O número de atendimentos de pacientes com acidente vascular cerebral (AVC) teve uma pequena melhora em maio em Joinville, mas continua preocupando especialistas. O Hospital São José, referência no atendimento, recebeu 133 pacientes durante todo o mês, representando uma queda de 29,4% em relação ao mesmo período do ano passado. No entanto, o número ainda é melhor do que nos meses anteriores.
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Em um levantamento realizado do primeiro mês de isolamento social, entre 18 de março e 17 de abril, os atendimentos caíram 41%, se comparado aos números do mesmo período de 2019. Por isso, os dados de maio já apontam uma melhora, mas ainda está abaixo do esperado.
A neurologista Carla Moro, uma das diretoras da Associação Brasil AVC (ABAVC) e médica da unidade de AVC do Hospital São José, aponta dois motivos principais para a queda na procura dos pacientes. Um deles é o medo da possível contaminação pelo coronavírus durante o atendimento hospitalar. O outro é o negligenciamento de sinais e sintomas leves de AVC.
Além disso, ela ressalta que houve um aumento de casos de AVC do subtipo hemorrágico em maio. São aqueles em que os pacientes usam anticoagulantes e sofrem sangramento cerebral pela falta de controle dos parâmetros de coagulação. Eles precisam fazer a coleta de sangue seriada, por exemplo.
Segundo a neurologista, o aumento desse subtipo mostra uma consequência das restrições ao acesso na atenção primária de saúde. Houve a redução de 51 para 36 unidades de saúde abertas para o atendimento desse público em Joinville – as outras 15 foram direcionadas exclusivamente para o combate ao coronavírus.
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– Várias mudanças foram realizadas em todo o sistema de saúde brasileiro para proporcionar o atendimento aos indivíduos acometidos pela Covid-19, claro, necessários, mas o impacto direto na assistência de demais doenças é evidente e os danos à médio e longo prazo ainda está por vir – aponta.
Os sinais de AVC iniciam repentinamente!
— Associação Brasil AVC – ABAVC (@ABAVC_Oficial) April 6, 2020
A pandemia do #covid-19 vai passar, mas se a pessoa tiver um AVC #stroke e não procurar atendimento, vai ter sequelas com as quais terá que conviver para o resto da vida.
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Redução nos atendimentos de ataque isquêmico
Outra preocupação da neurologista é a redução nas admissões por Ataque Isquêmico Transitório (AIT). São os casos de pessoas que se recuperam completamente e não ficam com sequela. No entanto, esse é o momento em que pode ser feita a avaliação do paciente para iniciar a prevenção secundária e reduzir em 80% os riscos de apresentar um caso grave de AVC.
Segundos os dados do Hospital São José, os pacientes com ataque isquêmico representavam 12% da unidade de AVC/AIT no primeiro quadrimestre deste ano. No mesmo período do ano passado, eram 14%. Já em maio deste ano, o percentual caiu para 3% dos pacientes.
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– Eles não estão chegando mais. Estão em casa, isolados, têm os sintomas, se recuperam e não dão bola. Também não vêm no hospital porque já tiveram os sintomas e não têm mais – explica Carla.
Áreas separadas garantem segurança dos pacientes
A médica reforça que a população precisa continuar seguindo as orientações de procurar hospitais e pronto-atendimentos apenas quando realmente precisar. E ressalta que casos de ameaça de AVC são graves e tratados como emergência.
– O Hospital São José está preparado para atender esses pacientes. Houve uma organização no atendimento em que suspeitos de virose ou coronavírus vão para uma área e pessoas com sintomas de AVC vão para outra. Então, o risco de contágio é mínimo – ressalta.
A orientação é de que pacientes com sintomas de AVC liguem para o Samu, que vai realizar o atendimento, avaliar a situação e fazer o encaminhamento para a unidade de saúde apropriada. Hoje, o Hospital São José é referência no atendimento ao AVC na rede pública
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