Milhões de pessoas tomaram as ruas das cidades francesas e de algumas capitais europeias para protestar contra o ataque de 7 de janeiro à revista Charlie Hebdo. Paris recebeu 40 líderes mundiais, jornais dedicaram suas primeiras páginas ao assunto durante dias consecutivos e gente de todas as partes repetiu o slogan: “Je Suis Charlie”.

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Enquanto o Ocidente chorava os 12 mortos do atentado ao jornal, um outro ataque promovido por radicais islâmicos, do grupo Boko Haram, ocorria no norte da Nigéria. Estima-se que o número de mortos possa chegar a 2 mil civis. A reação internacional à carnificina quase se resumiu ao silêncio.

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O peso diferente dado aos mortos franceses e aos mortos nigerianos desencadeou na Europa e nos Estados Unidos uma discussão semelhante à que emergiu no Brasil a partir da mobilização em favor do traficante Marco Archer. A pergunta que se fez foi o motivo de algumas mortes causarem mais comoção do que outras.

Um arcebispo nigeriano chegou a rogar que o mundo dedicasse ao seu país o mesmo apoio oferecido à França, enquanto alguns grupos tentavam emplacar a frase I Am Baga, uma variação do Je Suis Charlie com referência à região onde ocorreu o massacre africano. Os resultados foram pífios. A revista norte-americana Time lembrou que, diferentemente do que ocorreu na França, nenhum líder mundial apareceu na Nigéria para prestar solidariedade, nada sobre o assunto saiu na primeira página de grandes jornais e revistas e, para completar, na entrega dos Globos de Ouro, não houve artista que lembrasse de homenagear os mortos africanos, só os franceses.

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E, no entanto, os dois episódios eram similares. Em ambos os casos, tratava-se de um ataque contra a liberdade e a democracia. Paul Slovic, um professor de psicologia ouvido pela Time, explicou a diferença:

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– A distância psicológica entre nós e a França é menor do que a diferença entre nós e a Nigéria. Existe uma sensação de vulnerabilidade pessoal no ataque de Paris que não temos em relação aos ataques do Boko Haram.