As motivações para escolher viver em Florianópolis são muitas já que a cidade oferece um conjunto de benefícios à população, como oportunidades de trabalho, qualidade de vida e contato com a natureza. Apesar disso, em momentos de necessidades básicas como acesso à saúde e vagas na educação pública, esses serviços essenciais nem sempre dão conta da demanda da população. Eles fazem parte dos desafios para a Capital catarinense se desenvolver e não apenas crescer em tamanho.

Continua depois da publicidade

Receba notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp

A paulista Karin Dias se mudou para a cidade para trabalhar na alta temporada e decidiu ficar. O primeiro local onde a promotora de eventos morou foi na comunidade da ‘Maloca’, no bairro Estreito. Durante a pandemia da Covid-19, foi diagnosticada com uma hérnia muito dolorida e iniciou o tratamento na Policlínica do Continente. Hoje, ela mora em Canasvieiras para ficar mais perto do trabalho, mas ainda precisa cuidar da saúde no mesmo local, a mais de 30 quilômetros de onde reside atualmente.

— Eu frequento lá até hoje para todos os exames que eu tenho que fazer. Mesmo morando em Canasvieiras e não tendo o suporte que eu deveria ter aqui no posto de saúde, que eu não consegui. Até já estou preocupada porque eu estou para fazer uma cirurgia — relata Dias.

Morar em Florianópolis é desafio entre altos preços e ocupações de áreas sem segurança

Continua depois da publicidade

A região Norte da Ilha de Santa Catarina cresceu muito na última década. Apenas na UPA Norte são mais de 7 mil atendimentos mensais durante o ano. No verão, a demanda mais que dobra com a presença dos turistas e o número de pacientes atendidos chega a 15 mil.

A procura por consultas no sistema básico também é grande. A prefeitura tem ampliado alguns centros de saúde pra tentar absorver um pouco da carência, mas o ritmo de crescimento da população é maior.

—  O Norte da Ilha é o nosso desafio atual. A gente entregou a unidade do Capivari recentemente para aumentar o número de serviços de atenção primária. E estamos entregando agora, no aniversário da cidade, o centro de saúde do Rio Vermelho que também ampliou muito o tamanho físico da unidade para que a gente possa ter mais profissionais da atendendo e vamos iniciar a reforma na unidade do Santinho — cita Talita Rosinski, subsecretária de Saúde de Florianópolis.

Fortalecimento do atendimento básico

A necessidade de ter que se deslocar para o centro ou bairros vizinhos em busca de atendimento não é incomum. Fortalecer a rede de atenção primária é o primeiro passo de um desafio que vai precisar de investimento do poder público nos próximos anos, segundo Walter Ferreira de Oliveira, professor do Departamento de Saúde Pública da UFSC.

Continua depois da publicidade

Com população 36% maior, mobilidade é desafio para Florianópolis

— O centro de saúde não pode ser só um lugar que vai mandar para o outro, que só atende hipertenso e diabético. Não existe só hipertensão e diabetes na face da terra, a clínica geral é muito mais ampla. Tem que aparelhar as UPAs, elas não podem viver só com no máximo um raio-X — argumenta Oliveira.

O professor ainda relembra que, em muitos casos, quando um equipamentos estraga não há outro para repor, o que mais uma vez leva a direcionar os pacientes de um local para o outro. O mesmo acontece com a falta de médicos e especialistas.

— O raio-X quebra de vez em quando, e não tem outro para substituir. E não tem profissional para atuar, como já aconteceu várias vezes — reforça.

Demanda hospitalar

Todos os hospitais de Florianópolis se concentram nas áreas mais centrais da cidade. E construir um novo no Norte da ilha, por enquanto, não está nos planos do Estado. No entanto, a secretária de Estado da Saúde, Carmen Zanotto, admite que existem demandas urgentes que precisam de resolução para garantir um atendimento mais adequado à população.

Continua depois da publicidade

— A questão de uma nova construção é para alguns anos. Agora, nós temos situações emergenciais. O que a Grande Florianópolis merece e precisa são estruturas adequadas dentro dos nossos hospitais. Temos corpo clínico, enfermagem e todos os profissionais qualificados, mas as estruturas não condizem com os profissionais que estão trabalhando. Nossas emergências acanhadas, com dificuldade de receber os pacientes. Então, nós precisamos sim de uma ação emergencial nas estruturas dos hospitais, desde banheiros até ampliação de serviços de emergência — reconhece Zanotto.

O professor Oliveira reforça que hospitais são necessidades em locais populosos, mas pondera que eles não são as resoluções dos problemas para atendimento que a cidade enfrenta.

— Não é que você tenha que deixar de fazer o hospital ou deixar de fazer coisas da atenção secundária, mas o investimento maior tem que ser na atenção primária. Você bota um hospital e daqui a pouco você vai ter o mesmo problema no hospital porque ele vai estar inchado — observa o docente da UFSC.

Como diminuir as filas para atendimento

A ideia do Estado para diminuir as filas por atendimento é fortalecer os hospitais de fora da Grande Florianópolis. Assim, pacientes de outras regiões não precisariam se deslocar até a Capital para receber atenção de alta complexidade, como acontece atualmente.

Continua depois da publicidade

Já a aposta da prefeitura para tentar desafogar o Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG) e a Maternidade Carmela Dutra é a criação de um centro de atendimento da mulher e da criança, também na região do Centro. Essa clínica será entregue no dia 28 de março, segundo a prefeitura.

— A ideia é que as linhas de cuidado para tratar a mulher aconteçam em todos seus ciclo de vida, inclusive no diagnóstico oncológico. E também atendimento à criança em várias situações para desonerar os hospitais — reforça a representante do executivo municipal.

O município também fala em reforçar o atendimento na atenção básica e melhorar a estrutura nas regiões que mais crescem. Porém, o professor da UFSC vai além e diz que para melhorar a saúde pública é preciso de todos os serviços básicos nas regiões que cresceram muito de forma rápida.

— É você conseguir olhar como um todo o Norte da ilha e dizer: o que isso aqui precisa é boa infraestrutura, isso aqui precisa de coleta de lixo adequada, precisa de áreas de lazer em lugares não infectados para as crianças brincarem. Atendimento na atenção primária dos centros de saúde, de educação e participação dos conselhos locais de saúde funcionando. Tudo que a gente já sabe, se não fizer isso a gente já sabe também que não vai dar certo —  reafirma Oliveira.

Continua depois da publicidade

Educação onde a população mais cresce

Dos novos 35 moradores que Florianópolis ganha diariamente, boa parte são crianças, adolescentes e jovens. Por isso, ao longo dos últimos anos, a busca por vagas na rede pública de ensino tem crescido.

No início do ano letivo de 2023, a Luiza não conseguiu matrícula em nenhum colégio no bairro onde a família mora. Para garantir os estudos da filha, ela matriculou a menina em uma escola a 20 quilômetros de distância de casa. E isso não é uma situação isolada ou nova.

— Essa situação ela se agrava ano após ano e já é de conhecimento de todos os órgãos da rede. Desde o poder de justiça, rede de proteção à rede de educação, prefeitura e governo do Estado. É uma situação que tem um agravante todos os anos e necessita de um planejamento para poder suprir essa necessidade — afirma Indianara Trainotti, conselheira tutelar que atua no Norte da Ilha de Santa Catarina.

A Secretaria Municipal de Educação afirma que já fez as contas e confirma que o crescimento de demanda por vagas é vertiginoso, mas tem a expectativa de que aumente ainda mais.

Continua depois da publicidade

—  Eu acredito que o crescimento vai ser maior ainda. Nós precisamos gerar no mínimo 1.500 novas vagas na educação fundamental todos os anos em Florianópolis — afirma o secretário Maurício Fernandes Pereira.

No mês passado, uma escola começou a ser construída em regime de urgência no Rio Vermelho, no Norte da cidade. A previsão é que a obra seja concluída em menos de 60 dias para o fim de 2023.

Em meio a esses desafios, o consenso entre todas as partes é que as soluções são esperadas o quanto antes, tanto na área da saúde quanto na educação. A pressa é maior para quem precisa, e entre essas pessoas estão os moradores que adotaram a Capital como lar por escolha.

— Eu não pretendo mais ir embora de Florianópolis. Aqui é uma terra de prosperidade, de crescimento, de oportunidades. Então, quem vem de fora para cá e é acolhido só tem tendência a crescer, né? E é isso que eu vim buscar, eu vim buscar mesmo com 50 anos de idade, eu vim buscar uma oportunidade diferente, um crescimento diferente e eu encontrei aqui. Aqui é onde eu quero estar — afirma Karin.

Continua depois da publicidade