Já é costume abrir a programação dos cinemas de Santa Catarina e encontrar as sessões legendadas esticadas para os horários mais tardios. Se você quer a opção do legendado, prepare-se, pois é quase certo que irá encontrar a sessão que deseja no último horário do dia, numa única sala, pelos próximos sete dias. Caso consiga entrar, já que você provavelmente precisará comprar seus ingressos com horas de antecedência para escapar da lotação, não se frustre quando começar a ver trailers dublados. É a maneira que programadores e estúdios encontraram de reforçar que você não terá escapatória: a realidade da dublagem é intransigente. A sua antidemocracia é apenas algo que precisamos esquecer, claro. Por que não?!

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A sétima arte nunca foi alternativa, precisa-se deixar claro. Ela é um reflexo do grande público e de todas as suas camadas, como não poderia deixar de ser. E, claro, esse grande público, com o passar do tempo, escolheu o dublado. Com o pretexto de atingir o maior número de pessoas. Em compensação, ao mesmo tempo que observamos a evolução dessa linha de pensamento, as camadas mais pobres cada vez menos passaram a fazer parte dessa abertura, tendo em vista o óbvio e desproporcional poderio econômico para comprar ingressos com preços exorbitantes. (Aliás, eu simpatizo com uma máxima a respeito disso, que brinca com o fato de que passamos a trocar o programa cinema e jantar por cinema ou jantar.) Necessita-se entender, ao mesmo tempo, que quem dita o mercado e ao que o público irá assistir são distribuidoras e programadores. Em várias partes do país, por exemplo, o dublado já atinge 90% da programação. Sem direito de escolha.

Só na Grande Florianópolis, a estreia de Caça-Fantasmas ocasionou um espelho para esse problema – com exceção do Shopping Via Catarina e Itaguaçu, que já destinam praticamente toda a programação aos dublados, é lamentável observar a rendição das redes Cinespaço, Cinépolis e Cinemark para esses caprichos. Apenas o Cinesystem, do Iguatemi de Florianópolis, sustentou mais de um horário legendado para o filme. Todos os outros se posicionaram em um único horário do dia, entre 21h e 22h. Assim, não foram poucos que se decepcionaram ao não encontrarem ingressos, com salas lotadas. O caso de uma estudante de direito, que, ao sair sem seu ingresso para a única sessão de Caça-Fantasmas no dia, autopuniu-se por ter esquecido de entrar no começo do dia na internet para observar a quantidade de pessoas que já havia comprado ingressos, pois a lotação da sala era de menos de 60 lugares.

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Esqueçamos a série de particularidades da dublagem que sujeita o espectador aos mais diversos problemas, como ceifar o trabalho de voz de um ator, e focalizemos apenas na democracia, na sua liberdade de escolha, no seu direito. Recentemente, um colega crítico de São Paulo definiu bem a questão: muitas vezes, o interesse não vem do espectador. O cinema decide o que ele vai ver. A partir do momento em que outras opções chegarem, ele poderá decidir por elas. Enquanto isso, continuamos sujeitos a imposições cada vez mais estapafúrdias de distribuidoras que não ligam para os desejos do consumidor. É difícil confiar no futuro.

Ingressos mais baratos

Com as constantes reclamações do alto valor de ingressos, algumas redes estão tentando relativizar o problema. As redes Cinépolis e Cinesystem, respectivamente do Continente Park Shopping e do Shopping Iguatemi, passaram a oferecer seus descontos de 50% em mais dois dias da semana. Se antes a maioria dos cinemas apresentava uma quarta-feira ou uma terça-feira mais barata, agora as duas redes proporcionam três dias por semana mais baratos – segunda, terça e quarta-feira. O tempo é indeterminado; portanto, aproveite.