conteúdo à discussão, como foi o caso do escritor Jeferson Tenório, que teve inclusive seu texto compartilhado pela colunista Facebook.
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Cíntia, me desculpe, mas você errou.É espantoso e preocupante o artigo “Sou racista” da escritora Cíntia Moscovich….
Posted by Jeferson Tenório on Segunda, 13 de abril de 2015
Em seu texto, Tenório diz que “é espantoso e preocupante” o fato de a autora ter considerado “uma das coisas mais impressionantes” a interrupção da aula feita pelos jovens negros. “Ver 12 corpos de pessoas negras na chacina do Cabula (BH), mortos covardemente pela polícia, por exemplo, me parece muito mais impressionante”, diz o autor.
Os comentários no site de ZH fazem coro: “Escrever um texto desse pegando um lado da questão de maneira simplista, quase rasteira (…) é exclusivamente para polemizar”, diz o leitor Walcyr Mattoso. “Tu achas que ‘comer mariola só uma vez por semana’ se compara à vida de pessoas verdadeiramente pobres?”, questiona Gabriela Trezzi.
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– Eu acho que o título agravou tudo, porque tem gente que só leu o título. Mas a minha posição nunca vai ser racista, eu não odeio ninguém. Eu não posso é concordar com quem quer cassar o direito de falar da professora – diz a colunista.