*Por Ronda Kaysen

Nova York – Em meados de maio, Ashley Barton bebericou uma mimosa, um coquetel feito à base de suco de laranja e espumante, no apartamento de sua melhor amiga, enquanto desfrutava do primeiro atendimento profissional de uma manicure desde que Nova York ordenou que os moradores ficassem em casa para evitar a propagação do novo coronavírus.

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A experiência do atendimento em casa, com velas acesas e música suave tocando, foi um divisor de águas. Antes da pandemia, Barton, uma relações-públicas de 33 anos, dirigia de seu apartamento no Queens até um salão de beleza próximo à casa de seus pais em Long Island para fazer as unhas das mãos e dos pés. Mas isso acabou. “Existe um conforto em fazer isso em casa, ter alguém segurando seu pé como se fosse a coisa mais incrível. Não me esquecerei de quando ouvi o som dos alicates de unha. Parecia que alguém estava estourando um champanhe Dom Pérignon”, contou Barton.

Embora os salões de beleza e os especializados em unhas tenham sido reabertos na cidade de Nova York em seis de julho, Barton duvida que retorne a um deles tão cedo. Ela se tornou uma cliente frequente do Green Spa on the Go, uma manicure faz atendimento em domicílio, cujos preços variam de US$ 140 a US$ 300, dependendo da localização. Barton agora é atendida na casa de seus pais – eles também são atendidos – a cada duas semanas. “Não estou pronta para sentar em um salão de beleza, mesmo com esse equipamento de proteção individual (EPI). Prefiro fazer as unhas no quintal da casa de meus pais. Consigo controlar a situação”, explicou ela.

Enquanto os Estados Unidos passam por uma reabertura aparentemente sisífica, com as taxas de contaminação aumentando em muitas regiões, muitos americanos ainda estão desconfiados para se aventurar a sair. Para acomodar clientes receosos que negligenciaram os cuidados essenciais por meses, um grupo de prestadores de serviços – personal trainers, cabeleireiros, tatuadores, tosadores e conselheiros espirituais – está atendendo em domicílio ou planeja fazer isso em breve. Os profissionais têm recebido telefonemas de clientes ansiosos para ser atendidos na sala de estar, no jardim ou mesmo na varanda.

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Para os prestadores de serviços que sempre tiveram uma parte do trabalho voltada para o atendimento em domicílio, o período de isolamento provou ser uma bênção, dando a eles uma vantagem em um momento de tanta ansiedade. Eles têm atraído uma nova clientela que nunca considerou ser atendida em casa antes, mas que desde que descobriu esse serviço tem gostado de ser mimada na privacidade do lar.

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(Foto: Calla Kessler / The New York Times)

“Acreditamos que essa é uma mudança de longo prazo no comportamento do consumidor”, afirmou Amy Shecter, diretora executiva da Glamsquad, uma empresa de tratamentos de beleza em domicílio com sede em Nova York que oferece serviços como escovas, manicures, pedicures e maquiagem.

Glamsquad retomou suas atividades habituais e lançou o serviço de corte de cabelo em Nova York, na Flórida, em Boston e em Washington. Em Los Angeles, a empresa está prestando seus serviços ao ar livre, depois que o governo estadual revogou os planos de reabertura. (Sua sede de San Francisco continua fechada.) Os funcionários passam por treinamento de segurança para reduzir a chance de transmissão do novo coronavírus e usam EPI durante o atendimento em domicílio. “Este é o nosso momento. As pessoas vão passar a querer esse tipo de serviço em casa e vão escolher os prestadores como nós”, explicou ela.

Marianella Aguirre, fundadora do Green Spa on the Go, especializado em atendimento em domicílio em Nova York, em Connecticut e nos Hamptons, também acredita que seu modelo de negócio pode prosperar no contexto atual, com os clientes angustiados e preocupados com salões lotados. “É incrível. É como se estivéssemos preparados para isso”, observou ela.

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Antes da pandemia, Aguirre recebia cerca de cinco telefonemas por semana de novos clientes. Agora, recebe o mesmo número por dia. Praticamente todos os clientes pedem que o serviço seja feito no quintal. “Eles estão desesperados e não querem esperar mais”, disse.

Os serviços de atendimento em domicílio sempre fizeram parte de um nicho, e não há dados para rastrear se a indústria cresceu durante as ordens de permanência em casa, já que tais serviços nesse período muito provavelmente seriam considerados clandestinos.

Mas o interesse não se limita à indústria da beleza. Na Groomit, que oferece cuidados e tratamentos a domicílio para animais de estimação em Nova York, em Nova Jersey e em Connecticut, houve um crescimento de 30 por cento desde que a empresa começou a oferecer esses serviços novamente, de acordo com o fundador, Sohel Kapadia. “Apesar de metade da cidade de Nova York estar vazia, os novos clientes estão compensando a perda dos clientes antigos”, comentou Kapadia, referindo-se aos moradores que saíram da cidade durante o bloqueio.

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(Foto: Nina Westervelt / The New York Times)

Depois de meses aconchegados em casa, muitos americanos se sentem mais seguros em seu sofá do que em qualquer outro lugar. Mas uma sala de estar não é necessariamente mais segura do que um salão de beleza para fazer uma escova. Com uma boa ventilação, distanciamento físico adequado e equipamento de proteção individual suficiente, na verdade um salão pode ser menos arriscado do que um apartamento pequeno e apertado, mesmo que mais pessoas frequentem o salão. Os serviços de cuidados com a beleza podem não ser seguros nas áreas em que os casos de contaminação estejam em alta, como o sul da Flórida, por exemplo.

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“Ainda não sabemos muito sobre a transmissão do novo coronavírus, mesmo sendo bombardeados com informações sobre o que já sabemos. É mais seguro ter mais pessoas em um espaço, mas em um espaço maior, com ventilação melhor e mais EPI? Sinceramente, não temos como determinar quais são as diferenças”, declarou a dra. Angela Rasmussen, virologista do Centro Médico Irving da Universidade Columbia.

Joey Chavez, um tatuador em Corona, na Califórnia, teve permissão para reabrir seu estúdio, o Trusted Tattoo, em junho, mas vinha oferecendo seus serviços em um ônibus adaptado, o Body Art Bus, que ele dirigia até a casa de seus clientes nas semanas anteriores à reabertura da loja. Entre um cliente e outro, ele higienizava o ônibus, usava materiais descartáveis e limitava o número de pessoas no local apenas a seu cliente e ele. “É muito mais seguro para nós ir até a casa deles. Levamos um estúdio de tatuagem móvel totalmente desinfetado”, disse Chavez, que cobra US$ 250 para atender em casa e mais a taxa de US$ 150 por hora por uma tatuagem.

No dia 27 de junho, Chavez teve de fechar o estúdio e o ônibus por duas semanas depois que um cliente, que havia sido atendido no Body Art Bus, recebeu resultado positivo para Covid-19. Ele e outro tatuador que estiveram no ônibus ficaram em quarentena por duas semanas. Chavez reabriu os dois negócios em julho, apenas para que fossem fechados quase que imediatamente pelas autoridades do departamento de saúde, à medida que o governo estadual endurecia as restrições da quarentena. “É impossível fazer planos. Cancelei 14 dias de atendimento. Fica difícil fazer qualquer coisa”, lamentou ele.

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(Foto: Nina Westervelt / The New York Times)

Mas, para aqueles que podem prestar esse tipo de serviço, atendimentos em domicílio podem ser um bálsamo durante um momento difícil. Em maio, os clientes começaram a ligar para Nini Grace, uma life coach espiritual e médium em Avon-by-the-Sea, um distrito de Nova Jersey, solicitando atendimento em casa. Em junho, ela começou a visitar novamente os clientes em casa, trabalhando muitas vezes no quintal e cobrando US$ 90 por pessoa pela consulta. Segundo ela, seu negócio triplicou e há atendimentos agendados até outubro.

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Grace usa máscara quando cumprimenta os clientes, mas, uma vez que todos se acomodam ao ar livre e a uma distância segura, normalmente ela retira a máscara para iniciar a sessão. “Esse é um momento tão desesperador, com tantas incógnitas para as pessoas. Elas apenas precisam de algum tipo de conforto”, explicou ela.

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