Pelo menos 59 pessoas perderam a vida nesta terça-feira em dois atentados no Afeganistão. O mais violento, cometido por um homem-bomba, matou crianças em Cabul durante uma procissão da Ashura xiita, uma das festas mais sagradas desta corrente do islã, minoritária no país. O ataque na capital, que matou 55 e feriu 54, e um segundo ataque no norte, na cidade de Mazar-i-Sharif, ocorreram um dia depois de um encontro internacional, realizado na Alemanha, sobre o futuro do Afeganistão depois de 10 anos de guerra.
Continua depois da publicidade
Os delegados na conferência de Bonn concordaram em estender o apoio internacional ao Afeganistão até 2024, depois da retirada das tropas prevista para o fim de 2014. O Paquistão e o talibã, ambos vistos como essenciais para o fim da guerra, boicotaram as conversas, minando as já limitadas esperanças de paz.
– É a primeira vez que durante uma festa religiosa tão importante no Afeganistão, um ato terrorista tão horrível acontece – reagiu o presidente Hamid Karzai, que estava na Alemanha, onde participou da conferência.
Ele cancelou a visita oficial de amanhã ao Reino Unido e voltou imediatamente para o Afeganistão, segundo a embaixada do país em Londres. Um porta-voz do primeiro-ministro David Cameron confirmou o cancelamento da visita.
Continua depois da publicidade
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e o governo americano condenaram os dois atentados. O porta-voz Martin Nesirky, disse que Ban Ki-moon estava “profundamente entristecido”. Já o porta-voz da Casa Branca, lamentou principalmente a morte de mulheres e crianças. A Força Internacional de Assistência à Segurança, liderada pela Otan, não quis comentar diretamente, mas seu comandante, o general americano John Allen, condenou os ataques como “um ataque contra o próprio Islã”.
O ministro do Interior afegão, Sediq Sediqqi, entretanto, culpou diretamente os insurgentes liderados pelo talibã enquanto confirmava o número de mortes. Um oficial da segurança afegã que pediu para não ser identificado, disse que Cabul agora está em alerta máximo, com forças de segurança extras sendo destacadas para o caso de os ataques prosseguirem.
O ataque sem precedentes causou temores no Afeganistão de um aumento nos ataques sectários, no estilo iraquiano, possivelmente com o objetivo de desestabilizar ainda mais um estado afegão já frágil.
Continua depois da publicidade
– Os ataques parecem ter sido praticados intencionalmente, para espalhar a violência étnica e sectária, mas eles também podem enfraquecer a resistência contra o que é visto como esforços externos para perturbar ainda mais as já problemáticas relações do Afeganistão – postou em um blog Kate Clark da Rede de Analistas do Afeganistão, em Cabul.
Os insurgentes talibãs, sunitas radicais que consideram os xiitas hereges “condenaram” o atentado em Cabul, caracterizando-o como “contrário ao Islã”. Os extremistas, que reivindicaram muitos atentados no Afeganistão, acusaram o “inimigo invasor” da responsabilidade pelo ataque, em referência à força internacional dirigida pelos Estados Unidos que combate os talibãs ao lado do governo afegão.
O ataque em Cabul, atribuído a um homem-bomba, foi um dos mais mortais em três anos. Em 2008, um atentado contra a embaixada da Índia matou mais de 60 pessoas. É o primeiro desta amplitude explicitamente contra a minoria xiita no Afeganistão.
Continua depois da publicidade
Quando o talibã sunita governou o país nos anos 90, sendo derrubado por uma invasão conduzida pelos EUA em 2001, minorias xiitas sofreram uma perseguição brutal e foram proibidas de celebrar a Ashura em público, mas recentemente a violência sectária é rara, diferentemente do Paquistão onde ataques anti-xiitas são frequentes.