Inferno da polícia no final do ano passado e começo deste ano, os ataques a bancos e a caixas eletrônicos tiveram índices alarmantes nos primeiros oito meses de 2012 em Santa Catarina: foram 240 vezes que ladrões praticaram esse tipo de crime no Estado. A escalada é de 144,89% em comparação com o mesmo mesmo período de 2011.

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Ainda faltam mais de quatro meses para o ano terminar e a quantia já é superior aos ataques registrados em todo o ano passado, quando ocorreram 182 investidas. De janeiro até o dia 8 de agosto de 2012, a média chega a mais de 30 casos ao mês, conforme revelam os dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP).

A moda entre os criminosos é levar o dinheiro com o uso de maçaricos. Foram 98 vezes que os bandidos utilizaram o equipamento para abrir o alvo. Só no final de semana passado, ocorreram pelo menos três ações no Estado: em Florianópolis, Porto Belo, no litoral Norte e em Laurentino, no Alto Vale do Itajaí.

Na Capital, no domingo, um ladrão invadiu um hotel localizado no bairro dos Ingleses, Norte da Ilha, e arrombou um caixa eletrônico do Banco Santander. Foi por volta das 6h, na estrada Dom João Becker.

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O autor teria usado uma barra de ferro, possivelmente um pé de cabra, e uma furadeira. Durante a ação, ele foi surpreendido por funcionários do hotel e não teria conseguido levar o dinheiro.

Em Porto Belo, também na manhã de domingo, bandidos invadiram a agência do Banco do Brasil, no Centro, e com um maçarico tentaram abrir o equipamento. Eles desativaram as câmeras de monitoramento e o alarme.

De acordo com a polícia, os criminosos deixaram o local sem levar nada. Moradores relataram aos PMs que viram cerca de três homens fugindo em um carro. Ninguém foi preso.

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O furto foi concretizado no domingo em Laurentino, cidade de seis mil habitantes, onde os ladrões estouraram um caixa eletrônico do Banco do Brasil, no Centro. A Polícia Militar acredita que o furto ocorreu por volta das 6h. Ninguém suspeito foi localizado. O banco não informou a quantia de dinheiro levada.

Invadir um estabelecimento que tenha caixa eletrônico e levar o dinheiro tornou-se prática criminosa comum em todo o país nos últimos anos.

Até o final de abril, em SC, a onda era explodir os terminais com dinamite. Mas a prisão da principal quadrilha, no litoral Norte, fez baixar significativamente essa modalidade, considerada a mais violenta e que tinha na linha de frente assaltantes fortemente armados.

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Os autores que vêm agindo, diz a polícia, são criminosos pouco especializados, que migraram de outros crimes como os furtos e o tráfico de drogas.

A escalada no Estado

Ano 2012*

Total de ataques 240

Roubos 34

Furtos 206

Ações com maçarico 98

Ações com explosivos 32

*Janeiro a 8 de agosto

Ano 2011*

Ataques 98

Roubos 16

Furtos 82

Ações com maçarico 47

Ações com explosivos 05

* Janeiro a 8 de agosto

As cidades com mais crimes em 2012

Florianópolis 40

Joinville 26

Blumenau 10

São José 8

Obs.: São computados ataques tentados e consumados a instituições financeiras em SC.

Fonte: Secretaria de Segurança Pública.

ENTREVISTA: Akira Sato, diretor da Deic

“Há casos de envolvimento de vigias”

O delegado Akira Sato, diretor da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), afirma que há migração de criminosos e vigias envolvidos nos crimes. Confira os principais trechos da entrevista dada por telefone no domingo:

Diário Catarinense – A Deic notou esse aumento nos ataques a caixas eletrônicos em SC?

Akira Sato – É notório, temos observado e temos uma preocupação muito grande. As investigações está em andamento e muito bem. Temos efetuado também operações no Estado inteiro, Orleans, Jaguaruna e atendendo quem está pedindo o nosso auxílio. Na Grande Florianópolis, uma parte está com a gente. Outra parte estão com a delegacia de roubos. Mas temos acompanhado com o interior. Estatisticamente é uma preocupante. Temos dado uma atenção especial direta, mas não posso detalhar mais.

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DC – O aumento é muito expressivo. O senhor atribui a que essa escalada?

Akira – À migração de outros crimes, de quem praticava furtos e roubos em residência, autores de furtos em veículos… Ou seja, ladrão de toca-fitas e CD, toda essa gama de criminosos com potencial menor, todo mundo migrando. Inclusive o tráfico de drogas também. É uma vertente que eles acham que estão se dando bem. Mas a repressão está vindo aí. A cada dia estão surgindo novas prisões pela Polícia Civil, Polícia Militar e Gaeco.

DC – Vocês atacaram bem os que agiam com explosivos (quadrilha foi presa em abril). Mas agora vieram os dos maçaricos…

Akira – Justamente, agora vieram os dos maçaricos. São várias e várias quadrilhas. São pessoas que não eram do furto de caixas eletrônicos e estão migrando. É claro que estamos cruzando os dados de inteligência, mas em alguns casos são primários.

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DC – Há investigações em andamento?

Akira – As investigações não param. Dizem que estamos enxugando gelo. Não é verdade. Se tiver que enxugar gelo é importante que não seja feita a poça. Em alguns casos vai ter o aumento, em outras épocas diminui, dependendo da repressão. A nossa repressão aqui da Deic é um pouco mais qualificada, procuramos por grupos maiores. Nesse caso são vários grupos em regiões diversas e as próprias Delegacias de Investigação Criminal (DICs) e as regionais estão trabalhando.

DC – Alguma ação imediata para conter esse crime?

Akira – Nessa semana chega um quadro novo da academia e vai dar um “Up” de mais de 40% de efetivo na divisão de Furtos e Roubos (da Deic). No total, estou recebendo mais 15 novos policiais para a Deic. Então já dá para dar uma repressão no âmbito da Grande Florianópolis. Mas é importante que as regionais peçam o auxílio. Não podemos fazer a intervenção se eles estão investigando. A gente sempre espera informações para fundir e compartilhar. O que temos observado é a questão da rendição dos vigias. A gente tem alguns casos de envolvimento de vigias. Foram presos os vigias que participaram do Caridade (ataque ao Hospital de Caridade, em Florianópolis). Outros estão sob suspeita e estão sendo investigados.

DC – A base desses ladrões é Joinville, o grupo de caixeiros de lá, ou de outras regiões?

Akira – Não. Pode ver que o preso em Criciúma semana passada é de Criciúma. O pessoal do Rio Grande do Sul está fazendo. O de Joinville está saindo do Estado e fazendo aqui também. Mas não é uma prática só daquela escola. Queremos uma repressão qualificada e não imediata. É muito fácil prender ali uma quadrilha por um único crime. Mas eles vão ser soltos em uma, duas semanas. Agora, se trabalhar dentro do crime organizado, você consegue colocá-los em diversos crimes, como furto qualificado, formação de quadrilha, concurso de agentes, lavagem de dinheiro e aí o cara não sai.

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