Representantes de jornais do mundo inteiro escrutinaram durante dois dias em Londres o que parece ser uma contradição – as ameaças ao exercício do jornalismo em um país que é berço da liberdade de expressão, a Grã-Bretanha.

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Liderada pela Associação Mundial de Jornais e Editores de Jornais (WAN-Ifra, a sigla em inglês), a delegação agora prepara um relatório no qual deverá se posicionar sobre dois temas controversos na sociedade britânica: a nova legislação para regular os meios de comunicação e a reação das autoridades após as revelações de espionagem feitas pelo jornal The Guardian.

Visitas como essa já ocorreram em países onde o trabalho dos jornalistas corre riscos, seja por governos autoritários ou ameaças à segurança, mas até então era inédita uma missão à terra da rainha Elizabeth II, onde um debate sobre a regulação dos meios de comunicação divide acadêmicos, políticos, jornalistas e empresários. O foco das atenções da Wan-Ifra – que representa mais de 180 mil publicações em 120 países – é a polêmica criação de um órgão independente para o controle da ética da mídia.

O órgão, previsto por meio de uma Royal Charter (Carta Real), assinada pela rainha no ano passado, é fruto das recomendações de uma comissão instituída pelo governo britânico para investigar o escândalo dos grampos ilegais obtidos por jornalistas das empresas do magnata Rupert Murdoch. O funcionamento do controle levanta dúvidas, por exemplo, se a adesão das empresas se daria de forma voluntária ou se seria imposta.

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– Existem, sim, ameaças de restrições aos meios de comunicação, considerando que há um debate muito polarizado entre os políticos, celebridades e a mídia – observou o presidente da Associação Internacional de Radiodifusão, Alexandre Jobim, integrante da delegação.

Segundo o CEO da WAN-Ifra, Vincent Peyrègne, a missão coletou diferentes opiniões e constatou que há “sérias preocupações sobre a independência de um envolvimento político no processo (de implementação do órgão regulatório)” e também se a legislação “poderia potencialmente ser abusada para restringir a liberdade de imprensa na Grã-Bretanha e nos países do Commonwealth”.

A delegação teve encontros com membros do Parlamento, com a secretária de Estado para Cultura, Mídia e Esporte, Maria Miller, com editores das principais publicações britânicas, acadêmicos e organizações não governamentais como o grupo Hacked Off, que faz uma das principais campanhas em favor da regulação da mídia.

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Solidariedade ao editor

do jornal The Guardian

A delegação também expressou solidariedade ao editor do jornal The Guardian, Alan Rusbridger, convocado a depor em dezembro em uma comissão parlamentar sobre se os métodos usados nas denúncias de espionagem colocaram em risco à segurança nacional. A publicação foi obrigada a destruir materiais obtidos com o ex-técnico de inteligência Edward Snowden. Em uma das perguntas, um parlamentar questionou Rusbridger se ele “amava o seu país” (a resposta foi sim).

Segundo nota da Wan-Ifra, as mudanças pouco claras do sistema de autoregulação da imprensa britância, combinada com a “arrepiante intimidação” ao The Guardian está mandando uma mensagem negativa à comunidade internacional.

– O fato de estarmos aqui demonstra que há uma preocupação mundial com o que está acontecendo na Inglaterra. O mundo está olhando o que os britânicos estão fazendo – acrescenta Jobim.

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