Era uma quinta-feira até então comum em Blumenau. O calor peculiar de fim de verão fazia as temperaturas passarem da marca dos 30 °C na cidade. Tudo estava normal, até que às 15h23min chega a primeira (e breve) informação: “tiroteio na Itoupava Central, tiros de fuzil, três vítimas”. Era o início de uma história que se transformaria no maior assalto de Santa Catarina, de acordo com a Polícia Civil, e que completou seis meses neste sábado.
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Os disparos, no fim das contas, eram parte da ação de um grupo criminoso com o objetivo de levar malotes de dinheiro que haviam acabado de chegar a bordo de uma aeronave no Aeroporto Regional de Blumenau. O saldo: três seguranças baleados, uma mulher vítima de bala perdida morta, R$ 9,8 milhões levados pelos bandidos, três suspeitos presos e apenas R$ 18 mil apreendidos.
Seis meses depois, incógnitas ainda marcam o assalto, mas o trabalho da Polícia Civil “vem evoluindo bastante”, de acordo com o delegado Anselmo Cruz, da Divisão de Roubos e Antissequestro da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic). Muitos detalhes a respeito dos trabalhos ainda são mantidos em sigilo absoluto, para evitar vazamento de informações e com o objetivo de não comprometer as investigações, porém Cruz destaca que há avanço nos trabalhos.
A apuração até aqui aponta que os envolvidos são de fora do Estado e que o assalto envolveu mais de 10 pessoas. O detalhe, conforme o delegado da Deic, é que a investigação da polícia requer um trabalho tão minucioso quanto o próprio planejamento da ação criminosa.
– É uma investigação completa, na mesma proporção da ação criminosa que foi muito bem elaborada. As pessoas não podem imaginar que um assalto que levou cinco meses para ser executado, como foi o caso do Quero-Quero, seja resolvido em três dias. Na mesma medida que a dos bandidos, o nosso trabalho também tem que ser planejado – explica Anselmo Cruz.
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Hoje, duas unidades policiais estão envolvidas na investigação. Além da Deic, há também equipes mobilizadas na Divisão de Investigação Criminal (DIC). Questionado sobre a possível ligação entre o assalto no Aeroporto Regional de Blumenau e o roubo no Aeroporto de Guarulhos (em que foram levados 718,9 quilos de ouro), Cruz afirma que não há um indício concreto, mas que a polícia não descarta uma possível ligação.
– Ainda estão sendo conferidos os indícios, mas nada que aponte algo gritante – resume.

Relembre o caso
No início da tarde de quinta-feira, 14 de março, bandidos fortemente armados com fuzis AK-47 e armas de calibre .50 (usadas em combate antiaéreo) assaltaram um avião de transporte de valores no Aeroporto Regional de Blumenau. Mais de 150 disparos foram efetuados na troca de tiro entre os criminosos e seguranças da empresa Brinks, que receberia os valores em terra. Por conta dos disparos, uma mulher morreu vítima de bala perdida: Edivania Oliveira, 22 anos.
Os bandidos entraram por um hangar do Quero-Quero. A suspeita da polícia é de que pelo menos oito criminosos participaram da ação. A quadrilha chegou ao local em dois carros blindados, um Dodge Journey e uma BMW X5. Nos veículos havia buracos por onde os agentes atiravam. Na fuga, os homens se deslocaram sentido Vila Itoupava e abandonaram os carros na Rua Erich Mayer.
Eles usaram uma falsa ambulância do Samu para despistar as autoridades e chegaram a ficar hospedados por pelo menos cinco meses em uma casa no Vale do Selke, entre Blumenau e Pomerode. Na manhã da terça-feira seguinte, dia 19 de março, a Polícia Militar localizou parte da quadrilha em um galpão no Morro do Baú, em Ilhota. Um foi preso no local e outros dois detidos enquanto tentavam fugir pela região rural do Arraial D’Ouro, em Gaspar. Houve troca de tiros, e nenhum policial ficou ferido.
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Também neste dia, a polícia fez uma operação no Centro de Itajaí após uma denúncia anônima de que parte do valor roubado durante o assalto estaria em um hotel. A PM foi até o local e encontrou o dinheiro, apenas R$ 18 mil, e alguns materiais ligados ao crime.
A estimativa é de que R$ 9,8 milhões tenham sido levados pelos criminosos durante a ação.