Poucas cidades vivenciam tanto a principal matriz econômica quanto Itajaí. É do porto que entram e saem os contêineres que circulam pelas ruas, e de onde erguem-se os gigantescos portêineres, que movimentam as cargas e servem como ponto de referência.

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É para os terminais portuários que se dirigem os navios que enchem de vida o Rio Itajaí-Açu e surpreendem os olhos e ouvidos desatentos, com seu longo apito. Não há exagero em dizer que, sem o porto, não haveria Itajaí.

A história conta que a movimentação portuária começou no século 18, muito antes da emancipação da cidade, que completa 159 anos neste sábado. Na época, a mata que era derrubada para dar início à produção agrícola no Estado virava madeira. E era de pequenos portos, em Itajaí, que ela seguia para o Rio de Janeiro, a capital do Império.

Décadas depois, o porto serviu como porta de entrada a boa parte dos imigrantes que colonizaram o Vale do Itajaí. Os navios de passageiros chegavam abarrotados à barra, mas nem sempre era possível atracar. As condições de navegação eram ruins, e o Rio Itajaí-Açu tinha obstáculos como bancos de areia, que impediam as embarcações de entrar no canal.

Muitas vezes, era preciso fundear o navio próximo à Praia de Cabeçudas, onde as condições eram mais favoráveis, e os imigrantes seguiam, em pequenos barcos, até a areia. Passavam dias, às vezes semanas em Itajaí, antes de seguirem viagem Vale adentro. A indicação sobre a navegabilidade era feita pelo atalaia, como era chamado o vigia da barra. Com uma bandeira, ele sinalizava aos navios se era seguro entrar no canal. É por isso que a Praia da Atalaia, uma das mais conhecidas de Itajaí, leva esse nome.

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– Tudo isso foi sendo resolvido aos poucos, na medida em que cidades como Blumenau, Luiz Alves, Gaspar, foram se desenvolvendo, e houve uma demanda por um porto bom, de calado mais fundo. O Porto de Itajaí sempre foi uma continuação do processo que se dá no Vale – explica o jornalista e historiador Magru Floriano.

Junto com os imigrantes vieram os processos de importação de mercadorias, que mexeram com a economia de Itajaí. Ao longo dos anos, o desenvolvimento do Vale transformou também o porto, e Itajaí se especializou em oferecer serviços.

A exportação de madeira continuou como o forte do porto até meados da década de 1960, quando o mercado entrou em crise. E o porto, também. Sem trabalho, muitos portuários deixaram as famílias em Itajaí e embarcaram nos navios em busca do ganha-pão. A maré baixa duraria pouco tempo – logo começou o ciclo dos contêineres, que transformou o Porto de Itajaí em uma potência logística.

A movimentação de cargas ainda era muito diferente do que se vê atualmente, toda mecanizada. Até a década de 1980, os navios frigoríficos, por exemplo, eram preenchidos caixa por caixa com o frango que vinha do Oeste do Estado. O carregamento chegava a levar 10 dias, e envolvia dezenas de trabalhadores.

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Hoje, os contêineres frigorificados são carregados em poucas horas, e viajam o mundo levando, a partir de Itajaí, um pouco de Santa Catarina.

Municipalização é única no Brasil

No início, a operação portuária era particular, feita por empresas que se instalaram ao longo do rio. Na década de 1950, o governo federal inaugurou o Porto de Itajaí como conhecemos atualmente, de estrutura pública, subordinada à União.

Até 1990, o porto esteve ligado à empresa pública Portobras, que acabou dissolvida pelo governo. A ordem era que os terminais fossem incorporados às Companhias Docas mais próximas, e Itajaí passou a responder à de São Paulo.

Em crise institucional, o porto foi abraçado por Itajaí. A cidade, em campanha, conseguiu a municipalização da gestão. Algo inédito e um case de sucesso: em 30 anos, o porto municipalizado passou a movimentar 1500% mais cargas.

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– A cidade de Itajaí tem uma participação efetiva nas decisões do porto, e o porto tem uma participação muito grande na cidade. Por ser um porto praticamente localizado no Centro, a movimentação de cargas interage bastante com a cidade, é uma historia que não dá para separar. É um casamento perfeito – diz Heder Moritz, assessor técnico da Superintendência do Porto de Itajaí.

Luis Carlos Sousa, NSC TV
(Foto: Luis Carlos Sousa, NSC TV )

Movimentação também é poesia

Ao longo das últimas décadas, o sucesso do porto e da teia logística que se criou ao redor dele estimulou a criação de outros terminais ao longo do rio. Itajaí e Navegantes têm hoje um Complexo Portuário, o segundo maior do país em movimentação de contêineres.

Em 2018, os terminais locais receberam quase mil escalas de navios e movimentaram mais de 1,1 milhão de TEUs, medida que é usada para contabilizar contêineres de 20 pés.

Para quem vive a cidade, no entanto, os números têm outro significado. O maior movimento se traduz em avistar mais vezes o espetáculo de um navio entrando na barra, no fim da tarde. Ou logo no início da manhã, quando o sol faz brilharem os gigantes de aço que cruzam os oceanos.

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Um porto pode representar a roda da economia a girar, a abertura para o mundo, uma atividade impactante e pesada. Mas também tem sua poesia.