Dois massacres foram responsáveis pela alteração radical na lei de porte de armas no Reino Unido. A primeira das tragédias aconteceu em Hungerford, uma cidade pacata a cerca de 80 quilômetros a Oeste de Londres, na Inglaterra.

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No dia 19 de agosto de 1987, Michael Ryan, armado com dois rifles e uma pistola, saiu caminhando pelas ruas de Hungerford e atirou aleatoriamente em quem cruzava seu caminho. Ele matou 16 pessoas e feriu outras 15. Todas as armas dele eram legais. Um ano depois, a lei foi alterada para tornar proibido o porte de semiautomáticas. Mas a grande mudança veio com Dunblane.

Na manhã do dia 13 de março de 1996, Thomas Hamilton entrou no ginásio da Escola Primária de Dunblane, Escócia e, em poucos minutos, matou 16 crianças com idades entre cinco e seis anos e o professor que tentou protegê-las.

As armas e a munição que ele utilizou eram legais. A pequena cidade foi o cenário do pior massacre em uma escola no país. A comoção gerada e a mobilização das famílias foi tão grande que a lei foi alterada em 1997. O Firearms Act proíbe o porte, compra e venda de armas no Reino Unido.

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Confira entrevista com o criminologista inglês Peter Squires

Diário Catarinense – Por que o massacre de Dunblane causou uma mobilização tão grande sobre as armas?

Peter Squires – O fator chave é a surpresa. As pessoas se perguntavam como um homem como Thomas Hamilton podia ter licença para porte de seis armas se ele já tinha sido investigado por seu comportamento. O fato de terem sido mortas tantas crianças com cinco ou seis anos de idade, em plena escola, foi muito chocante e ultrajante.

DC – E como esses fatos levaram a lei a mudar?

Squires – Familiares que perderam parentes no massacre começaram uma campanha chamada Snowdrop, que pedia o fim do porte de armas por civis. Um abaixo-assinado organizado pelo grupo conseguiu cerca de 700 mil assinaturas a favor da causa. Foi aberta uma investigação pública para averiguar os acontecimentos e foram propostas várias soluções para a questão das armas.

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DC – Quais soluções foram propostas naquele momento?

Squires – Uma delas era um maior monitoramento das armas. Ao invés disso, a opinião pública pedia pela proibição total das armas, e isso foi feito. A mobilização dos familiares deu origem à organização Gun Control Network, que continua debatendo a questão no Reino Unido até hoje.