Há cinco meses, uma idosa de 72 anos mantém o portão de casa permanentemente trancado. Desde que ela foi assaltada e agredida por dois homens armados com facas, em março, a moradora do bairro Brüderthal, em Guaramirim, só abre o cadeado para a entrada de funcionários ou parentes próximos.

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Até aquele dia, ela costumava deixar o portão apenas encostado enquanto plantava verduras no quintal. Agora, o medo faz parte da rotina dela e de outras vítimas que passaram pelo mesmo drama no Vale do Itapocu.

Para ela, o trauma se manifesta diante de pessoas usando capacete. No dia do assalto, os ladrões entraram de motocicleta no pátio, dizendo que queriam comprar peixes que a produtora cria numa lagoa nos fundos da casa.

Quando ela voltou com o pedido, os bandidos anunciaram o assalto, exigindo dinheiro, mas a idosa falou que não tinha. Ela foi imobilizada, arrastada no chão e levou chutes e pontapés enquanto a casa era revirada pelo comparsa. Eles também ameaçaram furar as mãos dela com uma faca, mas desistiram ao perceberem que não havia dinheiro no local.

A dupla fugiu levando cerca de R$ 50 que a idosa tinha na bolsa. “Quando vejo uma moto parecida com a dos bandidos passando na rua, lembro do que aconteceu comigo”, conta ela, que mora no local há mais de 40 anos. Por causa da agressão física, a idosa fez tratamento médico para se recuperar de uma costela quebrada e três trincadas. “Por quatro meses, senti dor quando andava e nem podia dormir de lado”, relembra.

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Traumas da violência

Para quem é vítima de assalto, muitas vezes o medo não termina quando o ladrão vai embora. O trauma gerado pela violência pode permanecer na memória por um longo tempo e causar mudanças de comportamento que podem prejudicar a rotina e a vida social.

De acordo com o psicólogo e professor Ronaldo Weingartner, da Uniasselvi/Fameg, em Guaramirim, estudos mostram que entre 15 e 20% das pessoas que sofreram ou testemunharam atos violentos ou situações de risco de vida desenvolvem um conjunto de sintomas caracterizado pela ansiedade, conhecido como transtorno do estresse pós-traumático.

– Quando a vítima relembra, ela revive o episódio como se estivesse ocorrendo naquele momento, com a mesma sensação de dor e sofrimento – explica.

Os sintomas incluem tensão e mal-estar em situações que lembram o sofrimento e até fuga do convívio social. “A maioria só procura ajuda dois anos após as primeiras crises. Outros preferem ficar no silêncio”, diz.

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