A chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, atacou nesta terça-feira (20) os países críticos de Caracas, chamando-os de “classe de cachorrinhos simpáticos ao império”, depois de o chanceler peruano ter pedido na 47ª Assembleia Geral da OEA que se resolva a crise no país sul-americano.

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No início dos trabalhos da Assembleia, o ministro peruano das Relações Exteriores, Ricardo Luna, foi o primeiro a se referir à espinhosa questão da Venezuela.

Luna pediu ao governo de Nicolás Maduro que recue em sua convocação de uma Assembleia Constituinte, porque, com isso, estaria “criando um poder paralelo aos estabelecidos” pela Constituição bolivariana. Também reivindicou a libertação de presos políticos, que se ponha fim à repressão das manifestações, que se estabeleça um calendário eleitoral e que atenda à crise humanitária no país.

“Exijo respeito do Peru (…). Se eles fazem parte da classe de cachorrinhos simpáticos ao império, a Venezuela, não”, respondeu a chanceler venezuelana.

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O Canadá apoiou o pronunciamento do Peru, ressaltando que a convocação de uma Constituinte por parte de Maduro “degrada” os valores democráticos do país.

“Esse tipo de posição alimenta essa oposição violenta que se nega a participar de um processo democrático. Para que estão chamando, para a guerra? Exijo respeito dos submissos”, questionou a ministra.

Depois, houve nova guerra de palavras, desta vez com o chanceler da Costa Rica, Manuel González, que disse que a OEA não pode “permanecer silenciosa diante de um governo que suspende eleições a seu bel-prazer e age com total impunidade”.

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A chanceler venezuelana rebateu, acusando González de ser um “analfabeto político que não conhece nada sobre a Venezuela” e que, com sua posição, “convoca que se mantenham os protestos violentos nas ruas”.

Em sua intervenção, a chanceler equatoriana, María Espinosa, lamentou que não se tenha conseguido aprovar uma resolução que acompanhe “as iniciativas de diálogo promovidas pela Unasul e pela Celac”, foros dos quais a Venezuela participa ativamente e onde conta com aliados – entre eles o Equador.

– Nova votação?

A crise política na Venezuela dominou as reuniões da OEA realizadas no balneário mexicano de Cancún. Ontem, fracassou uma tentativa dos chanceleres de aprovar uma resolução sobre a crise.

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Os ministros não conseguiram reunir os 23 votos necessários nessa sessão entre as 34 delegações, mas ainda não se descarta que possam levar o texto para a Assembleia Geral. Lá as votações são por maioria simples de 18 votos.

Ontem, foram 20 votos a favor, cinco contra e oito abstenções.

O projeto pede ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro, que reconsidere a convocação de uma Assembleia Constituinte, garanta o respeito aos direitos humanos e dialogue com a oposição.

O chanceler mexicano, Luis Videgaray, anfitrião do encontro em Cancún, não descartou essa possibilidade.

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“O processo continua. A Assembleia Geral da OEA continua e é possível que esse tema (Venezuela) possa ser abordado novamente nos próximos dois dias”, disse Videgaray à Rádio Fórmula antes do início dos trabalhos.

– Expectativa –

Os deputados venezuelanos da oposição que se encontram na sede dessa Assembleia Geral se mantêm na expectativa de uma nova votação.

“A Assembleia pode retomar a questão da Venezuela e aprovar a resolução por maioria simples de 18 votos. Hoje (segunda), reuniu 20 votos”, declarou a repórteres o deputado opositor venezuelano William Dávila, após o fracasso de ontem.

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Uma fonte da oposição venezuelana explicou que não foi possível reunir os 23 votos, porque alguns dos 14 países da Caricom, que se beneficiam do petróleo venezuelano, haviam-se comprometido a votar em favor do novo texto e decidiram modificá-lo na última hora.

Para o diretor da Divisão das Américas da Human Rights Watch (HRW), José Miguel Vivanco, fica clara a “fraqueza da OEA” no debate sobre a Venezuela. Se não se aprovar um pronunciamento, será uma vitória para Caracas – completa.

“A OEA deve lançar um ultimato à Venezuela, que a faça ver que é considerada como uma ditadura e que se expõe a ser isolada e a ser tratada como um pária”, afirmou Vivanco.

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* AFP