Marcelo Perrone
marcelo.perrone@zerohora.com.br
É um dos temas mais recorrentes do cinema: amigos de longa data se reúnem por período prolongado e dessa convivência íntima afloram balanços existenciais e afetivos, vazam mágoas represadas e se reitera, entre risos e lágrimas, que o sentimento fraternal que os une é infinito enquanto durar. Em cartaz a partir desta sexta feira no Guion Center 1, o longa francês Até a Eternidade (Les Petits Mouchoirs) mostra a pretensão de seu realizador, Guillaume Canet, em ir além do já visto tantas vezes.
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Cantet alcança parcialmente seu objetivo graças, sobretudo, ao ótimo elenco que reúne grandes nomes do cinema francês contemporâneo, incluindo dois consagrados recentemente com o Oscar, façanha pouco comum a intérpretes que não atuam falando inglês Jean Dujardin (que nem falar fala em O Artista) e Marion Cotillard (de Piaf – Um Hino ao Amor).
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Vale destacar, porém que Até a Eternidade é uma produção de 2010, quando Dujardin ainda não era um nome muito conhecido fora da França. E que embora a divulgação do filme destaque sua presença, ela é mínima em cena. Dujardin interpreta Ludo, bon vivant que, após uma madrugada de excessos na noite de Paris, sofre um acidente de moto. Seus amigos o visitam no hospital às vésperas da habitual viagem de férias para a casa de praia de Max (François Cluzet), o mais velho e mais rico da turma, que tem como figuras centrais, entre outros, Marie (Marion), mulher de espírito livre que passa temporadas na Amazônia pesquisando a cultura dos índios da região, e Éric (Gilles Lellouche), quarentão boa pinta com comportamento emocional de um adolescente.
A tensão no grupo se dá em diferentes fronts: a culpa coletiva por terem deixado Ludo sozinho no hospital e dramas individuais como o coração partido de um, o casamento que caiu na rotina do outro, e, elemento de maior desestabilização, a paixão gay que pinta de um dos amigos pelo anfitrião.
Abarcar tantos personagens e tentar explorar suas inquietações de forma mais aprofundada exigiu de Canet um filme com duas horas e meia de duração, nas quais ele se permite a digressões embaladas por uma boa trilha sonora (com clássicos de Isley Brothers, The Band e David Bowie e hits contemporãneos de Jet, Ben Harper e Damien Rice).
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O registro agridoce de Até a Eternidade resulta numa trama que é muito simpática na sua exaltação da amizade como elo afetivo e gregário que se impõe às imperfeições individuais e é anteparo aos baques da vida. Mas é irregular por alguns solos (como do sujeito choroso pela ex-mulher) não serem tão bons como outros (o flerte gay e o vazio emocional dos personagens Marie e Éric). Esses reparos comungam com a impressão de alguns personagens se parecerem arquétipos ali colocados apenas para reforçar a ciranda temática ensaiada pelo diretor.