Afogados pelo grande número de jihadistas que retornam da Síria ou inspirados pela Al-Qaeda ou o Estado Islâmico, a polícia e os serviços secretos franceses já esperavam um ataque terrorista em uma escala sem precedentes, tal como os ocorridos na sexta-feira à noite no coração de Paris.

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– Os atiradores de sexta-feira são certamente pessoas que já se conheciam, que foram treinados para não atrair a atenção, para se manter fora do radar, avançar sozinhos e atacar juntos – acrescenta. – E você pode abrir um Guantanamo francês no Larzac (zona rural do sul do país) e prender os milhares de indivíduos que retornam da Síria, mas ainda assim você nunca vai conseguir impedir oito caras de pegar em armas.

Os suicidas estavam todos equipados com cintos ou coletes explosivos, que acionaram para cometer seus ataques ou quando estavam prestes a ser mortos pela polícia. Um sinal de que esta rede jihadista possui um artífice capaz de fabricar tais equipamentos, o que não está ao alcance de qualquer um conectado à internet.

– Isso é novo e é certamente um dos eixos do inquérito. O especialista em explosivos é muito precioso, ele nunca participa nos ataques. Então ele está aí fora, em algum lugar – acrescenta Alain Chouet

O envolvimento de Paris na guerra contra o EI no Iraque e na Síria mobiliza, e continuará a mobilizar, milhares de voluntários internacionais que se juntam às fileiras do grupo jihadista e um número ainda maior de internautas que defendem sua causa e que comemoram os ataques de sexta, glorificando seus autores e ameaçando realizar novos ataques.

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MAPA DOS ATAQUES

– Obviamente, é necessário mobilizar todos os nossos recursos, mas temos de saber: haverá outros – disse à AFP uma fonte policial, que pediu para permanecer anônimo. – É muito fácil para um jovem encontrar uma arma, pegar um carro e agir. Olhe para Israel: é um país muito pequeno, com um enorme esquema de segurança, um serviço militar de três anos, e eles continuam a ser atingidos.

Além disso, o ataque contra Charlie Hebdo, liderado por dois irmãos conhecidos há anos pelos serviços especializados, prova que além dos jovens recrutas que retornam da Síria, também devem manter sob vigilância os velhos jihadistas.

– Em tal situação, tudo é possível – confidenciou na manhã deste sábado à AFP uma fonte próxima à investigação. – Pode se tratar de caras vindos do exterior, mas bastante inteligentes e treinados para passarem sem serem notados. Mas podem também ser agentes adormecidos, aparentemente inofensivos há anos. Esse é o eterno problema das prioridades. Fazemos listas de acordo com a periculosidade presumida. Mas como ter certeza de que não estamos errados?

Embora os meios dos investigadores e dos serviços de combate ao terrorismo tenham sido reforçados este ano, o recrutamento, a formação de agentes, a implementação de muitas das disposições da lei sobre a inteligência estão em andamento e ainda não estão operacionais.

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Ao longo dos anos e através de milhares de páginas de instruções e tutoriais encontrados na internet, os jihadistas também aprenderam a usar meios técnicos para permanecer anônimos.