Em Joinville há pelo menos 2.966 exemplos de organização de trabalho: são colmeias artificiais monitoradas por apicultores de onde são retirados os favos de mel que abastecem a região e parte da exportação que coloca Santa Catarina como o terceiro maior produtor do Brasil. O Estado é o que mais comercializa os derivados para o exterior. Seguindo o exemplo das abelhas, que somam forças por um mesmo objetivo, os produtores joinvilenses se organizam em associações e ajudam a fortalecer a atividade.

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Nesta semana, a cidade sediou o 36º Congresso Nacional de Apicultura e o 8º Congresso Nacional de Meliponicultura, os mais importantes eventos da área no País. É um sinal da força das associações locais, que trabalharam para que Joinville recebesse os congressos, tornando mais acessível aos produtores as mais de cem palestras, oficinas e cursos realizados.

No mesmo período houve uma feira de materiais e equipamentos agrícolas, comércio de produtos e visitas técnicas a propriedades. SC havia sediado o Congresso Nacional de Agricultura pela última vez em 2000.

— Esperamos que os congressos ajudem a levar o exemplo de Santa Catarina a outros Estados, porque é referência em qualidade e políticas para a apicultura — afirma o presidente da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA), José Soares de Aragão Brito.

No Brasil e em Joinville a apicultura é uma atividade secundária para a maioria dos produtores. Ela geralmente é desenvolvida por agricultores com outras fontes de renda, que só recentemente começaram a olhar com mais atenção para essa área e a desenvolver técnicas de manejo.

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O Estado tem cerca de 9 mil apicultores, mas não mais do que 200 famílias vivem só da atividade. Em Joinville, há 59 apicultores cadastrados e poucos se dedicam apenas à criação de abelhas. Para Aragão Brito, há potencial para que a atividade seja mais rentável, mesmo que não se torne o foco principal do produtor.

— A apicultura e a meliponicultura podem ser desenvolvidas até por um cidadão que não tem uma propriedade — diz.

É o que ocorre em Joinville, onde uma grande parte dos produtores arrenda espaços em propriedades para manter as colmeias artificiais. Trata-se de uma atividade de baixo investimento e, portanto, acessível. Adquirir uma caixa de madeira com a estrutura de colmeia artificial custa, em média, R$ 100, enquanto uma granja de galinhas requer investimento inicial de R$ 65 mil.

Trabalho requer pouco investimento

A produção de Joinville assume cada vez mais importância. O mel dos produtores locais é quase todo consumido na macrorregião de Joinville. Para o presidente da Federação das Associações de Apicultores de Santa Catarina (Faasc), Nério de Medeiros, isso garante ao apicultor um valor melhor, porque diminui o caminho até o consumidor.

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— Na maioria dos lugares, o produtor vende a R$ 8 o quilo e o comprador vai pagar de R$ 25 a R$ 40 o quilo. Com isso, apenas as classes A e B consomem mel. Em Joinville, mesmo produzindo menos, o apicultor tem uma renda maior, porque consegue vender direto ao consumidor — explica.

O coordenador de apicultura do Epagri de SC, Ivanir Cella, salienta que, além disso, Joinville e região se beneficiam da criação de abelhas ao garantirem qualidade dos produtos, sem a perda gerada do processo de industrialização e de envase em grande quantidade.

Joinville tem outra característica diferente da maioria das cidades catarinenses que figuram entre as 30 maiores produtoras: a apicultura urbana, que não requer tanto espaço, nem dedicação exclusiva.

Novas técnicas de manejo

Há pelo menos 30 anos, a propriedade de Amarildo Jacobi no bairro Vila Nova é referência para quem deseja comprar mel em Joinville. A produção começou com o pai dele e é mantida pelo agricultor de 37 anos. No entanto, muita coisa mudou. Enquanto o patriarca utilizava métodos pautados pela intuição e pela prática, Amarildo aderiu a novas técnicas de manejo e tem buscado soluções mais eficientes e baratas para criação de abelhas e extração de mel.

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— Meu pai mantinha caixotes simples onde as abelhas entravam, faziam os favos e ele “cortava fora”. Não tinha os quadros de cera, como agora, e hoje eu centrifugo o mel para fazer a extração — conta.

O agricultor tem a plantação de pupunha e de grama preta como principais fontes de renda, mas suas 200 colmeias chegam a render até R$ 40 mil por ano. Destas, 160 são para produção de mel; as outras, para produção e extração de pólen apícola, alimento que pode ser usado em receitas ou consumido in natura.

Até pouco tempo, Amarildo ainda comercializava os produtos em casa, como o pai fazia, e com isso vendia apenas a clientes que o conheciam. Com a criação de uma marca pela associação da qual faz parte, a Apicampo (Associação dos Apicultores de Campo Alegre), que reúne cerca de 25 membros de Joinville e de Campo Alegre, ele coloca os produtos em mercados e empórios.

— Com a marca, podemos vendê-los legalmente — explica Ilze Pabst, presidente da Apicampo.

Joinville ocupa no Estado o 22º lugar em produção de mel, segundo última pesquisa promovida pela Faasc. À frente estão cidades pequenas, de perfil agrícola e com estações mais bem definidas, como Bom Retiro, Urubici, São Bento do Sul e Rio Negrinho – as duas últimas ao Norte de Santa Catarina.

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Abelhas nativas ajudam a perpetuar a espécie

Ilze Pabst também tem a apicultura como herança do pai. Ela mantém um apiário e, em sua propriedade no distrito de Pirabeiraba, promove o turismo rural e pedagógico ao apresentar as abelhas nativas aos visitantes. Conhecidas como meliponas, elas não têm ferrão e, por isso, não apresentam risco. Produzem pouco, mas são importantíssimas para a polinização.

De acordo com o presidente da Faasc, há em SC pelo menos 40 mil caixas de abelhas que prestam serviços de polinização. Por esse serviço, outros agricultores pagam em torno de R$ 80 por caixa, fazendo girar cerca de R$ 3,2 milhões anualmente neste setor.

— Quando se fala em apicultura, o primeiro pensamento é o mel, mas ele é um subproduto. O principal é o serviço de polinização, que contribui com a perpetuação da espécie vegetal e na produção de alimentos. A sociedade precisa estar ciente disso e proteger o apicultor, porque dependemos muito das abelhas — afirma Nézio.

É por isso que, apesar de a apicultura não garantir retorno financeiro tão alto quanto outras culturas, o Epagri de Santa Catarina tem dedicado investimento em pesquisas e planejado formas de desenvolvimento para os produtores.

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Segundo Ivanir Cella, atualmente todas as unidades de gestão técnica da Epagri têm um técnico com conhecimento na área e pelo menos 10 mil atendimentos são feitos anualmente – o que é pouco, porque representa menos de dois atendimentos por ano para cada apicultor. Em compensação, o associativismo dos produtores garante que as informações sejam compartilhadas.

SAIBA MAIS:

— Em 2000, o Brasil era o 25º produtor de mel do mundo;

— Em 2018, o Brasil assumiu a 8ª posição de maior produtor de mel do mundo;

— A expectativa é de que em cinco anos, o Brasil esteja no 3º lugar;

— A China é o maior produtor mundial de mel, com 350 mil toneladas anuais;

— O Brasil produz cerca de 45 mil toneladas anuais;

— O país produz, em média, 5 quilos de mel por quilômetro quadrado;

— Santa Catarina produz, em média, 65 quilos por quilômetro quadrado.