Há 12 anos, o lixo descartado pela população de Camboriú vai para um terreno localizado no fim da Rua Rio Pardo, no Bairro Rio Pequeno. Mas só até o fim do mês de janeiro. A partir de fevereiro, todo o material descartado pela cidade vai para Biguaçu, em um aterro sanitário particular que recebe os detritos da maioria das cidades da região.

Continua depois da publicidade

Quem vai sentir a diferença é o cidadão. Principalmente no bolso – a tarifa de coleta aumentou, em média, 65%. A justificativa da prefeitura é o aumento no custo, principalmente do transporte.

– Além do valor de R$ 110 por tonelada que tínhamos com a coleta, agora teremos mais R$ 115 (também por tonelada) para fazer o transporte até Biguaçu, o que no total dará R$ 225 por tonelada – explicou o secretário de Saneamento Básico, Janir Francisco de Miranda.

A decisão de fechar o aterro sanitário da cidade veio do Ministério Público e se a prefeitura não cumprir, a multa diária é de R$ 5 mil.

– A gente já sabia que não tinha como crescer além do espaço que temos. Tentamos tudo o que deu, mas está no limite – comentou o secretário.

Continua depois da publicidade

Um dos motivos para a interdição do espaço é que antes mesmo dele se tornar um aterro sanitário, o lixo já era depositado no local, mas não era tratado da forma correta.

– Por causa disso, o subsolo aqui está todo contaminado. E não tem mais como a gente crescer porque existem algumas nascentes aqui do lado – comentou Miranda.

A licitação com a Proactiva, empresa de Biguaçu, já foi feita há quatro anos, junto com a que decidiu a empresa vencedora da coleta – a Ambiental. Mesmo com o fechamento do aterro, os caminhões continuam indo até o local.

Só que ao invés de despejar no terreno, o lixo irá direto para as carretas da Proactiva e, de lá, para a Grande Florianópolis. Segundo Miranda, hoje são produzidas cerca de 58 toneladas diárias de lixo, o que dá mais de 1,7 mil toneladas por mês.

Continua depois da publicidade

Prefeitura quer revitalizar o espaço

Com o fechamento do aterro sanitário, a prefeitura de Camboriú já começa a planejar o que será feito no espaço. Em um primeiro momento, a ideia é fazer a manutenção do local e cercá-lo com árvores. Depois, esperar toda a queima dos dejetos e a saída para o chorume (líquido produzido pela decomposição) e que vai para uma lagoa, onde é feita a areação do produto, o que evita a contaminação do solo.

A ideia de cercar o espaço com árvores é o avanço das residências na região do aterro. Alguns terrenos já receberam terraplenagem e estão prontos para receber novas casas. E em um deles, há previsão de construção de um conjunto habitacional. O secretário garante que, depois que o lixo é aterrado, não existe mais o mau cheiro.

O professor do curso de Engenharia Ambiental da Univali, Alexandre Lerípio, disse que não dá para precisar quanto tempo cada aterro leva para que os resíduos se decomponham.

– O tempo de decomposição dos resíduos que compõem a fração orgânica do lixo doméstico pode variar bastante, mas certamente vai além de uma década – esclarece.

Continua depois da publicidade

Segundo o professor, pesquisas realizadas na União Europeia apontam que a taxa de redução da matéria orgânica foi de cerca de 45% em média após 10 anos, o que revela a lenta degradação processada em aterro sanitário. Para Lerípio, revitalizar um espaço como este requer muito estudo.

– Existem riscos associados aos depósitos antigos de lixo que precisam ser considerados, como por exemplo a geração de gases. A revitalização recomendada seria o envelopamento dos resíduos antigos com a instalação de drenos de efluentes e gases, seguido de reflorestamento com espécies nativas – explica.

O especialista afirma ainda que, considerando os riscos, deveria ser muito bem estudada a hipótese de transformação do espaço em parques ou área de recreação. Se não fosse possível estudar a fundo os prejuízos, recomendaria outros usos que não envolvam seres humanos.

Ideia é reforçar a coleta seletiva

Para tentar diminuir este custo para a população, a prefeitura quer aumentar a coleta seletiva e o consumo consciente, e assim diminuir a quantidade de lixo orgânico produzido na cidade. O material reciclável, hoje, é levado até uma cooperativa no Bairro Monte Alegre.

Continua depois da publicidade

– Hoje a gente recolhe cerca de quatro a cinco toneladas por dia de lixo reciclado. Nossa ideia é aumentar este número em pelo menos 50% nos próximos anos. Mas é um trabalho difícil, porque conscientizar a população é algo que temos que pensar a longo prazo – acredita o secretário.

Calendário

A ideia é que a população já separe o lixo de acordo com o material e que tenham datas específicas para recolher cada uma delas.

– Por exemplo, a cada 15 dias vamos recolher o vidro. Mas o cidadão precisa saber que é necessário limpar o material reciclável, lavar a embalagem e evitar que ela se misture com o lixo orgânico. Por isso precisa ser feita uma campanha intensiva, especialmente com as crianças – comentou Miranda.