As palavras simples do soldador Daniel Rech, de 53 anos, que encarou um microfone e deu o seu recado com mãos trêmulas e a voz embargada pela emoção, resumem bem o resultado da votação da sétima assembleia de credores da Busscar, nesta terça-feira, que indicou a provável falência da ex-fabricante de ônibus de Joinville.

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– Nosso voto (dos trabalhadores) é fraco perto dos outros. A gente quer que a empresa retome os trabalhos. Mas e se não der certo? Que garantias teremos? – questionou Daniel.

Na recuperação judicial, existem os credores que têm garantia real, os quirografários e os trabalhadores. Os de garantia real (que têm a garantia de um bem), neste caso, são os que têm a maior quantia a receber da Busscar, cujas dívidas somam R$ 1,6 bilhão. Por isso, o voto deles tem um peso maior na decisão.

Como Santander, BNDES e os tios dos sócios da empresa, os principais credores, rejeitaram o plano de recuperação apresentado pela companhia, os votos da classe trabalhista não tiveram força para reverter a situação.

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No caso dos trabalhadores, 53% votaram a favor do plano de recuperação da empresa. Boa parte dos esperançosos são os funcionários da Tecnofibras, única empresa do grupo que ainda permanece sadia e atuante no mercado, com mais de 400 funcionários.

Agora, o resultado da assembleia será encaminhado ao juiz Rogério Manke, da 5ª Vara Cível de Joinville. É ele quem vai bater o martelo e decidir, com base no relatório, o futuro da Busscar. O presidente do Sindicato dos Mecânicos, Evangelista dos Santos, tem esperança de que pelo menos a Tecnofibras seja preservada.

– O juiz deve homologar a decisão tomada em assembleia. Mas ele pode tomar outras decisões diferentes, como dar continuidade à Tecnofibras.

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A Busscar, que em seus tempos áureos chegou a empregar mais de 5 mil pessoas e a produzir 5,4 mil ônibus por ano, já teve a falência decretada pela Justiça. Em sentença publicada no dia 27 de setembro de 2012, o então juiz Maurício Cavallazzi Povoas classificou a administração da empresa como “uma balbúrdia”, em função de sérios problemas de gestão, ao decidir pela falência. A decisão, no entanto, foi anulada em novembro do ano passado.

Advogado se diz surpreso com resultado

O advogado que estava à frente das negociações como representante da Busscar, Euclides Ribeiro S. Júnior, ainda não perdeu as esperanças e pretende comentar o resultado após a decisão do juiz. Ele se disse surpreso com o resultado e garantiu que as propostas foram feitas de forma racional.

– O esperado era a aprovação da maioria, inclusive com os votos dos tios, que detêm mais de 50% da classe. No momento em que eles votam contrariamente, temos um total desequilíbrio nas relações entre todos os credores – avaliou.

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A assembleia, que durou aproximadamente cinco horas, foi marcada por embates entre o advogado que representa os tios e Euclides. Trabalhadores também tiveram a oportunidade de comentar a apresentação do plano de recuperação feito pelo advogado da Busscar e fazer perguntas. O sindicato pediu para aumentar a proposta de pagar aos funcionários credores R$ 5 mil mais 4% do crédito para R$ 9 mil. Porém, o máximo que a empresa ofereceu foi R$ 6 mil e os 4%.