Quem passa pela Avenida Governador Ivo Silveira, no bairro Capoeiras, região continental de Florianópolis, mal percebe uma portinha com a placa escrita “Haibra”. É lá onde funciona, desde dezembro de 2017, uma associação que oferece apoio aos imigrantes moradores do Morro da Caixa. A Sociedade Beneficente Cultural Brasil Haiti (Haibra) nasceu com o objetivo de ajudar os haitianos que vivem na cidade, mas hoje oferece apoio a toda a comunidade.

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Através da entidade, 45 haitianos recebem aulas de português, apoio para regularizar a documentação, encaminhamento para o mercado de trabalho, ajuda com cesta básica e auxílio jurídico em casos necessários. Brasileiros também têm à disposição aulas de francês e ajuda com cesta básica.

Tudo isso ocorre hoje graças ao empenho de duas pessoas: o empresário Rubens Anstzly Love Pierre, atual presidente da associação e quem banca do próprio bolso os custos da entidade, e Jean Innocent Monfiston, de 34 anos, vice-presidente. Jean é haitiano e mora no Brasil há nove anos. Ele ajudou a criar associações em Manaus, no estado do Amazonas, Balneário Camboriú, no Litoral Norte catarinense, e em Chapecó, no Oeste do Estado. Foi então que há três anos foi convidado por Pierre para montar a associação na Capital.

— Minha tarefa mesmo é andar pelo Brasil para associar os haitianos. Desde que nasci eu via meus parentes ajudando as pessoas que tinham necessidades. Eu lembro que, às vezes, chegava em casa depois da escola e não tinha comida para mim. Meus pais diziam que tinha passado por nossa casa uma pessoa que estava com fome e tinham dado minha comida. Eu não me importava. A minha família sempre viu as outras pessoas primeiro, depois a gente e isso trago para a minha vida sempre — conta Jean.

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Segundo ele, o maior problema dos haitianos continua sendo a dificuldade de comunicação. Desde conseguir um emprego a fazer transferência bancária para o país natal, os imigrantes possuem muitos obstáculos. Por isso, a associação investe nas aulas de português. Atualmente, o curso ocorre de segunda a sexta-feira, das 19h às 21h, na sede da Haibra, na Avenida Governador Ivo Silveira, 1390.

— A comunicação com os haitianos é difícil. Se um deles chegar à sua casa pedindo comida em crioulo, você consegue responder? Isso é muito difícil. Por isso estamos ensinando a língua portuguesa para eles.

Até as leis trabalhistas do Brasil e do Haiti são muito diferentes e nem todos os estrangeiros entendem essa dinâmica. E este é outro setor que a Haibra atua, na orientação dos trabalhadores com relação ao mercado de trabalho.

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— O trabalho no Haiti é feito por contrato, onde fica combinado o valor e o trabalho a ser feito. Chega lá no final, a pessoa recebe o dinheiro e acabou. Aqui no Brasil tem que assinar carteira, tem desconto disso e daquilo, e no final do mês se o valor era de R$ 1,2 mil, a empresa deposita R$ 900 por causa dos descontos e isso é muito difícil de explicar para eles.

Jean era cinegrafista no Haiti, mas em Florianópolis trabalha como voluntário na Haibra. A entidade sobrevive do bolso do próprio presidente, mas está precisando de ajuda.

— Começamos ajudando 10 pessoas e hoje ajudamos aproximadamente 80, está muito pesado para manter, por isso precisamos de auxílio — explica o vice-presidente.

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Os alunos que não faltam nas aulas levam para casa uma cesta básica por mês. Atualmente são 45 cestas doadas. A Haibra também tem aulas gratuitas de francês para brasileiros, que está com inscrições abertas, e deve abrir aulas de crioulo. A intenção é ampliar o repertório de comunicação de toda a comunidade.

Os interessados podem ir até a sede da entidade de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h. A associação possui cinco vagas para as aulas de francês e 10 de português. Também devem ser abertas 15 vagas para aula de português aos sábados pela manhã e aula de crioulo, que ainda não tiveram os horários definidos.

TRANSFORMAÇÃO NA COMUNIDADE

A haitiana Eledlime Ghom, 28 anos, mora há quatro na Capital catarinense com a irmã e um filho de dois anos. Quando chegou aqui, sofreu muitas dificuldades, principalmente por não conseguir emprego. Sem trabalho, a tarefa de colocar comida na mesa ficou ainda mais prejudicada. Há sete meses, após se matricular nas aulas de português na Haibra, além de aprender a língua do país onde mora, ganha uma cesta básica e todo o suporte que precisar para outras dificuldades.

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— É muito importante essa ajuda, antes fiquei nove meses sem emprego e estava muito ruim sobreviver. Agora, com a comida que recebo, já me ajuda muito — afirma.

A intenção da Haibra não é apenas ajudar os haitianos e todos os imigrantes, mas a comunidade em geral, principalmente as crianças. Por isso, segundo Jean, a entidade está tentando uma autorização para usar um campinho de futebol existente no bairro. A ideia é criar campeonatos esportivos e culturais para a criançada.

— Aqui no bairro tem muitas crianças e queremos colocar mais atividades para elas, queremos ficar mais perto das pessoas que vivem aqui — diz Jean.

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