Camila Saccomori, de Nova York (*)

A jornalista viajou a convite da Warner.

Ele perdeu o amor de sua vida, o cargo de consultor no FBI e a (quase nula) paz de espírito que tinha. Foi ao fundo do poço, como era de se esperar. Um ano depois, deu a volta por cima. Tanta normalidade, porém, não cai bem ao protagonista de The Following, uma das séries mais assistidas nos Estados Unidos entre o público de 18 a 49 anos e que faz sucesso no Brasil.

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Por baixo dos panos, o mocinho Ryan Hardy, vivido por Kevin Bacon (foto), investiga a suposta morte do serial killer Joe Carroll (James Purefoy). Após provar que sua teoria tem fundamento e que Joe está vivo, Ryan não pretende parar.

– A obsessão foi mais fundo. E mais fundo – contou Kevin Bacon em coletiva de imprensa em Nova York em fevereiro. – Não se trata de fazer justiça, e sim de afundar um picador de gelo na cabeça de Joe.

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O clima de caçada da primeira temporada foi substituído pelo de revanche. Até o quinto episódio, exibido na última sexta, na Warner, o que se viu foi um Ryan sem medo de morrer ou matar. Envolto em uma vibe Jack Bauer (herói sem muitos limites morais em sua eterna jornada para salvar o mundo), o ex-agente de The Following virou um justiceiro, e a palavra tortura entrou para o vocabulário.

– Ser adulto é ter responsabilidade sobre seus atos e reconhecer as coisas sobre as quais se é impotente. Mas Ryan é incapaz disso. Ele se sente responsável por tudo de ruim que acontece ao seu redor. É um fardo que torna a existência dele quase insuportável – diz o ator, que assinou contrato de seis anos para a série.

Ainda atormentado pelo fantasma de Claire (Natalie Zea), Ryan até cogitou um romance com a bilionária Lily (Connie Nielsen), que se revelou mais psicopata do que todos os demais devotos a Joe. Se já era tenso para o mocinho combater uma seguidora apaixonada (a fiel Emma, vivida por Valorie Curry), agora em dobro será pior. Este é o cenário que Ryan enfrenta nos próximos 10 episódios (o final será em 16 de maio no Brasil). Até lá, Joe Carroll, cercado por groupies, irá colocar em prática seu novo plano.

– As coisas nunca vão ser fáceis para mim – brinca Kevin Bacon, falando como Ryan.

O fim de um sonho

Desde que passou a interpretar o carismático vilão Joe Carroll em fevereiro de 2013, o britânico James Purefoy anda tendo “sonhos estranhos”. Despir-se de um personagem intenso como o antagonista da série é uma tarefa por vezes árdua, que “sangra para o subconsciente”, nas palavras do ator. Após aceitar viver um serial killer, Purefoy conta que passou duas semanas mergulhado em documentários e filmes sobre o tema. Devorou, ainda, toda a obra de Edgar Allan Poe, inspiração máxima para a seita de seu sombrio personagem.

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– Joe é um anjo da morte. Ele genuinamente acredita que o presente mais precioso que pode dar a alguém é a morte – explica Purefoy, evocando a história de Jim Jones, mentor de um suicídio coletivo em 1978 que resultou na morte de 918 pessoas. – Carroll parece gentil e preocupado com seus seguidores, mas o que ele realmente pensa é: como conseguirei que você faça o que quero?

A longa barba da foto acima, cultivada nas férias entre a primeira a segunda temporada para compor a nova fase do assassino, foi-se embora no quarto episódio, bem como a esperança do personagem de ter novamente uma família feliz ao redor e o sonho de se tornar um romancista de sucesso:

– Na melhor das hipóteses, ele era um escritor fraco. Na pior, era incrivelmente ruim. Então o que ele é? Um ótimo professor e um ótimo assassino.

Amadurecer à força

Em sua primeira aparição em The Following, Mike Weston era um garoto empolgado com a profissão, sorridente e otimista, admirador confesso de Ryan Hardy, espécie de “seguidor” do herói. Bastou colocar um pé na investigação da seita para sua vida mudar. O personagem vivido por Shawn Ashmore apanhou quase até morrer, perdeu dois colegas de trabalho e foi suspenso do FBI na primeira temporada. Um ano depois, perdeu não só a ingenuidade, mas também a noção de limites.

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– Ele jogava conforme as regras, então estava sempre um passo atrás dos seguidores de Carroll. Agora, Mike vê que pode valer a pena cruzar a linha para deter esses caras – diz Ashmore.

No sexto episódio deste ano, que será exibido no dia 14, seu personagem terá uma das cenas mais fortes até agora, quando espanca no rosto um dos criminosos da trama.

– Nem todo mundo consegue assistir à série. Até gente da minha família me fala: “Oh, meu Deus, é muito pesada”. Entendo. Minha mãe, por exemplo, se assusta fácil e só vê por minha causa – conta Shawn, que tem um famoso irmão gêmeo, o também ator Aaron Ashmore, o Jimmy de Smallville.

No entanto, o rapaz acredita que as histórias dramáticas compensam as situações violentas:

– Não se trata dos corpos caindo no chão e, sim, da jornada pessoal de cada personagem.

Um gremista por trás das câmeras

Diretor e produtor-executivo de The Following, Marcos Siega (na foto acima, ele dirige ator com a máscara de Edgar Allan Poe na primeira temporada), 44 anos, nasceu em Nova York, mas passou muitos anos da infância e da adolescência curtindo os verões no Brasil. Seu pai, o jogador de futebol Jorge Siega, natural de Cotiporã, na Serra gaúcha, morava em Porto Alegre até se mudar para os Estados Unidos, em 1968, e atuar no New York Cosmos. Por conta das visitas ao Brasil, Marcos aprendeu português, sabe fazer churrasco, torce para o Grêmio e é fã de Tropa de Elite.

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Em Hollywood, dirigiu A Teoria do Caos (2008), Garotas Malvadas (2005) e Diários de um Vampiro (2009), além de alguns episódios de Dexter. O universo fictício de serial killers, portanto, não é novidade para Siega, que vê distinções gritantes entre os assassinos vividos por James Purefoy e Michael C. Hall.

– Dexter só matava criminosos. Era um justiceiro. Para Joe Carroll, matar é um prazer quase sexual – compara.

E não foram poucas as mortes já mostradas ao longo de The Following. Nessas cenas, assim como em muitas outras, uma premissa do diretor: manter o suspense a cada encerramento de episódio, com o chamado “cliffhanger” (gancho).

– Criar tensão é algo que fazemos bem no seriado. Sempre parece que há algo ruim esperando logo ali na esquina – explica Marcos.

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O diretor faz mistério para o público brasileiro e prefere não revelar o que planejou para o 15º e último episódio da segunda temporada. Promete apenas que será “eletrizante” e que deixa margem para uma terceira temporada, cujo argumento já foi pensado por ele e por ambos os Kevins da série: o Bacon (ator) e o Williamson (roteirista). Apesar de dirigir muitas cenas externas de perseguição, com armas e tiros, Marcos revela sua preferência:

– Gosto de drama. As cenas de ação são divertidas, é claro, mas mostrar emoções é algo que também gosto muito de fazer.

Uma visita ao set da série

Estou sentada na cama de Ryan Hardy. Kevin Bacon já deitou aqui inúmeras vezes. De repente, este pensamento me distrai e mal consigo prestar atenção no que o diretor de arte Rick Dennis explica aos 30 jornalistas que visitam o set de The Following. É um domingo gelado no Brooklyn, Nova York, onde estão os estúdios da série. Enquanto estou no quarto do personagem, outros repórteres se espalham pela sala e pela cozinha cenográfica. Saio do devaneio quando alguém liga o chuveiro do banheiro, no qual Ryan Hardy aparece tomando uma ducha no primeiro episódio da segunda temporada. Tudo funciona de verdade: televisores, pias e até a descarga.

– Pensamos em todos os detalhes. É um apartamento habitável. Construímos tudo em três semanas com o orçamento de 300 mil dólares – explica Dennis, responsável pelos sets de The Following e de outras tramas como Law&Order: SVU, The Newsroom e The Americans.

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No escritório do FBI, detalhes como escudos da instituição adesivados nas portas e equipamentos modernos impressionam. Também a sala secreta na qual Hardy investiga Carroll dá a sensação de que alguém efetivamente trabalha ali, com pastas e fichas espalhadas displicentemente pela mesa.

SPOILER! SPOILER!

Se você NÃO nenhuma pista sobre o futuro da série, NÃO avance na leitura!

> Ryan terá um novo amor. Nas palavras de Kevin Bacon, é “alguém que você não imaginava” que pudesse despertar a atenção do ex-agente.

> A sobrinha de Ryan, Max (Jessica Stroup) será sequestrada por Lily.

> Os episódios 11 e 12 vão “mudar o curso dos fatos”, segundo o diretor da série, Marcos Siega.

> O novo culto de Joe ganha ares de religião, ambientado em um galpão rústico de madeira.

COMO ASSISTIR: sextas, às 22h25min, na Warner.

* A jornalista viajou a convite da Warner