Inicialmente considerado uma vitória pelos conservadores rivais do presidente iraniano, Hassan Rohani, o ataque contra a embaixada saudita em Teerã pode ter, na verdade, o efeito contrário.

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Segundo especialistas consultados pela AFP, o episódio, que levou a Arábia Saudita a romper as relações diplomáticas com o Irã, pode favorecer Rohani nas eleições legislativas de 26 de fevereiro.

Os ataques contra a embaixada e o consulado sauditas – em Teerã e em Machhad, respectivamente – foram cometidos por manifestantes que protestavam contra a execução em Riad, no último sábado, do clérigo xiita Nimr al-Nimr.

Sua morte foi condenada oficialmente pelo Irã, um país xiita rival da Arábia Saudita sunita, mas, ao mesmo tempo, Rohani fez um apelo pelo fim dos ataques contra interesses sauditas e pediu que os 50 envolvidos sejam julgados rapidamente.

Rohani tenta tirar o país do isolamento na cena internacional, em um movimento simbolizado no acordo histórico em julho de 2015. Nele, o Irã busca obter a suspensão das sanções internacionais em troca da modificação em sua política nuclear.

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O novo conflito entre os dois países mais influentes da região “vai contra nós e beneficia a Arábia Saudita e os radicais”, disse à AFP o especialista em Estratégia Política Amir Mohebbian, próximo ao ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamad Javad Zarif.

“A opinião pública – não apenas no Irã, mas no mundo – era bem mais desfavorável à Arábia Saudita, mas a ação dos radicais complicou nossas relações com o Ocidente e com os países da região”, completou.

Coquetéis molotov e selfies

Os ataques contra as legações sauditas foram condenados em todo o mundo e pelo Conselho de Segurança da ONU.

Os incidentes acontecem em um momento ruim para Rohani, que tenta normalizar a imagem internacional de um país que os Estados Unidos continuam a manter em sua lista daqueles que apoiam o “terrorismo”.

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Nas imagens do ataque à embaixada, aparecem manifestantes lançando coquetéis molotov, que provocaram um incêndio, e outros que subiam o prédio para retirar a bandeira. Alguns fizeram selfies com móveis roubados do edifício.

Os Guardiães da Revolução, o Exército de elite do regime islâmico, assim como o grêmio estudantil da milícia Bassidji, subordinado aos Guardiães, criticaram publicamente o ataque e negaram qualquer envolvimento.

A divisão entre facções políticas continua sendo visível na imprensa, porém, e os jornais reformistas favoráveis a Rohani acusam os radicais de alimentar a tensão para prejudicá-lo.

Segundo Amir Mohebbian, na disputa entre reformistas e radicais, será essencial a posição de Ali Khamenei, o guia supremo do Irã.

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Para a especialista em Irã Ellie Geranmayeh, do Conselho Europeu de Relações Exteriores, os incidentes reduzem o espaço para a diplomacia nas crises da região.

“Parece que é o que os radicais iranianos e sauditas queriam”, avalia.

“Ironicamente, a linha-dura talvez tenha dado a Rohani uma oportunidade para convencer o guia supremo a marginalizar os mais radicais e continuar o caminho da diplomacia multilateral”, acrescenta Ellie.

adm/mer/tt/lr