Os ataques recentes sofridos pela jornalista Vera Magalhães estão entre os 73 contabilizados apenas esse ano contra mulheres jornalistas no Brasil. A maior parte deles buscou difamar e constranger as vítimas e teve como autor políticos ou figuras proeminentes. Tudo isso expõe o atual risco de exercer a profissão no país.

Continua depois da publicidade

Receba as principais notícias de Santa Catarina pelo Whatsapp

Os dados são da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) que mapeia e analisa desde 2013 agressões contra jornalistas. Em 2021, impulsionados pelos ataques dirigidos a Patrícia Campos Mello, a Abraji passou a diferenciar o gênero das vítimas no levantamento. Neste ano, o monitor já recebeu 73 registros e a expectativa é de piora com a menos de um mês do pleito.

— Estamos esperando que esse número cresça principalmente por essa questão de que grande parte dos ataques estavam relacionados à cobertura política em 2021 e isso continua em 2022 — diz Rafaela Sinderski, responsável pelos monitoramentos de ataques gerais e de violência de gênero da Abraji.

Em 53% dos casos registrados esse ano, as vítimas cobriam temas políticos e em 80% os agressores eram homens.

Continua depois da publicidade

Os ataques contra as mulheres, explica Sinderski, entram em uma categoria que para a Abraji é chamada de discurso estigmatizante — ataques verbais que costumam descredibilizar o profissional e a agressão envolve elementos de gênero.

— Falam sobre a sexualidade, aparência, trazem traços estereotipados de gênero ou sexistas. Chamam a mulher de mal amada ou dizem que falta homem na vida dela e é por isso que ela está fazendo uma investigação — completa Rafaela.

Segundo a Abraji, as ofensas mais comuns direcionadas aos jornalistas são “vagabunda”, “puta”, “feia”, “velha”, “biscate”, “loucas”, “mentirosas” e “fofoqueiras”.

“O agressor não pode vencer”

A jornalista Miriam Leitão também já esteve no centro do ódio. Duramente torturada durante a ditadura, ela foi reiterada vezes vítima de ironias e ofensas vindas de um dos filhos do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro. Para a profissional, o jornalismo está em risco neste momento porque a democracia também está.

Continua depois da publicidade

Miriam avalia que os ataques contra as mulheres jornalistas são reflexo da atuação do governo Bolsonaro que para ela tem “a violência como projeto”. Ela cita que ao longo dos três anos de mandato o presidente tem o alvo projetado para o público feminino.

Ataques misóginos a jornalistas querem intimidar e calar a imprensa

As agressões verbais do presidente acabam estimulando seus apoiadores a também atacar, avalia Miriam. No caso recente, direcionado a Vera Magalhães, o deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos) repetiu a fala de Bolsonaro em um debate anterior.

— Eu penso que isso [os ataques] têm relação em parte com o pensamento inconformado de machistas que não toleram o avanço das mulheres e o poder cada vez maior que as mulheres têm — pontua.

Para ela, a resposta aos ataques é o trabalho jornalístico.

— O que nós mulheres jornalistas temos que fazer é não nos intimidar e continuar fazendo nosso trabalho. Porque do contrário, se a gente se recolhe ou por algum motivo deixa de falar o que a gente fala, deixa de atuar como atuamos, nós estamos decretando a vitória do nosso agressor. O agressor não pode vencer — completa.

Continua depois da publicidade

Saiba tudo sobre as eleições 2022

Leia também

Mulheres estão em 52% das chapas para governos, mas maioria é vice

Polarização e desconfiança em políticos afastam brasileiros das eleições

O que candidatos ao governo de SC propõem em resposta à crise climática?